No dia 20 de fevereiro, é celebrado o Dia Mundial da Justiça Social
Criado em 26 de novembro de 2007, durante a 62ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, o Dia Mundial da Justiça Social só passou a ser comemorado em fevereiro de 2009. A data propõe uma reflexão acerca do combate à pobreza, discriminação e desigualdades, trazendo o compromisso de que todas as ações tomadas por governos e sociedades, devem ter como propósito a justiça social. O primórdio do conceito de justiça social vem de um momento da história, onde grande parte da população mundial não possuía acesso a direitos humanos elementares como alimentação, educação, moradia e segurança – a injustiça e a desigualdade socioeconômica e territorial imperavam – e em decorrência deste cenário de desconformidade, ao final do século 19, nasce o debate de como buscar pela austeridade social a nível global.
O conceito de justiça social nasce da necessidade de buscarmos um equilíbrio social e econômico em busca da promoção e garantias de direitos para a sociedade como um todo e não mais uma parcela dela, atuando como uma resposta às desigualdades históricas, estruturais e sistêmicas promovidas pela ausência de políticas públicas e pela manutenção de um mercado que se retroalimenta dessas desigualdades. Em consonância com o conceito de justiça social, encontra-se a “equidade”, que só pode ser alcançada quando houver a proteção e garantia de direitos para todos e todas, o combate e redução das desigualdades e a igualdade de oportunidades (John Rawls).
Para combater as desigualdades existentes em nossa sociedade e garantir a justiça social, é imprescindível o compromisso coletivo de todos os atores sociais (governos, organizações da sociedade civil, empresas, academia, entre outros) na construção de práticas e políticas que garantam direitos. A justiça social representa uma oportunidade para reforçar a necessidade de avançarmos nesse sentido, em especial, quando analisamos as responsabilidades de cada ator na construção dessa sociedade justa, igualitária, respeitosa e inclusiva, em especial, do terceiro setor, que desempenha o papel de conectar e dialogar com diferentes atores, dentre eles, com o poder público na construção de políticas públicas, estando próximo da sociedade civil e orientando as empresas no cumprimento da responsabilidade social. Desta forma, quando analisamos o terceiro setor, automaticamente o ligamos à responsabilidade social, ao combate à corrupção, a busca por direitos iguais e a procura por externalizar problemas complexos e diante disso, fica o questionamento: será que dentro das organizações da sociedade civil a justiça social está sendo realmente considerada?
Admitindo o cenário que vivemos hoje, é fundamental reconhecer a relevância e a responsabilidade que o terceiro setor possui em incidir nas agendas, exigir práticas e políticas, dialogando sempre com as demandas da sociedade e o quanto a procura por vagas de trabalho nesse universo tem crescido cada vez mais, motivadas pelo propósito, pela oportunidade de compartilhar sua vivência, bagagem e trajetória e construir melhores cenários. Nesse sentido, vale aplicarmos o conceito de justiça social olhando para dentro do terceiro setor, cuja gestão é central para os avanços nas pautas. Um dos preceitos da justiça social como colocado anteriormente, é a promoção de oportunidades iguais e em especial, que considere a realidade dos grupos minorizados, (grupos sociais marcados de forma histórica pela violência, segregação e marginalização) atuando sob a ótica da promoção das diversidades dentro dos espaços de trabalho. O trabalho decente é um dos caminhos para a redução das violências, para a promoção e garantias de direitos e considerando o tamanho do impacto social que o terceiro setor possui, é essencial que a geração de oportunidades iguais e o olhar para as diversidades estejam presentes dentro de sua composição também – uma vez que, segundo os dados do Mapa das OSC’s, mais de 13 milhões de pessoas possuem vínculos trabalhistas no terceiro setor, sendo comparado ao tamanho de algumas cidades no Brasil.
É dever das organizações sociais construir postos de trabalho diversos e inclusivos (em especial nas lideranças e espaços de tomada de decisão) atuando como mobilizadores do que esperamos dos demais atores sociais. Em muitos casos, os postos de gestão e liderança dos institutos e outras organizações advém da alocação de ex executivos privados que carregam consigo um histórico peculiar de gestão do setor privado. E aqui, vale traçar um paralelo no qual as pesquisas sociais, raciais e de gênero já nos revelam os perfis dessas lideranças empresariais, recaindo no padrão costumeiro hétero, branco, cis, entre outros recortes do privilégio. Logo, pode-se deduzir que os institutos formados por lideranças que vieram do setor privado, tendem a não serem diversos e representativos, em especial nos espaços de tomada de decisão, o que esbarra diretamente no propósito da organização – as organizações da sociedade civil não estão insentas de carregar consigo preconceitos e outras formas de discriminação.
Tendo que atuar em um cenário marcado pela emergência de diferentes grupos sociais, interesses distintos e um gargalo socioeconômico e territorial para superar, os institutos necessitam de representatividade em processos de tomada de decisão e gestão que tragam a vivência para dentro das construções coletivas e a voz ativa das pessoas que serão impactadas pelas políticas. Somente com as diversidades presentes nos espaços estratégicos, é que conseguiremos construir práticas e políticas mais coerentes e assertivas – esse é um dos discursos e provocações que impulsionam o desenvolvimento de práticas de inclusão das diversidades, logo é um discurso que também precisa estar presente na gestão das organizações da sociedade.
Com isso, aproveitando a efeméride do “Dia Mundial da Justiça Social” e a importância desse conceito no combate às desigualdades, na promoção de oportunidades e um olhar sensível e dedicado para determinados grupos sociais, este artigo tem como objetivo realizar uma provocação acerca da composição do terceiro setor e das gerações de oportunidade de trabalho, principalmente nos espaços de liderança, resultando na reflexão do quanto é preciso introjetar cada vez mais essas agendas dentro da própria gestão, para que possamos continuar atuando de forma relevante, significativa e mais próxima da realidade social.
É fundamental o mapeamento das organizações, aplicação de indicadores, sensibilizações internas, processos seletivos mais condizentes com a realidade brasileira a fim de trazer, cada vez mais, diversidades para dentro, ocupando espaços estratégicos – Isso tudo compõe o conceito aqui descrito. Por fim, a provocação trazida aqui procura dar luz ao tamanho do impacto que o terceiro setor possui na sociedade e o quão significativo e emblemático é construir uma gestão articulada com as demandas, mas também diversa e plural assim como a sociedade é.
Por: Carlos Rivas Gomez, estagiário de projetos de Integridade
Karoline Oliveira, assistente de projetos em Práticas Empresariais e Políticas Públicas
Lucas Carvalho, estagiário de projetos de Direitos Humanos
Marcela Greggo, coordenadora de projetos de Integridade
Scarlett Rodrigues, coordenadora de projetos de Direitos Humanos
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