Mulheres negras deram voz aos dilemas da exclusão

Foi durante o painel “O país reivindica um corpo negro: diálogo de mulheres sobre caminhos para transformar uma democracia que convive com o racismo”, oferecido pela Natura, na Conferência Ethos 20 anos Rio de Janeiro, que Giselle dos Anjos Santos, historiadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) nas áreas de Gênero e Raça; Rachel Quintiliano, comunicadora, especialista em comunicação e saúde, e consultora independente; Rafaela Silva, pedagoga e consultora Natura no Rio de Janeiro; e, Sheila de Carvalho, coordenadora de projetos de práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos expuseram os porquês do quanto o racismo ainda é imperativo para o status quo de exclusão na sociedade brasileira.

“Como ter apenas 2 mulheres negras, que representam 27% de nossa sociedade, em cargos de liderança no Brasil?”, foi com essa indagação que Sheila, mediadora do painel, iniciou a discussão provocando as demais a se manifestarem sobre a questão.

“ Os negros e negras em movimento são aqueles que estão lutando para combater o racismo e por equidade há muitos anos, mas essa não é uma responsabilidade apenas destas pessoas, mas sim de todos que respeitam a democracia, pois quando não o fazem são corresponsáveis. Os racistas não são apenas aqueles que nos matam todos os dias, mas também os que deixam as coisas acontecerem”, observou Raquel.

Giselle por sua vez lançou o olhar sobre a atuação das empresas neste contexto. “Nos cabe pensar enquanto sociedade sobre o papel das empresas para enfrentar estes desafios. A fim de identificar os nós que estão impedindo essa ascensão”, pontuou.

Caso Marielle Franco
Após três meses do assassinato da vereadora, quando foi realizada a Conferência Ethos no Rio de Janeiro, a indignação e a busca por respostas ganhou voz em análises sobre a situação.

“Precisamos não olhar para o caso da Marielle sob a perspectiva de como ela foi impedida de continuar, mas sim como um ícone de força. Alguém que correu atrás de algo para o povo”, avaliou Rafaela.

“Quantas Marielles morreram hoje ou ao longo destes últimos 3 meses? É evidente que o caso da vereadora é emblemático e merece uma resposta, mas não é único. Tem um papel importante em destacar os desafios enfrentados pelas mulheres negras no país”, observou Giselle.

E, a comunicadora, Raquel, ampliou o olhar e observou a ocupação de espaços de poder por mulheres negras. “Infelizmente o assassinato de Marielle nos fez reagir, mas a porta ainda é meio aberta, uma brecha, na qual espero que muitos passem e ao alcançar o legislativo estejam preparados para enfrentar muitas outras dificuldades”, concluiu.

 

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Adilson Lopes