Concluo agora essa série de artigos com a experiência trazida pelo autor Adam Kahane na busca da solução dos problemas mais complexos e urgentes da nossa sociedade.
Tratei, nos artigos anteriores, da necessidade da tomada de consciência sobre a importância do amor e do poder na cocriação de transformações sociais e também dos dois lados que estes impulsos possuem, sendo um generativo e outro degenerativo.
O poder sem amor é imprudente, abusivo ou pior. O amor sem poder é sentimental, anêmico ou pior. Podemos ver ambas essas formas degenerativas em nosso mundo, em nosso trabalho e em nós mesmos. Escolher entre o poder e o amor é sempre um erro, afirma Kahane. Então, como podemos exercer o amor e o poder juntos na superação dos nossos maiores desafios?
Para responder a essa questão, Kahane inspirou-se no estudo de dilemas, de autoria de Charles Hampden-Turner, pesquisador da Universidade de Cambridge, que oferece a seguinte pista de como conciliar na prática o amor e o poder:
“O que faz os valores do amor e do poder parecer tão contrastantes é que nos são apresentados ao mesmo tempo. Na realidade, o tempo é usado para mediar esses contrastes.”
Nesse sentido, aprender a usar o amor e o poder juntos é similar a aprender a andar com as duas pernas. Não podemos andar em uma perna só, do mesmo modo que não podemos enfrentar nossos desafios sociais e ambientais mais sérios apenas com poder ou apenas com o amor. Mas, andar com as duas pernas não significa mover as duas pernas ao mesmo tempo, nem estar sempre estável e equilibrado. Pelo contrário, andar significa mover primeiro uma perna e depois a outra e estar sempre em um equilíbrio dinâmico.
Kahane afirma que é possível ver três estados quando tentamos reverter uma situação de imobilismo social. Quando nosso amor e nosso poder estão desconectados, caímos; quando nosso poder é mais forte que nosso amor, ou vice-versa, tropeçamos perigosamente; e quando conseguimos nos equilibrar e alternar o uso do poder e do amor, andamos.
É preciso continuar caminhando para frente, temos de ser capazes de nos manter em pé, de nos autocorrigir. Precisamos ser capazes de evitar ir tão longe com nosso poder a ponto de perder contato com nosso amor, ou tão longe com nosso amor a ponto de perder contato com nosso poder. Isso requer ampliar nossa consciência sobre e perceber como estamos exercendo nosso poder e nosso amor e com que resultados.
Como aprender a caminhar com poder e amor para as transformações sociais que tanto esperamos e precisamos? O caminho é longo, o terreno é irregular, não há trilha e não existe mapa. Precisamos de companheiros nessa jornada, mas ninguém pode abrir o caminho por nós. Precisamos de nossas duas pernas e de pôr um pé diante do outro.
Precisamos caminhar para frente.
Por: Fábio Risério, sócio diretor da Além das Palavras, consultoria que atua no engajamento estratégico dos temas de Integridade e Sustentabilidade nos negócios e professor das disciplinas de Ética Empresarial e Negócios e Organizações Sustentáveis na FDC, FIA e PUC-Campinas.
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