Boa parte das metas sociais foram atingidas ou estão bem encaminhadas, mas o cumprimento das estritamente ambientais deixa muito a desejar.

Por Regina Scharf*

A dois anos do fim do prazo estabelecido para que os países-membros da ONU alcancem os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) acordados em 2000, boa parte das metas sociais foram atingidas ou estão bem encaminhadas (ao menos na média global, mas com grandes disparidades regionais). Entretanto, o cumprimento das metas estritamente ambientais deixa muito a desejar. As Nações Unidas lançaram em julho um relatório que faz um balanço dos progressos obtidos e dos desafios que persistem com base nos dados de mais de 27 agências internacionais. Versões em inglês, espanhol e francês podem ser obtidas on-line. Uma das áreas com ganhos mais significativos foi a da saúde. Entre 2000 e 2010:

Quanto à pobreza:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O gráfico mostra bem as disparidades regionais: proporção da população que vive com menos de US$ 1,25 por dia (1990, 2000 e 2010). De cima para baixo: África Subsaariana; Sul da Ásia; Sul da Ásia, excluída a Índia; Sudeste Asiático; Leste da Ásia (dados exclusivamente da China); América Latina e Caribe; Oeste da Ásia; e Norte da África.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

População desnutrida em países em desenvolvimento, em milhões de indivíduos e porcentagem do conjunto da população.

No meio ambiente, informações geralmente pessimistas, com algum alento aqui e ali. As emissões globais de dióxido de carbono continuam a aumentar – hoje elas são mais de 46% superiores ao seu nível em 1990. A cobertura florestal desaparece em ritmo alarmante e a sobrepesca está diminuindo a captura de espécies marinhas. A extensão de áreas protegidas tem crescido, mas a biodiversidade enfrenta uma onda crescente de extinções, com declínio de populações e sua distribuição. Entretanto:

Naturalmente esses indicadores, como todas as médias, escondem imensas disparidades regionais, entre diferentes grupos sociais ou entre homens e mulheres. Alguns exemplos:

A ONU também indicou que os países ricos têm reduzido progressivamente a ajuda dada aos países em desenvolvimento para que atinjam os ODM. Em 2012, esses recursos ficaram na casa de US$ 126 bilhões, 4% a menos em termos reais do que em 2011, total que, por sua vez, foi 2% abaixo dos níveis de 2010. Em compensação, os países em desenvolvimento estariam se beneficiando da redução dos encargos de suas dívidas e de um melhor acesso ao comércio internacional.

* Regina Scharf é jornalista brasileira radicada nos Estados Unidos. Sua cobertura de temas ambientais, iniciada em meados dos anos 1980, rendeu prêmios como o Reuters-IUCN (América Latina) e o Ethos de Jornalismo.

Artigo publicado originalmente no site da revista Página 22, em 1º de julho de 2013.

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Este texto faz parte da série de artigos de especialistas promovida pela área de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, cujo objetivo é subsidiar e estimular as boas práticas de gestão.

Veja também:
– A promoção da igualdade racial pelas empresas, de Reinaldo Bulgarelli;
– Relacionamento com partes interessadas, de Regi Magalhães;
– Usar o poder dos negócios para resolver problemas socioambientais, de Ricardo Abramovay;
– As empresas e o combate à corrupção, de Henrique Lian;
– Incorporação dos princípios da responsabilidade social, de Vivian Smith;
– O princípio da transparência no contexto da governança corporativa, de Lélio Lauretti;
– Empresas e comunidades rumo ao futuro, de Cláudio Boechat;
– O capital natural, de Roberto Strumpf;
– Luzes da ribalta: a lenta evolução para a transparência financeira, de Ladislau Dowbor;
– Painel de stakeholders: uma abordagem de engajamento versátil e estruturada, de Antônio Carlos Carneiro de Albuquerque e Cyrille Bellier;
– Como nasce a ética?, de Leonardo Boff;
– As empresas e o desafio do combate ao trabalho escravo, de Juliana Gomes Ramalho Monteiro e Mariana de Castro Abreu;
– Equidade de gênero nas empresas: por uma economia mais inteligente e por direito, de Camila Morsch;
– PL n° 6.826/10 pode alterar cenário de combate à corrupção no Brasil, de Bruno Maeda e Carlos Ayres;
– Engajamento: o caminho para relações do trabalho sustentáveis, de Marcelo Lomelino;
– Sustentabilidade na cadeia de valor, de Cristina Fedato;
– Métodos para integrar a responsabilidade social na gestão, de Jorge Emanuel Reis Cajazeira e José Carlos Barbieri;
– Generosidade: o quarto elemento do triple bottom line, de Rogério Ruschel;
– O que mudou na sustentabilidade das empresas, de Dal Marcondes;
Responsabilidade social empresarial e sustentabilidade para a gestão empresarial, de Fernanda Gabriela Borger;
Os Dez Mandamentos da empresa responsável, de Rogério Ruschel;
O RH como alavanca da estratégia sustentável, de Aileen Ionescu-Somers;
Marcas globais avançam na gestão de resíduos sólidos, de Ricardo Abramovay;
Inclusão e diversidade, de Reinaldo Bulgarelli;
Da visão de risco para a de oportunidade, de Ricardo Voltolini; e
Medindo o bem-estar das pessoas, de Marina Grossi.