Investimentos com critérios de sustentabilidade rendem dividendos atraentes e contribuem para o bem-estar social e o crescimento da economia.

Por Paulo Itacarambi*

Será que não existe outra maneira de ganhar dinheiro com investimento que não seja elevando juros e promovendo desemprego e concentração de renda?

Sim, existe e cada vez mais se torna uma opção inteligente, porque esse tipo de investimento sai do modelo ganha-perde e constrói um modelo ganha-ganha, isto é, o investidor é bem remunerado, a economia cresce com equilíbrio e a sociedade consegue melhorar seu bem-estar.

Um exemplo disso está aqui no Brasil. É o Fundo Itaú de Excelência Social (Fies). Foi constituído em 2004 e vem constantemente melhorando seu desempenho. A aplicação nesse fundo rendeu 24,6% em 2012. O acumulado entre março de 2012 e março de 2013 foi de 20,3%.

Como o fundo conseguiu esse resultado?

Compondo a carteira com empresas que adotam boas práticas de sustentabilidade e fazendo a gestão de forma competente, por especialistas do mercado, com metodologia baseada em critérios de sustentabilidade e acompanhamento do comportamento das empresas, e com apoio de seu Conselho Consultivo.

O objetivo desse fundo é gerar retorno no longo prazo e usa a carteira do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bolsa de Valores de São Paulo,  como benchmark.

Metade da taxa de administração do fundo é dirigida a projetos sociais de educação, que são escolhidos anualmente por meio de edital de concorrência. Os projetos são submetidos à apreciação de Conselho Consultivo.

Quanto aos repasses a projetos educacionais, entre 2004 e 2012 o Fies destinou mais de R$ 22,4 milhões a 131 ONGs, beneficiando 24 mil crianças e 2.583 educadores. Cada projeto aprovado recebe atualmente R$ 120 mil e mais apoio técnico.

O Fies é um dos exemplos de que o chamado investimento socialmente responsável (SRI, da sigla em inglês) cria valor para o investidor e para a sociedade, não apenas na forma de investimento social privado, mas como crescimento dos ativos que pode ser potencializado para as partes interessadas.

Interessante notar que, nos últimos anos, os fundos SRI no exterior tiveram desempenho inferior ao dos fundos tradicionais. No Brasil, ao contrário, nos últimos 24 meses, o ISE vem tendo um desempenho melhor do que o do Ibovespa (principal índice de desempenho de ações brasileiro) e o do IBX (índice que espelha o desempenho das 100 ações mais negociadas na Bolsa de São Paulo).

Isso mostra que, no Brasil, a questão de juros não precisa ser uma queda de braço, na qual um lado perde e outro ganha. É possível aos dois lados ganhar, desde que se combine o jogo.

E qual é esse jogo?

Certamente, não é o da especulação desenfreada de curto prazo. As nações hoje consideradas “desenvolvidas” e com melhor desempenho em índices de bem-estar social começaram a crescer com justiça social e equilíbrio ambiental depois da adoção de programas e políticas que privilegiaram o crescimento com distribuição de renda e oportunidades para todos, inclusive investidores interessados em alavancar projetos que contribuíssem para melhorar o desempenho das empresas.

O investimento pode ser posto a favor da distribuição de renda e do crescimento da economia e render dividendos atraentes. Basta que se adotem critérios de sustentabilidade.

O Fies é um belo exemplo, que poderia ser seguido pelos outros fundos de investimento: escolher empresas com práticas de sustentabilidade e adotar metodologia de gestão que leve em conta a sociedade e olhe o comportamento das empresas, para, dessa forma, poder antecipar problemas e diminuir o impacto negativo no valor das ações.

Há outros fundos socialmente responsáveis no país. O investidor pode escolher.

Por que é importante adotar critérios de sustentabilidade para decisões de investimento?

A sustentabilidade contribui para se estabelecer um consenso em que todos ganhem; elimina a ideia de que o investimento só renderá com o desemprego e a miséria; e, finalmente, os critérios de sustentabilidade podem fazer com que investidores, governantes e sociedades superem o axioma de que juro alto é sinônimo de inflação baixa. Na verdade, juro alto é sinônimo de concentração de renda e concentração de renda torna a economia insustentável e a sociedade, cada vez mais injusta.

O PIB não é tudo. O importante é o bem-estar social e esse “valor” ainda não está integrado ao Produto Interno Bruto.

Em artigo anterior, destacamos o resultado de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrando que, apesar de o PIB brasileiro de 2012 ter sido baixo, a sensação de bem-estar da população equivale a um crescimento econômico de 6%.

A consultoria Boston Consulting Group também fez pesquisa comparando PIB e bem-estar social em nível internacional. Concluiu que o Brasil foi o país que, entre 2006 e 2011, mais avanços fez na elevação dos padrões de vida da população.

Hoje (12/4), o jornal Valor Econômico traz notícia de outra pesquisa comprovando esse dado. O grupo Social Progress Imperative criou um índice de bem-estar social segundo fatores de nutrição, assistência médica, moradia e sustentabilidade ambiental. Ele foi aplicado em 50 países, inclusive no Brasil. A liderança é da Suécia e o Brasil ficou com o 18º lugar.

O país está no caminho certo ao buscar o crescimento com redução da desigualdade e erradicação da pobreza. Mas é preciso aperfeiçoar as políticas econômicas e os programas públicos de investimento, colocando o desenvolvimento sustentável como o objetivo central a ser alcançado.

O Brasil tem capital natural, criatividade e um povo empreendedor. O que falta é direcionar essa energia para que o esforço despendido crie de fato um diferencial relevante para o mundo. A marca Brasil pode e deve estar indelevelmente associada à sustentabilidade. Esse é o modelo em que todos ganham.

* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.