A contribuição das empresas para o desenvolvimento econômico e social do Brasil
As empresas são importantes agentes de transformação da sociedade, responsáveis por 2/3 da criação de riqueza e 3/4 da geração de empregos. Por isso, qualquer transformação da sociedade deve envolver as empresas, que, para exercerem o papel que se espera delas, devem ter uma ambição que vai muito além dos resultados financeiros. Têm que redefinir o significado de sucesso de forma que compatibilizem as finanças e o impacto nos temas sociais, ambientais e éticos. Temas esses que são preponderantes na construção da reputação, que é o maior patrimônio das companhias. Há importantes empresas com essa visão, embora não sejam maioria no universo corporativo.
Parte fundamental de nossa missão é contribuir com a transformação das empresas, aumentando o número daquelas que se comprometam com essas agendas. Entendemos que muitas empresas têm problemas de diferentes tipos e tamanhos. Mas qual postura esperamos delas nesse momento? Qual medida devem adotar? Primeiro, reconhecer publicamente o problema e assumir a sua parcela de responsabilidade. Segundo, demonstrar atitude e materialidade em prol da mudança. E, terceiro, implementar novas políticas e processos dentro de um eficiente sistema de integridade, com resultados concretos. Nosso papel é o de incentivar, apoiar e monitorar esse processo.
Observamos, atualmente, muitas empresas envolvidas com problemas de corrupção e, publicamente, apresentando pedidos de desculpas e assumindo compromissos. Entendemos que tal postura deve ser encorajada. Mas se faz necessário ir além. No âmbito interno, devem promover a transparência de suas informações e decisões, principalmente as que se referem ao poder público. A transformação pela qual passa a empresa deve ser materializada por meio de relatórios e dados públicos. A mudança passa também pela demissão dos executivos envolvidos diretamente nos casos em questão. Não somente pela exemplaridade aos demais funcionários, mas também pelo fato de que, diante de novas políticas e processos, tais condutas devem ser incompatíveis com o novo momento da empresa.
No âmbito externo, a partir de sua autotransformação, a empresa deve liderar mudanças em sua cadeia de valor, apoiando o desenvolvimento de programas de integridade nos fornecedores, realizando diagnósticos e incentivando-os por meio de vantagens econômicas e reconhecimento público. Da mesma forma, a empresa pode estimular o processo de mudança em seu setor econômico. Pouco adianta um sistema de integridade bem desenvolvido se as práticas do mercado e dos demais concorrentes persistem alimentando e privilegiando negócios ilícitos. Todos perdem. Portanto, a empresa deve atuar em prol de um ambiente de negócios mais ético e justo. Um caminho possível é por meio da elaboração de pactos setoriais de integridade.
Por fim, para que se evitem novos casos similares, como parte do processo de reparação à sociedade, é preciso que a empresa aproveite esse aprendizado e apoie o aprimoramento de políticas públicas de integridade. A constante melhoria do marco regulatório é chave para que as empresas, o mercado, os cidadãos e a sociedade em geral não tenham que passar novamente por esse doloroso processo. Avançamos muito na legislação e fortalecimento das instituições nos últimos anos, mas ainda é preciso avançar mais e aprovar medidas como: regulamentar os acordos de leniência e aprovar a lei do lobby.
Um dos problemas que o movimento da sustentabilidade empresarial enfrenta é o descrédito por parte de alguns segmentos da sociedade, motivado pelo descolamento entre a propaganda das empresas e suas práticas efetivas. Vivemos um momento no qual não há mais espaço para erros ou titubeios na tomada de decisão empresarial. É preciso mudar efetivamente comportamentos. As empresas que não o fizerem estão fadadas ao fracasso: quem viver, verá. A boa notícia é que o custo da transformação é muito menor do que se supõe e os resultados extraordinariamente maiores do que se pode imaginar.
Fundamentalmente esperamos um novo patamar de integridade nas empresas, que combine ações internas com sua influência na cadeia de valor e setor econômico. E a consciência da importância de seu papel na sociedade, como referência a todos que, de alguma maneira, com ela interagem.
Por Caio Magri e Jorge Abrahão, do Instituto Ethos
Foto: Conexão Lusófona