O tema é importante porque, se as instituições financeiras avançarem na responsabilidade socioambiental e sustentabilidade, vão influenciar todo o mercado.
Por Paulo Itacarambi*
O Uniethos e a Deloitte realizaram em agosto um levantamento para verificar como está a responsabilidade socioambiental (RSA) nas instituições financeiras e fazer uma radiografia das instituições reguladas pelo Banco Central. O estudo foi apresentado nesta quarta-feira (4/9), durante a Conferência Ethos 2013.
Por que é importante ter um olhar sobre esse tema? Porque, se as instituições financeiras avançarem na RSA e na sustentabilidade, elas vão influenciar fortemente todo o mercado.
Por exemplo, os bancos de investimento participam de operações de fusões, aquisições e reestruturações de empresas. São investimentos de grande porte, com um potencial de forte impacto socioambiental e de risco para os investidores. Se esses bancos incorporarem os critérios de sustentabilidade, eles contribuirão para avançar em pelo menos três dimensões:
- reduzir os riscos dos seus investimentos;
- induzir os clientes a elaborar de políticas de sustentabilidade, pela exigência de critérios socioambientais para decidir os investimentos;
- criar mais oportunidades para negócios sustentáveis e restringir negócios não sustentáveis.
Os bancos de desenvolvimento, federais ou estaduais, assim como as agências de fomento, são instituições financeiras de apoio a políticas de governo, com papel importante no financiamento de planos de desenvolvimento sustentável. Esses bancos devem ter uma política de gestão de risco socioambiental exemplar e, ao utilizar critérios de sustentabilidade no financiamento das ações, acabam por abrir caminho para o desenvolvimento sustentável na prática.
Os bancos comerciais, também chamados de bancos múltiplos, possuem diversificadas carteiras de crédito, investimento e outras operações financeiras. A análise quanto a riscos socioambientais dos seus produtos não só é necessária para garantir melhor retorno aos investidores como também terá força indutora no comportamento do mercado.
Há também muitas operações financeiras que podem financiar negócios sustentáveis, mas que operam em escala reduzida. O financiamento imobiliário é uma das operações financeiras que mais crescem, mas ainda sem nenhum critério para análise do passivo ambiental dos terrenos, por exemplo, ou dos riscos socioambientais durante a construção.
Essas questões tornam-se mais urgentes para as instituições na medida em que o Banco Central está prestes a adotar duas resoluções que terão forte impacto tanto nas próprias instituições financeiras quanto no mercado.
As duas propostas devem se tornar realidade em breve e vão exigir:
- que as instituições do sistema financeiro nacional desenvolvam sua Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA);
- que essas instituições sigam as diretrizes gerais do Banco Central para elaborar e divulgar o relatório de sustentabilidade.
A quantas andam as instituições em relação a essas duas demandas do Banco Central, que em breve vão se tornar normativas?
O Uniethos, em parceria com a Deloitte, pesquisou os sites de 888 instituições que operam no país e observou um ligeiro avanço em relação a 2011. Entre os dez maiores bancos do país, nove possuem políticas de responsabilidade socioambiental e publicam relatórios de sustentabilidade. Em 2011, eram oito.
Nos bancos menores, 19% hoje têm políticas de RSA e publicam relatórios (eram 13% e 7%, respectivamente, em 2011). Nos bancos de desenvolvimento, 75% possuem política de RSA e 50% fazem relatórios, mesma porcentagem de 2011. Nos bancos de investimento, o resultado de 2011 também se manteve em 2013: 7% deles possuem políticas e produzem relatórios. Quanto às agências de fomento, nenhuma delas tem política nem produz relatório. As cooperativas de crédito é que apresentaram evolução: em 2011, das 37 existentes, nenhuma tinha política de RSA ou relatório de sustentabilidade. Em 2013, 11% implementaram políticas de RSA e 3% passaram a publicar relatórios de sustentabilidade.
O Uniethos e a Deloitte também enviaram, em agosto, um questionário para ser respondido on-line pelas instituições e 40 delas responderam.
Principais percepções a partir das respostas dadas
As instituições pertencentes ao chamado “consolidado bancário”, que reúne bancos múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento, bancos de desenvolvimento e cooperativas de crédito, publicam periodicamente relatórios de sustentabilidade.
As instituições do “consolidado não bancário” (agências de fomento, bancos de câmbio, sociedades administradoras de crédito, corretoras de títulos e valores mobiliários, agências de crédito ao microempreendedor e sociedades de crédito financiamento e investimento) não publicam periodicamente tais relatórios.
De modo geral, as instituições não mantêm comitê de risco socioambiental, não utilizam indicadores de sustentabilidade para cálculo da remuneração variável dos executivos e não inserem membros externos no comitê de sustentabilidade.
Por outro lado, a maioria das 40 respondentes tem processos de engajamento de partes interessadas, procedimentos formais de avaliação de riscos socioambientais de clientes para tomada de decisões sobre operações financeiras, um diretor responsável por políticas de sustentabilidade ou risco socioambiental e uma política de responsabilidade socioambiental.
A radiografia do setor financeiro mostra que está na hora de avançar, ampliando para aqueles que ainda não fazem e melhorando a qualidade daqueles que já fazem.
Já se sabe que a sustentabilidade traz valor aos negócios, mas quanto valor traz? Esse é também o tema que a Conferência Ethos 2013 está discutindo esta semana, em São Paulo: “Negócios Sustentáveis e Responsáveis: Oportunidades para as Empresas e para o Brasil”.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente do Instituto Ethos e diretor do Uniethos.