A hora é de saber quais empresas vão evoluir num modelo de gestão mais sustentável e quais serão extintas nos próximos anos.
O presidente do Center for Global Enterprise (CGE), Chris Caine, disse que o mundo (já) mudou e que hoje o grande questionamento no cenário dos negócios é sobre quem vai ficar para trás ou ser extinto. E destacou duas coisas que não podem ser esquecidas: “Novos modelos de negócios alternativos e ferramentas estão remodelando a corporação e redefinindo a empresa global. Administrar uma empresa, atualmente, requer novas práticas de gestão. Isso nos leva a experimentar o advento da empresa globalmente integrada (GIE, do inglês globally integrated enterprise), num ritmo aceleradíssimo”. Caine participou do encerramento da Conferência Ethos 360º, no último dia 23 de setembro.
Ele fundamentou essa mudança com dados de um estudo da Fortune Global 500 e do próprio CGE, o qual mostra que o número de empresas globais que operam na Ásia entre 2007-2013 cresceu 63%. Em comparação, no mesmo período, Europa e América do Norte registraram reduções de 42% e 29%, respectivamente. “As operações migraram, de modo geral, para as economias emergentes”.
A ascensão da GIE tem a ver com a transformação da indústria a partir da agregação das “camadas digitais”, o que gerou, por conta da conectividade global e dos API (interface de softwares), novas formas de criação de valor, captura de mercados e concorrência em segmentos que, até então, eram meramente físicos, como agricultura, energia, saúde, finanças, hotelaria e muitos outros. “O mundo digital também revolucionou a maneira como as empresas fazem negócios”, exemplificou Caine. “Se compararmos, por exemplo, o website Airbnb, fundado em 2008 e que hoje apresenta 640 mil locais de hospedagem e mais de 1 milhão de cadastrados em 180 países e 34 mil cidades, com as grandes redes de hotéis multinacionais, como a Hilton e a Marriott, concluímos que o Airbnb tem uma enorme estrutura sem construir um único edifício!”
Esse cenário, segundo Caine, oferece oportunidades ilimitadas a qualquer empreendedor. Ele apresentou um gráfico em que mostrou que, de um total de 80 companhias com valoração de US$ 300 bilhões, 70% são “empresas unicórnio”, ou seja, raras organizações que, em pouco tempo, recebem uma avaliação de US$ 1 bilhão. Na América do Norte, são 42 empresas unicórnios com avaliação de US$ 191 bilhões; na Europa, 13, pou US$ 29 bilhões; na Ásia, 25, por US$ 80 bilhões.
Caine mostrou também que os as plataformas de investimentos estão chegando a locais até então problemáticos, por causa da logística. “A plataforma digital está revolucionando a maneira de fazer negócios na África, por exemplo.”
Por tudo isso (e muito mais), Chris Caine conclui que o mundo mudou e que há uma compensação entre os cenários. “As economias emergentes registraram, nos últimos anos, uma participação majoritária no PIB mundial aliada à crescente participação no Fortune 500 e a explosão da classe média. Em contrapartida, nas economias desenvolvidas foi registrada queda da participação no PIB mundial, perda de terreno no Fortune 500 e a estagnação do crescimento da classe média”.
O presidente do CGE encerrou sua apresentação com conclusões inquietantes: as empresas multinacionais estão lutando para encontrar uma forma de integrar-se globalmente, enquanto as empresas privadas e públicas – e até mesmo os governos – ainda não compreendem plenamente as consequências da gestão global. Para complicar, há uma concentração excessiva de escolas de negócios nos países desenvolvidos, que não estão preparadas para esse novo cenário global de criação de valor, captura de mercados e concorrência e não há o necessário foco do ensino superior sobre os impactos da globalização aplicada. “As escolas estudam o que foi importante, o que deu resultado, mas ainda são incapazes de pensar o futuro”, lamentou.
Por Bruno Starnini Jr. (Envolverde), para o Instituto Ethos.
Foto: Fernando Manuel