O Banco Mundial está iniciando o primeiro projeto destinado a envolver o setor privado na busca por soluções para o trânsito da cidade de São Paulo.
Por Paulo Itacarambi, vice-presidente do Instituto Ethos
A área escolhida para desenvolver o Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa foi a região da Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul da capital, devido à alta concentração de empresas e pelo fato de ter o maior percentual de pessoas que viajam de carro sozinhas na cidade, de acordo com dados da Pesquisa Origem-Destino (OD), do Metrô paulistano. Numa outra pesquisa, feita em 2010, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) calculou que passavam por essa avenida 1.960 carros e 160 ônibus por hora. Isso gera não só congestionamento como também falta de vagas para estacionar na própria avenida, nas ruas próximas e nos estacionamentos da região.
Servem a Berrini 33 linhas de ônibus municipais, que transportam 150 mil passageiros por dia, e uma linha de trem da CPTM. Ônibus e trens andam lotados nos horários de pico, não animando os motoristas a trocar o carro pelo transporte público.
Então, o jeito é conformar-se com o ônibus cheio, o congestionamento e as horas perdidas no trânsito? Para o Banco Mundial, a resposta é não. Existem muitas alternativas, como bicicletas, transporte fretado, carona programada, carro compartilhado e teletrabalho, bem como a melhoria do transporte público. É possível encontrar soluções para o trânsito de São Paulo e as empresas têm um papel de destaque a desempenhar. Por isso, lançou o Projeto Piloto de Mobilidade Corporativa e convidou para participar as empresas do Centro Empresarial Nações Unidas (Cenu) e do World Trade Center (WTC). Nesses condomínios trabalham 6.000 pessoas e pelo menos outras 2.000 passam diariamente por suas lojas, restaurantes e escritórios.
Mobilidade corporativa
A primeira fase foi oficialmente lançada em 27 de março passado, com a realização de um seminário de treinamento que contou com a presença das empresas interessadas em participar do projeto. Nesse seminário, dois consultores da empresa norte-americana TMS explicaram detalhadamente como criar planos de gestão de transporte em âmbito corporativo e quais as alternativas de mobilidade disponíveis em São Paulo. Na ocasião, foram apresentados os parceiros do projeto, que são: o Caronetas, um site de relacionamento com foco em organizar caronas; o Bike Anjo, uma ONG que oferece guia para ensinar a andar de bicicleta em ruas movimentadas; a Zascar, uma empresa de compartilhamento de carros; a TC Urbes, que instala bicicletários em empresas; o Sindicato das Empresas de Transporte por Fretamento (Transfretur), que reúne as empresas de fretamento e turismo; e a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt), que orienta as empresas a adotar programas de teletrabalho, mostrando o impacto positivo dessa prática no trânsito, nos negócios e na vida do funcionário.
Esses parceiros foram escolhidos pelo Banco Mundial porque oferecem alternativas atraentes de mobilidade e podem ajudar no grande desafio do projeto, que é mudar o comportamento de ao menos parte das pessoas, convencendo-as a deixar o carro em casa.
O projeto encontra-se, agora, na segunda fase, que é a resposta, pelos funcionários das empresas participantes, de um questionário sobre os meios de transporte utilizados e as alternativas de mobilidade que eles gostariam de ter à disposição. Treze empresas participam dessa pesquisa, cujo resultado deverá ser divulgado até o final de julho.
Com base nessas respostas, cada uma das empresas poderá verificar quais as alternativas de transporte propostas pelo projeto que mais se ajustam às necessidades dos funcionários e estabelecer um plano de estímulo ao uso de pelo menos duas delas.
Entre setembro e outubro, outro questionário será respondido pelos funcionários das mesmas empresas, desta vez para averiguar qual impacto ou mudança o programa conseguiu promover no período.
Objetivos no longo prazo
Um dos objetivos do projeto é estimular a adoção, pelas empresas, de métodos de gestão de demanda de tráfego, algo já comum no meio corporativo dos Estados Unidos e da Europa. Como as empresas são polos geradores de tráfego, elas influenciam o trânsito de um bairro ou de uma cidade e podem contribuir decisivamente para a sua melhoria, com benefícios para a comunidade e para a própria empresa. Na Europa, as companhias adotam programas de mobilidade para convencer seus funcionários a usar menos o carro e, com isso, diminuir os custos com estacionamento, entre outros benefícios. Já em alguns Estados americanos há leis determinando que as empresas tenham um coordenador responsável por definir alternativas de transporte em substituição aos carros nos trajetos dos funcionários até o trabalho.
Neste projeto paulistano, muitas empresas participantes querem ir além dos limites da Berrini e replicar a ideia nas suas outras unidades espalhadas pelo país. Uma delas é a Laureate International Universities, rede global de instituições acadêmicas privadas que reúne 60 instituições no mundo e 11 no Brasil, como a Universidade Anhembi-Morumbi. A sede brasileira fica no Cenu e tem 57 funcionários. Mas, a Laureate já se prepara para levar esse programa a cada uma das onze universidades brasileiras da sua rede, mobilizando, entre funcionários e alunos, quase 130 mil pessoas.
Vale ressaltar que a participação das empresas no Projeto Piloto Mobilidade Corporativa é voluntária.
São 14 as empresas participantes, mas no Cenu e no WTC há 80 empresas instaladas, inclusive os escritórios centrais no Brasil e na América Latina das maiores multinacionais do mundo. Por que as outras 66 companhias ainda não aderiram ao projeto se já adotam práticas semelhantes em suas matrizes? O sucesso desta iniciativa certamente vai permitir que esse programa se generalize em todas as regiões da capital paulista e até em outras localidades. Afinal, melhorar o trânsito também é questão de responsabilidade social e de sustentabilidade.
13/7/2012