Estudantes mais pobres chegaram a perder até 50 dias letivos de aula

Os desacertos do governo federal na gestão da Saúde também se repetem na Educação. É o que aponta o boletim 22 da Rede de Pesquisa Solidária, para a iniciativa  “Covid-19: Políticas Públicas e as Respostas da Sociedade”.

“A pandemia da Covid-19 aprofundou diversas formas de desigualdades estruturais da sociedade brasileira, o que foi abordado em praticamente todos os 21 boletins da Rede de Pesquisa Solidária. Na Educação, a ineficiência e o despreparo dos governos, com destaque para a inação e omissão do governo federal, tornaram-se tão flagrantes quanto na Saúde, com resultados dramáticos”, aponta o documento.

Na pandemia, o Ministério da Educação não orientou nem difundiu metodologias bem-sucedidas de ensino à distância. Os estados definiram suas próprias estratégias e colheram resultados bem diferentes com as atividades escolares realizadas remotamente.

Observe alguns destaques:

“No momento em que as aulas presenciais se tornaram inviáveis por conta das medidas de distanciamento físico, os governos federal, estadual e municipal executaram políticas desencontradas e não conseguiram reduzir, o quanto poderiam, os prejuízos à aprendizagem dos mais de 30 milhões de estudantes entre 6 e 17 anos, dos quais cerca de 80% frequentam a rede pública”, aponta o boletim.

De fato, os resultados após seis meses de pandemia mostraram milhares de crianças sem atividades escolares, o acirramento das desigualdades regionais e socioeconômicas e, sobretudo, a falta de planejamento para o futuro da educação no país.

O que deveria ser feito?

Questões como o acesso à internet e a equipamentos para as aulas online são consideradas como empecilhos para os mais pobres. Mas, além disso, a resposta diferenciada dos Estados foi agravada pela inação do MEC. Especialistas apontam que caberia à instituição, pelo menos: 1) adotar uma proposta de metodologia de ensino à distância que considerasse diferenças regionais e socioeconômicas; 2) coordenar a difusão de metodologias bem-sucedidas de ensino à distância que poderiam ser adotadas por estados e municípios; 3) realizar parcerias, junto ao setor privado, para ampliar e garantir a conexão à internet para os estudantes, especialmente os de baixa renda e das regiões mais carentes.

No boletim 22, é possível acessar quadros com as diferentes medidas adotadas pelos Estados brasileiros e o que foi implementado peço Ministério da Educação. Também, os impactos gerados à aprendizagem e a diferença de proficiência das classes alta e baixa.

Como resultado, a Rede de Pesquisa Solidária aponta considerações a serem adotadas: “… governo federal, os estaduais e municipais precisam reagir rapidamente, com a implementação de novas políticas emergenciais, mais aderentes às realidades locais e regionais, baseadas na combinação de vários métodos de ensino à distância, de modo a ampliar o suporte para uma grande parcela de estudantes. É fundamental que as famílias mais pobres sejam o foco dessas políticas, o que pode exigir o acompanhamento diferenciado de estudantes, com a mobilização de profissionais da educação, da assistência social e até mesmo da saúde, relegados ao segundo plano durante a pandemia. Esforço especial deve ser desenvolvido na ampliação do acesso à internet no curto e médio prazo, pois o uso de meios mais eficientes de comunicação favorece e facilita os processos de aprendizagem”, explica do documento.

Acesse os boletins da Rede de Pesquisa Solidária em: redepesquisasolidaria.org

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Unsplash