Por Jorge Abrahão*

Qual é o papel das empresas, dos governos e da sociedade como um todo em relação ao combate à corrupção e ao financiamento de campanhas políticas?

Em ano eleitoral, transparência e integridade também nos remetem a uma questão que é central para a prevenção e combate à corrupção: como fica o financiamento das campanhas eleitorais? Como as empresas podem construir  um ambiente de negócios mais íntegro? As empresas devem contribuir financeiramente com as campanhas eleitorais? Os milhões de reais doados contribuem ou colocam a democracia em risco? Qual é o papel de cada setor da sociedade no combate à corrupção?

Nos últimos dias, os jornais têm chamado bastante a atenção para as questões de corrupção. Um pouco por causa do julgamento do mensalão, que está acontecendo desde o dia 2 deste mês, outro tanto pela CPI do Cachoeira, envolvendo uma das maiores construtoras do país. E, sendo este um ano eleitoral para prefeitos e vereadores, sempre vêm à tona a questão de se ter uma campanha limpa e transparente e a discussão sobre o financiamento aos candidatos, que depende basicamente das doações feitas pelas empresas.

Com crise ou não, esse dinheiro sempre chega aos políticos e depois retorna às empresas por meio de obras e projetos bancados com recursos públicos. O interesse da população, portanto, fica submetido a interesses particulares. Esse processo leva a cidadania a desconfiar da política. Mas, sem política não se constrói a democracia.

É possível usar o poder financeiro para ampliar a participação democrática da sociedade nas decisões de interesse comum? O que significa para um processo eleitoral democrático o fato de uma empresa escolher um grupo de candidatos e aportar nele R$ 106 milhões, como aconteceu com a maior doadora para as campanhas de 2010?

Estão aí as eleições de 2012. O que fazer?

O papel das empresas

 O financiamento de campanhas por particulares, sejam pessoas físicas ou jurídicas, não é necessariamente um mal em si. Pelo contrário, ele pode ajudar a tornar o processo político mais democrático, se o dinheiro for encaminhado a candidatos que defendam propostas que visem resolver os grandes problemas do país.

De fato, o financiamento de campanhas é uma forma de pessoas e empresas indicarem ao eleitor um candidato que defenda determinadas propostas. O problema é que o dinheiro das empresas acaba por causar um desequilíbrio enorme entre as candidaturas e, além disso, o dinheiro dado a políticos precisa voltar – o famoso toma lá dá cá – fazendo com que toda a sociedade receba o impacto negativo desse processo viciado. Dessa troca de favores eleitoral advêm outras corrupções, das quais temos tido notícia. É uma situação que não engrandece o país.

A cartilha A Responsabilidade Social das Empresas no Processo Eleitoral – Edição 2010, lançada pelo Instituto Ethos antes da última eleição, trouxe em números o tamanho da importância das empresas nos processos eleitorais. Das 1.000 maiores empresas do país, 486 financiaram candidatos a cargos públicos com quantias que variaram de R$ 6 milhões a R$23 milhões e as demais contribuíram com quantias em torno de R$ 20 mil. A edição de 2012 dessa publicação será lançada ainda neste mês.

A velha pergunta ainda vale

A corrupção no Brasil aumentou ou o que aumentou foi o conhecimento que temos dela? Eu diria que aumentou o conhecimento que temos dela. A liberdade de imprensa (que é recente no Brasil pós-ditadura), a independência da Justiça e da Polícia Federal e a crescente exigência pela transparência das contas públicas aumentaram a visibilidade da corrupção, que passou a ser vista com intolerância por toda a sociedade e que vem sendo combatida por empresas, ONGs e outros setores. Esses são os novos fiscais da ética, que querem respostas e lutam para diminuir os atos de impunidade.

As empresas têm um importante papel na sociedade e podem ajudar no combate à corrupção e na criação de um ambiente mais transparente e ético. O Instituto Ethos mesmo tem ações voltadas para isso. Entre elas, vale citar as seguintes:

 

A sociedade brasileira, empresas incluídas, vem combatendo a corrupção e é possível afirmar que há resultados a comemorar, embora o caminho até a integridade ainda seja longo.

 * Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.