Davos consultou sua rede para identificar e priorizar as tendências que podem influenciar mais o próximo ano e suas consequências no mundo.

 

Por Sérgio Mindlin*

O mundo à nossa volta está mudando mais rápido do que podemos acompanhar e isso não é só uma impressão de quem mora em São Paulo ou no Brasil. É uma maneira global de “sentir” as coisas numa sociedade conectada de um jeito impensável dez anos atrás. Tantas conexões apresentam enorme potencial, mas, ao mesmo tempo, expõem pessoas e instituições a enorme tensão.

Quais os desafios que temos de enfrentar como uma comunidade única que habita um planeta finito? Para prever algumas tendências do próximo ano, o Fórum Econômico Mundial, de Davos, consultou a sua própria rede, constituída por empresários, representantes da sociedade civil e especialistas em vários temas, para que eles identificassem e priorizassem as tendências que podem influenciar mais o próximo ano e as consequências delas no mundo.

O resultado dessa consulta foi resumido em dez megatendências principais que lançam desafios para governos, empresas e sociedades. Assim, em 2014, teremos de lidar com temas como:

E a sustentabilidade, onde fica?

Se analisarmos as questões pelos continentes, podemos resumir os desafios de 2014 a três principais: desemprego estrutural, crescimento das desigualdades e falta de valores das lideranças. Desse modo, não é exagero afirmar que os grandes desafios para 2014 são três produtos da crise financeira global iniciada em 2008.

No Fórum Econômico Mundial que ocorreu em 2009, logo em seguida à débâcle dos bancos, Klaus Schwab, fundador desse fórum, abriu o encontro lembrando que na mesma data ocorria em Belém, no Brasil, o Fórum Social Mundial, discutindo o mesmo tema: saídas para a crise. E que nunca como naquela ocasião o slogan do FSM valia para Davos: outro mundo é possível.

Schwab não fez nenhum discurso anticapitalista; lembrou apenas que as finanças, a produção e o consumo precisavam se reinventar, no caminho da sustentabilidade, para que novas crises fossem evitadas. Inclusive a crise climática, que ainda não mostrara todas as suas consequências para a humanidade. Pediu, na ocasião, que Davos e Belém unissem propostas em favor de um desenvolvimento sustentável que garantisse um futuro digno para toda a humanidade.

O que parecia uma luz no fim do túnel não passou disso. Em 2010, o velho discurso da retomada ortodoxa voltou e, diante da crise dos déficits públicos dos países europeus, foi a velha receita do FMI que prevaleceu. Com os resultados que nós brasileiros e latino-americanos tanto conhecemos.

Mas, a luz no fim do túnel permanece. O desenvolvimento sustentável continua sendo a alternativa para enfrentar ao mesmo tempo a crise social e a crise ambiental, com oportunidades para novos negócios – negócios sustentáveis.

Dinheiro não falta. Já comentamos aqui um estudo feito pelo banco Credit Suisse apontando que nunca o mundo produziu tanta riqueza: US$ 241 trilhões! O problema é que apenas 0,7% da humanidade concentra 41% dessa riqueza. Daí as guerras, o desemprego, a desigualdade.

Poderíamos aproveitar a próxima reunião em Davos e propor que os empresários brasileiros levassem para a pauta a discussão do desenvolvimento sustentável, incentivos e desincentivos adequados, recuperando a ponte para o FSM e para um novo mundo possível. De novo, não há saída individual, pois a Terra é a casa de todos nós.

* Sérgio Mindlin é presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.