Relatório da Oxfam sobre o tema foi debatido da Conferência Ethos em São Paulo

No final de setembro, a organização social que trabalha com a temática da desigualdade social, Oxfam, lançou o relatório “A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras” e ele foi guia para uma discussão que contou com a participação de Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil e Oded Grajew, presidente do conselho deliberativo da Oxfam e presidente emérito e integrante do conselho deliberativo do Instituto Ethos.

Alguns hightlights da pesquisa, que teve como base dados da PNAD e da Receita Federal, foram apresentados. “Eles lançam luz na grave situação brasileira”, pontuou Grajew. A grande diferença racial e de gênero que se tem no país foi apresentada, destacando-se a questão salarial em que negros ganham apenas 57% do que ganham os brancos. Segundo a pesquisa, a equidade salarial de gênero só será atingida em 2047 e a racial, em 2089.

Os resultados em relação à renda também surpreendem. O relatório apresenta que apenas 10% da população detém 74% da riqueza do país. Destes 74%, um total de 48% das riquezas fica com apenas 0,1% da população e 6 pessoas detém a mesma riqueza que 50% brasileiros mais pobres. O acesso a serviços demonstra avanços em algumas áreas, como à luz, que é quase universal. Já o acesso à água e saneamento são fatores que ainda têm um longo caminho a avançar.

Entre as razões para este abismo, o relatório aponta que o sistema tributário brasileiro, que prioriza a taxação do consumo e não da renda, reforça as desigualdades ao penalizar os mais pobres e a classe média, ao invés das rendas mais elevadas, com destaque especial para os super ricos, que pagam quase nenhum imposto. “As desigualdades extremas precisam ser enfrentadas e somente com mudança nas estruturas conseguiremos trilhar esse caminho”, apontou Oded.

Entre as propostas estão a redistribuição da carga tributária, espalhar melhor as faixas de renda, a taxação do patrimônio e o combate à evasão fiscal. “Entendemos que o congelamento dos gastos sociais resulta em uma não-evolução dos investimentos, o que pode trazer prejuízos”, aponta a diretora executiva da Oxfam. O investimento em educação com atenção especial aos jovens negros e a expansão das ações afirmativas também são pontos que devem ser levados em consideração na construção de propostas. “A evasão escolar nos níveis mais avançados precisa de atenção. Quando você olha com mais cuidado para estes números, percebe que os jovens homens negros são os que mais estão fora da escola”, completa Maia.

Acesse o relatório completo aqui.

 

Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos

Foto: Clóvis Fabiano e Kleber Marques