Como determinar quem é jovem ou quem são os jovens hoje? Todo indivíduo intrínseco na sociedade é moldado pelos costumes, cultura e símbolos, se tornando fruto dessa construção coletiva social, reflexo da sociedade. A forma como os jovens são vistos e determinados, depende de como a sociedade os veem. A pluralidade dos indivíduos (por isso, devemos trabalhar com juventudeS), condições sociais, raça, gênero, orientação sexual, faixa etária, trajetórias, os interesses individuais e coletivos, os valores, ideais e oportunidades precisam ser levados em consideração ao caracterizar os jovens, o que intensifica o debate para além de uma “fase de transição para a vida adulta”.
Segundo a Pesquisa Nacional sobre Perfil e Opinião da Juventude Brasileira (2013), é possível observar o perfil das juventudes hoje no Brasil, onde grande parte dos jovens são de baixa renda (estratos médio e baixo). E, através de um recorte de raça e gênero, temos que a maioria dos jovens são negros e mulheres:
- Faixa etária: 47% dos jovens estão entre 18 e 24 anos, 33% entre 25 e 29 anos e 20% entre 15 e 17 anos.
- Gênero: 50,4% são mulheres e 49,6% homens.
- Raça/etnia: 60% se declaram negros (pretos e pardos), 34% brancos.
- Renda domiciliar per capita: 28% estão nos estratos mais baixos (até R$ 290,00/mês), 50% nos estratos médios e apenas 11% estão nos estratos mais altos (até R$ 1018,00/mês).
Cabe aqui dizer que a discussão sobre os jovens é recente na agenda pública e vem, cada vez mais, ganhando forças e novas interpretações em outros âmbitos sociais, rompendo estereótipos. Somente a partir do século XXI que as demandas de juventudes passaram a ser integradas na agenda governamental, muito por conta da discussão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Isso porque, a partir da consolidação do ECA, iniciou-se uma preocupação com os adolescentes em situação de vulnerabilidade social, especialmente no que tange a violência (situação de risco), o que levou a uma preocupação com os indivíduos que atingiam a maioridade (18 anos) e que não eram assistidos por nenhum instrumento. Somente a partir da movimentação da sociedade civil organizada e de uma conjuntura política, social e econômica favorável no Brasil (anos 2000), é que se permitiu a entrada dos jovens como pauta, possibilitando a construção de políticas direcionadas, enxergando-os como sujeitos de direitos. Isso levou a criação da Secretaria Nacional de Juventude (2005). Apenas em 2013 criou-se o Estatuto da Juventude, considerado um marco legal importante para a consolidação e garantia dos direitos dos jovens.
Segundo o Estatuto, são considerados jovens os indivíduos de 15 a 29 anos, que, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE, somam mais de 51 milhões de pessoas. Antes da crise de saúde pública, política e econômica em que o Brasil se encontra, o cenário das juventudes já era preocupante. Em 2019, mais de 10 milhões de jovens não completaram alguma etapa da educação básica, desses, 71,7% são negros, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD). Os principais motivos elencados para o abandono escolar foram a necessidade de trabalhar (39,1%), seguido pelo desinteresse (29,2%). Nesse sentido, cabe questionar quais as oportunidades estão sendo oferecidas a esses jovens, em que mais de um terço precisa abrir mão dos estudos para trabalhar.
A questão acerca das juventudes e o trabalho é extremamente sensível, e, apesar de existir no próprio estatuto da juventude o respaldo do direito “à profissionalização, ao trabalho e à renda, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, adequadamente remunerado e com proteção social” (seção III, artigo 14°), a realidade é bem diferente e mais complexa. Em uma conjuntura formada pelo capitalismo neoliberal, os jovens precisam lidar com novas tensões sociais, que intensificaram as problemáticas já existentes na sociedade, especialmente no que se refere aos marcadores sociais como educação e trabalho, que refletem as desigualdades.
Ainda com base na pesquisa mencionada anteriormente (2013), a maioria dos jovens economicamente ativos no Brasil que estão nos estratos mais baixos de renda, estão mais presentes no trabalho informal, sendo, em sua maioria, homens negros. Já os jovens de estratos mais altos de renda, são mais frequentes no trabalho formal, sendo, em sua maioria, homens brancos. Além disso, as mulheres representam os menores números de ocupação, seja no trabalho informal ou formal, quando comparado com os homens, o que reflete a invisibilidade do trabalho doméstico, ocupado mais por mulheres do que por homens e que não aparecem nos censos. Esse diagnóstico traz a urgência para se pensarmos em medidas de equidade de raça e de gênero dentro do mercado de trabalho.
A taxa de desemprego entre os jovens (18 a 24 anos) no final de 2019 era de 23,8% de acordo com o IBGE. Considerando que a pandemia fragilizou ainda mais as relações trabalhistas, em que as taxas de desemprego chegaram a 13,1% em junho de 2020, campanhas como o Não Demita permitiram assegurar empregos e fomentar a responsabilidade social por parte das empresas. O que foi fundamental no momento em que a crise expôs ao risco de morte uma parcela significativa da população, que já se encontrava em um estado de vulnerabilidade social, demonstrando o papel fundamental que as empresas possuem no enfrentamento desse cenário. Entender o jovem como um ser dotado de direitos vai além das questões normativas, a sociedade como um todo é responsável por assegurar à essa juventude oportunidades para o desenvolvimento do seu papel como cidadão, oferecendo os recursos necessários para que o processo de profissionalização seja acompanhado da valorização da educação e apropriação dos mecanismos de atuação social.
12 de agosto é o Dia Internacional da Juventude, celebrado através da resolução da Assembleia Geral da ONU em 1999, como resposta às recomendações levantadas na Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude (Lisboa, 1998), um momento de refletir sobre como tem sido posta em prática a responsabilidade social para com os jovens. Sua empresa tem entendido as demandas e necessidades específicas dos jovens? Reconhece a pluralidade e as trajetórias individuais? Possui políticas de inclusão, equidade e trabalho decente? Esse é o momento de promover espaços de participação e construção coletiva, promover inclusão e equidade, garantindo proteção social e preservação de direitos. É momento de refletirmos sobre como a sociedade tem visto os jovens e como temos nos responsabilizado por essas vidas.
E aí, o que a sua empresa tem feito pelos jovens?
Por: Barbara Altivo, estagiária de Práticas Empresariais e Políticas Públicas do Instituto Ethos, e Scarlett Rodrigues, analista de Projetos do Instituto Ethos.
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