Participação das empresas é fundamental na construção de uma sociedade inclusiva
No dia 29 de janeiro de 2004, em Brasília, foi realizado um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. O evento ficou marcado por trazer grande visibilidade ao movimento, assim, a data foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.
O termo “trans” faz referência aos travestis, transexuais e demais grupos que possuem uma identidade ou expressão de gênero que não condiz com o que lhes foi designado biologicamente.
Segundo o Dossiê – Assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de apenas 35 anos. Das mulheres trans no Brasil, 90% acabam se prostituindo por falta de oportunidade no mercado formal de trabalho, em que o preconceito e o estigma acabam tornando-as extremamente vulneráveis e marginalizadas. Com 175 assassinatos de pessoas trans do gênero feminino, 2020 foi o ano com mais assassinatos de travestis e mulheres trans desde o início do levantamento no país.
Os crimes de ódio com motivações LGBTIfóbicas são fortemente influenciados pelo patriarcado e posições machistas. Travestis e mulheres trans devem ser consideradas e inseridas em políticas destinadas às mulheres cisgênero, como a proteção às vítimas de violências, políticas sociais e econômicas visando combater a vulnerabilidade social, física e econômica, sem nenhum tipo de hierarquia ou discriminação entre essas identidades.
Ainda segundo a pesquisa realizada pelo Dossiê, 88% das pessoas entrevistadas acreditam que as empresas não estão preparadas para contratar ou garantir a permanência de pessoas trans em seus quadros. É importante que as empresas compreendam que a contratação de pessoas trans é fundamental para a construção de uma organização diversa, plural e rica culturalmente, em que seus colaboradores diariamente, estarão praticando o respeito e a tolerância, valorizando as diferenças e entendendo a sua importância. Um ambiente diverso faz com que os colaboradores fiquem mais criativos e liberem seus potenciais.
A falta de preparo por parte da organização não pode ser utilizada como desculpa para não contratar, pois esse aprendizado pode ser desenvolvido em conjunto por ambas as partes através de uma relação aberta a fim de se construir um ambiente saudável e acolhedor. O uso de ferramentas de gestão, através dos Indicadores Ethos, com estratégias e práticas, podem conduzir a sua empresa na elaboração de uma política que contemple o acolhimento e a convivência de pessoas trans em sua organização, podendo se destacar como um modelo dentro de um mercado inexperiente.
O Dia Nacional da Visibilidade Trans tem um importante papel dentro da sociedade brasileira, uma vez que o Brasil é um país que necessita urgentemente corrigir a sua relação com a população trans a fim de superar esses maus números em busca de uma sociedade mais acolhedora, tolerante e diversa. Acreditamos que as empresas têm um papel chave nessa transformação cultural, assumindo a postura de agente social transformador, que pode e deve intervir nesta agenda.
Por: Lucas Carvalho, estagiário de Projetos em Direitos Humanos do Instituto Ethos
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