Líderes de grandes metrópoles estão na África do Sul com o objetivo de compartilhar soluções urbanas para enfrentar o aquecimento global.    

Em Seul, na Coreia do Sul, um programa voluntário que estimula os moradores a não sair de carro por meio de recompensas reduziu o tráfego em 3,7% e diminuiu em 10% as emissões de gases do efeito estufa (GEE), melhorando a qualidade do ar na cidade.

Essa iniciativa pode parecer insignificante quando comparada às emissões globais de GEE, mas são justamente ações de pequena escala e fácil aplicação o foco do grupo conhecido como C40, que reúne algumas das maiores cidades do planeta para combater as mudanças climáticas.

O mais recente encontro do C40 começou nesta terça-feira (4/2), em Johannesburgo, na África do Sul, e tem como objetivo compartilhar e trocar experiências sobre ações climáticas que possam ser multiplicadas por todas as cidades.

“Essa é a era das [medidas] pequenas e disseminadas. O grande está morto. Trata-se de colocar nas mãos das pessoas o poder de se adaptar para ser resiliente. Não se trata de infraestrutura concreta massiva. Não se trata de transportar água pela China de uma parte que tem água temporariamente para outra que não tem. Trata-se de possibilitar a resiliência local”, observou Leo Johnson, analista da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), parceira do C40.

“O que queremos não são cidades inteligentes, mas cidadãos inteligentes. As cidades que prosperarão serão aquelas que desenvolverão melhor a capacidade de seus cidadãos, que atrairão os cidadãos mais capacitados e criativos e desenvolverão suas capacidades”, continuou Johnson.

A reunião do C40, que dura até o dia 6/2, é a quinta do grupo, que foi fundado em 2005 pelo ex-prefeito de Londres Ken Livingstone com o objetivo de auxiliar os gestores das cidades a liderar ações políticas e tecnológicas em nível local para enfrentar as consequências das mudanças climáticas, fazendo com que cada um compartilhasse seus êxitos e experiências.

As 18 cidades que começaram o grupo logo se transformaram em 63 e hoje já realizaram juntas mais de 5.000 ações para enfrentar as mudanças climáticas. Nos próximos três dias, elas focarão seus debates em três linhas: cidades adaptáveis e resilientes; a construção de cidades habitáveis; e o desenvolvimento socioeconômico de megacidades emergentes.

Na agenda do encontro estão o lançamento de novos dados para o relatório Ação Climática em Megacidades 2.0, um discurso de Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e uma sessão extra que servirá para que os dirigentes relatem suas ações nas redes do C40.

Christiana Figueres, que também está em Johanesburgo, ressaltou o papel fundamental que as cidades – que ocupam apenas 2% da massa de terra do planeta, mas usam dois terços da energia mundial – têm no combate aos efeitos do aquecimento global, e também a vulnerabilidade que elas apresentam diante do fenômeno, pois comportam a maior parte da população mundial e a maioria delas se localiza perto de regiões costeiras, mais vulneráveis, já que devem sofrer com tempestades mais intensas e frequentes e com a elevação do nível do mar.

“Cidades são um componente central da solução para as mudanças climáticas, tendo em vista que mais da metade da população global vive em áreas urbanas, as quais produzem cerca de 80% das emissões relacionadas à energia. Muitos prefeitos e governadores já têm planos práticos para reduzir as emissões e aumentar a resiliência urbana. Bilhões de pessoas em cidades e regiões precisam compreender as muitas oportunidades da economia de baixo carbono, assim como a necessidade urgente de se preparar para os impactos inevitáveis das mudanças climáticas”, disse Figueres.

“Estamos nos aproximando de 2015 e agora é a hora para que os líderes das cidades interajam de forma mais eficaz com governos nacionais para garantir a coerência desse planejamento e a colaboração na implementação de políticas e medidas climáticas. Apenas contribuindo acertadamente para a crescente onda de ações climáticas podemos atender às necessidades dos atuais cidadãos e às expectativas das gerações futuras”, concluiu a secretária executiva da UNFCCC.

Liderança brasileira

O encontro também será o evento oficial em que Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, passará a presidência do C40 para Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Paes comentou que liderar o grupo será um enorme desafio.

“Estou comprometido a continuar o grande trabalho que o prefeito Bloomberg já realizou e a desenvolver parcerias e iniciativas para promover o legado positivo que o C40 está criando a fim de combater as mudanças climáticas globais”, afirmou o prefeito do Rio de Janeiro.

“Também aprecio a oportunidade de apresentar as lições valiosas que o Rio de Janeiro está aprendendo na corrida até a Olimpíada de 2016. Com 70% da população mundial prevista para viver em áreas urbanas até 2050, nós, como cidades, estamos trabalhando com prazos mais rigorosos a fim de preservar todo o nosso futuro”, acrescentou.

Embora Paes tenha sido escolhido para liderar o C40, seu mandato no Rio de Janeiro gera opiniões divididas, relata o jornal The New York Times, pois, enquanto o prefeito busca combater problemas no trânsito, construir escolas e integrar favelas, a cidade continua enfrentando problemas antigos, como a desigualdade econômica e a corrupção. A população também reivindica ruas mais limpas e pavimentadas.

O ex-prefeito de Nova York, por sua vez, foi nomeado enviado especial das Nações Unidas para Cidades e Mudanças Climáticas. Por suas ações durante seu mandato no C40 e na prefeitura de Nova York, Bloomberg foi elogiado, sendo chamado por Paes de “ambicioso e realista”.

Em 2013, o ex-prefeito nova-iorquino gabou-se da qualidade do ar de sua cidade, que chegou aos melhores níveis dos últimos 50 anos, e da redução nas emissões, que chegou a 19% desde 2005.

Como enviado especial das Nações Unidas, Bloomberg quer fazer com que as cidades tragam soluções concretas para a conferência climática que acontecerá em Nova York, em 23 de setembro. Muitos países querem que esse próximo encontro seja o prazo final para que as nações industrializadas apresentem um plano de corte de emissões de GEE para depois de 2020.

“As cidades em todo o mundo estão agindo contra as mudanças climáticas e as cidades do C40 estão liderando esse caminho”, afirmou Bloomberg. “Como resultado, estamos tendo um impacto real e quantificável sobre as emissões de GEE. Embora os governos nacionais convoquem conferências para discutir esse sério problema, as cidades do C40 se focam em ações – e nos passos específicos que podemos dar para proteger o planeta e desenvolver nossas cidades.”

Por Jéssica Lipinski, do CarbonoBrasil

Texto publicado originalmente no site CarbonoBrasil.