Debate trouxe representantes do setor público e privado para dialogar na CE RJ

Trabalhar a diversidade é necessário em qualquer âmbito das relações, contudo, quais serão os desafios de trabalhar esta questão na área pública e na área privada? Este foi objetivo da mesa Por que uma agenda da visibilidade LGBTQIA? na edição do Rio de Janeiro da Conferência Ethos 20 Anos.

A necessidade de se manter uma coerência entre o discurso e a prática foi o norte da conversa liderada por Marina Ferro, do Ethos e que contou com a participação de Nélio Georgini, coordenador especial da diversidade sexual da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Vinicius Limoeiro, gerente de comunicação da Coca-Cola Brasil. Sob os dois pontos de vista é possível encontrar a contradição e o rompimento de lógicas heteronormativas. “Nós temos um líder que emite uma opinião que não é a que nos representa, mas precisamos trabalhar neste lugar e precisamos lidar com estas questões”, pontuou Nélio, ao se referir ao atual prefeito do Rio de Janeiro.

Ao compartilhar as iniciativas voltadas para a população LGBTI+ da Prefeitura do Rio de Janeiro, o coordenador destacou o processo do Trans + respeito. “A prefeitura do RJ fez um levantamento, um mapeamento das necessidades desta população junto aos serviços que a prefeitura oferece e entendemos que o emprego era a prioridade. Então, criamos o Trans + respeito e temos conversando com empresas para que possam acolher as nossas pessoas”. Apesar das adversidades, Nélio apresenta seu otimismo: “Estamos levando gestão para a pasta, que tem pouco recurso, mas a gestão é essencial para que possamos avançar com os recursos que temos”.

Oferecer visibilidade para este público é um caminho que a Coca-Cola Brasil acredita para atuação nesta agenda. “Partimos do princípio que se a pessoa tem preconceito é porque ela não entendeu o conceito, elas não têm repertório. Então, trabalhamos a questão pedagógica muito forte na Coca”, apresentou Vinicius. A Coca-Cola Brasil ficou reconhecida pela ação interna “Essa Coca é Fanta” e por colocar a dragqueen Pabllo Vittar em seus comerciais. Contudo, as ações foram além, com o investimento na Casa 1 (casa de acolhida) e o apoio ao clipe “Indestrutível” da Pabllo, que fala sobre o enfrentamento do preconceito. “Acreditamos que estamos em um momento importante. O brasileiro está discutindo coisas profundas que até pouco tempo não se discutia”, pontuou o gerente.

Contudo, trabalhar com essa agenda não é um processo fácil em nenhum dos dois setores, conforme pontuado pelos convidados. “Levamos muita pedrada internamente. Entendemos que este é um processo pedagógico também internamente”, compartilhou o gerente da Coca, além da própria reação da opinião pública: “Na questão da Pabllo, a gente viveu uma crise interna, descobrimos uma rede social muito conservadora, incluindo as fake news. Tivemos muitos feedbacks negativos também no SAC. Mas entendemos que este é um processo e estamos seguros da nossa decisão”, complementou.

Nas discussões, a questão da visibilidade e da essência nas ações também apareceram. “Somente a visibilidade não tira a gente da marginalidade, o que tira a gente da marginalidade é a representatividade”, finalizou Dandara Vital, mulher trans, que também trabalha na prefeitura do Rio.

 

Foto: Adilson Lopes