A data pretende lembrar a cada ano que a busca da felicidade é “um objetivo humano fundamental”, conforme aprovado pela ONU, a pedido do Butão. 

Por Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos

Jigmi Thingley, primeiro-ministro do Butão, fala na ONU

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou em 28 de junho o Dia Internacional da Felicidade, data que será celebrada no dia 20 de março e que pretende lembrar a cada ano que a busca da felicidade é “um objetivo humano fundamental”.

O plenário das Nações Unidas, que aprovou a resolução por consenso, estabeleceu essa data como o novo dia mundial para celebrar “a felicidade e o bem-estar, objetivos e aspirações universais na vida dos seres humanos de todo o mundo”, algo que os Estados-membros devem reconhecer em suas políticas.

Segundo o texto, apresentado pelo presidente da Assembleia Geral, o catariano Abdulaziz al Nasser, é importante que a felicidade e o bem-estar guiem “os objetivos das políticas públicas” que os países desenvolvem.

A resolução anunciada nesta quarta-feira (4/7) também reconhece “a necessidade de se aplicar um enfoque mais inclusivo, equitativo e equilibrado ao crescimento econômico, algo que promova o desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza, a felicidade e o bem-estar de todos os povos”.

O texto ainda acrescenta a importância de que, no Dia Internacional da Felicidade, Estados-membros, organizações da ONU e demais organizações internacionais e regionais, assim como a sociedade civil, promovam atividades educativas e de conscientização sobre a data.

A aprovação da nova data comemorativa aconteceu depois que a Assembleia Geral reconheceu, a pedido do Butão, que a busca da felicidade é “um objetivo humano fundamental”. Na ocasião, os Estados-membros foram convidados a promover políticas públicas que considerem a importância da felicidade e do bem-estar em suas propostas de desenvolvimento.

Felicidade Interna Bruta

O Butão, país localizado na Cordilheira do Himalaia, entre a Índia e a China, ficou conhecido mundialmente pela criação do índice da Felicidade Interna Bruta (FIB), uma medida que avalia a felicidade dos habitantes a cada dois anos. A FIB importa tanto ou mais para o governo butanês do que o Produto Interno Bruto (PIB), que mede a produção anual de riquezas.

O termo foi criado pelo rei Jigme Singye Wangchuck, em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do seu país crescia miseravelmente. A criação da FIB assinalou o seu compromisso de construir uma economia adaptada à cultura do país, baseada nos valores espirituais budistas.

Até 1999, o país não tinha acesso a TV, nem a internet, nem a celular, porque o rei butânes achava que essas modernidades poderiam fazer com que seus súditos perdessem o interesse pelas tradições e pela religião do país.

A diferença do Butão é que as ideias convencionais de desenvolvimento não são aplicadas no país. O objetivo é que se crie um ambiente para o florescimento da felicidade. Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objetivo primordial o crescimento econômico, o conceito da FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material são simultâneos, complementando-se e reforçando-se mutuamente. 

Os pilares da FIB 

A FIB tem como pilares a promoção de um desenvolvimento socioeconômico sustentável e igualitário, a preservação e promoção dos valores culturais, a conservação do meio ambiente natural e o estabelecimento de uma boa governança.

O que se pode tirar desse exemplo do Butão é que, para que o desenvolvimento sustentável realmente aconteça por completo, deve-se atentar para as necessidades da sociedade, reduzindo os impactos sobre o meio ambiente ocasionados pela busca por um lucro imediato, pois isso acarretará problemas no futuro, impactando diretamente a sociedade.

Ao se colocar o desenvolvimento sustentável como um dos pilares da FIB, visa-se realmente o bem estar da população, não apenas agora como no futuro. A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é aquele capaz de “suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. E, quando as pessoas têm suas necessidades supridas, sem o risco de que faltarem um dia, o FIB tem um acréscimo.

Com esses quatro pilares como base, o Butão conseguiu sair da situação de pobreza extrema sem explorar seus recursos naturais. Seus índices de analfabetismo e de mortalidade infantil tiveram uma considerável queda, aumentou a procura por turismo na região e tudo isso trouxe um positivo impacto na economia. Isso nos faz questionar sobre como estamos conduzindo nosso desenvolvimento e nos alerta mais uma vez a repensá-lo.

4/7/2012