Esta versão da ferramenta reforça o papel da empresa como agente de transformação social e estimula negócios sustentáveis e responsáveis.

Por Paulo Itacarambi*

Nesta terça-feira (27/8), o Instituto Ethos apresentou para parceiros e patrocinadores a nova geração dos Indicadores Ethos, depois de um processo de trabalho de três anos, que envolveu 66 organizações e 578 pessoas.

Essa nova versão é uma “obra em progresso” e deve ser aperfeiçoada ao longo dos próximos anos. Mas ela representa um avanço em relação à geração anterior.

Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social foram lançados pela primeira vez em 2000. Essa primeira versão foi usada pelas empresas até 2006 e serviu para materializar o conceito e práticas de responsabilidade social empresarial (RSE) em empresas de diferentes portes, além de contribuir como apoio ao trabalho dos indutores de RSE, como a mídia, as universidades, grandes empresas e entidades empresariais. Ela também foi utilizada por diversos países para criar seus próprios indicadores, além de ter sido base para outras ferramentas.

Em 2006, foi lançada a segunda geração dos Indicadores, cuja principal inovação foi promover o engajamento da cadeia de valor das empresas em práticas de responsabilidade social empresarial. Essa versão dos Indicadores foi adaptada para a utilização pelas empresas de oito países latino-americanos, por meio do Programa Latino-Americano de RSE (Plarse). Em 2010, iniciou-se o processo que culminou com o lançamento da nova geração da ferramenta.

De modo geral, podemos dizer que as duas primeiras gerações cumpriram um papel central na incorporação da responsabilidade social empresarial na gestão, ajudando as empresas a se engajar no movimento de RSE e a entender o que a sociedade espera das companhias. Não é exagero afirmar que os Indicadores Ethos ajudaram a estabelecer uma agenda de mudanças nos negócios no que diz respeito à ética e aos impactos socioambientais. Eles também contribuíram para estabelecer o comportamento socialmente responsável como um padrão para se pensar a sustentabilidade nos negócios. Além disso, influenciaram os critérios usados pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da BM&F Bovespa para listar as empresas que dele participam, a elaboração da ISO 26000 e o desenvolvimento das diretrizes de relatórios da GRI.

Agora, o Instituto Ethos lança esta nova geração dos Indicadores para ajudar as empresas a dar um passo adiante no processo de transformação na maneira de fazer negócio, integrando os princípios da RSE com aqueles da sustentabilidade nas várias estratégias do negócio: marketing, finanças, gestão de pessoas, planejamento estratégico etc.

Para atingir esse objetivo de integração, foi preciso equilibrar expectativas de diversos tipos.

Superando obstáculos

O alinhamento das expectativas foi alcançado por meio de um processo multistakeholder de participação na formulação dessa nova ferramenta. Vários públicos de interesse foram acionados a cada passo do desenvolvimento dos novos Indicadores. Essas expectativas foram internalizadas na forma como essa ferramenta se apresenta para uso. Entre suas principais características, podemos citar:

– promoção da convergência com outras ferramentas e iniciativas. Ou seja, ao preencher os novos Indicadores, as respostas já saem no formato dos relatórios da GRI e do CDP, por exemplo;

– flexibilidade total para responder os questionários, com pré-formatações e perguntas simples, para ser de fato uma ferramenta de utilidade para os negócios;

– inclusão de diversas funcionalidades, como diagnóstico da gestão, planejamento, gestão de relacionamento com partes interessadas, base para relatórios de sustentabilidade, visibilidade para o esforço e o desempenho da empresa;

– orientação para implantação de processos de internalização do comportamento responsável e dos objetivos de sustentabilidade nas estratégias de negócio;

– questões tratadas em profundidade e adequadas tanto para empresas iniciantes na gestão da RSE e da sustentabilidade quanto para aquelas avançadas.

A nova geração de Indicadores Ethos reforça o papel da empresa como agente de transformação social, combinando desempenho com as mudanças a fazer, com foco mais voltado para a orientação do que para o reconhecimento e integração dos conceitos de RSE e de sustentabilidade.

Por isso, passam a se chamar Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis  e Responsáveis, entendendo-se “negócio sustentável e responsável” como sendo a atividade econômica orientada para a geração de valor econômico-financeiro, ético, social e ambiental, cujos resultados são compartilhados com os públicos afetados e cuja produção e comercialização são organizadas de modo a reduzir continuamente o consumo de bens naturais e serviços ecossistêmicos, visando a dar competitividade e continuidade à própria atividade e a manter o desenvolvimento sustentável da sociedade.

Como estão organizados

Nas versões anteriores, os Indicadores eram divididos em temas e subtemas. Na nova geração, além dessa divisão, o questionário passa a ser agrupado em quatro grandes dimensões: Visão e Estratégia; Governança e Gestão; Social; e Ambiental.

As dimensões se dividem em temas inspirados na norma ISO 26000; estes, por sua vez, se desdobram em subtemas e, posteriormente, em indicadores. Estes apresentam uma correlação com itens das Diretrizes para Elaboração de Relatórios de Sustentabilidade da Global Reporting Initiative (GRI) e do CDP, duas parcerias já firmadas.

Patrocinados pela Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), pelo Itaú e pela Shell, os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis vão permitir que a empresa faça seu planejamento buscando tanto o resultado para si quanto para os públicos interessados. É uma ferramenta que ajuda a empresa a contribuir para cidades mais sustentáveis e para o progresso do país por meio do seu negócio.

Com essa nova geração, os Indicadores Ethos pretendem ser um instrumento central da Plataforma por uma Economia Inclusiva, Verde e Responsável, lançada pelo Ethos em fevereiro de 2011 para orientar suas ações na década seguinte. A ferramenta contribui para o alinhamento entre as ações empresariais voluntárias e as políticas públicas.

Por isso, seu lançamento oficial será na Conferência Ethos 2013, durante uma atividade que vai contar também com a apresentação do Índice de Progresso Social, a cargo do “guru” da competitividade internacional, o professor Michael Porter.

* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.