basf-thiagolopesConferir valor monetário aos impactos positivos e negativos ajuda empresas a incluír a sustentabilidade em suas decisões.                                                            

A sustentabilidade se redefine de forma dinâmica no setor empresarial.  Antes relegada a departamentos isolados, hoje está no cerne estratégico das grandes empresas, que perceberam que o olhar para o tema garante a perenidade dos negócios e lucratividade ao longo do tempo. Este enraizamento apresenta para as organizações desafios diários.

Alguns deles foram apresentados no segundo dia (23/9) da Conferência Ethos 360° 2015, no debate Basf Oferece “Direcionando o Portfólio de Produtos por Meio da Sustentabilidade’. O painel contou com Dirk Voeste, da Basf, Luciana Villa Nova, da Natura, e Tom Beagent, do PwC no Reino Unido.

Na indústria química Basf, a gama de produtos é extremamente diversa. Ela vai desde películas para vidros automotivos aos itens agrícolas, e esse é um dos pontos mais complexos a ser superados. Para enfrentá-lo a empresa estabeleceu uma metodologia que funciona para todos os produtos, a partir da análise da cadeia de valor. “Procuramos  o ponto-chave da decisão de sustentabilidade, se será na redução de emissões de poluentes, na geração de resíduos ou em outro ponto. Na fabricação de cimento, por exemplo, criamos processos com menor consumo de água”, explicou Dirk Voeste, vice-presidente de Estratégia de Sustentabilidade da empresa.

A criação da metodologia incluiu wokshops e diálogo com os departamentos da empresa e fornecedores. “Nessas discussões, pudemos saber o status de cada um na cadeia de valor. A avaliação procura o benchmark. Se o produto é uma tinta, aquela com solvente à base de água é mais sustentável, embora não seja mais uma inovação, porque isso já é padrão no setor. Mas, se estamos num país onde o tradicional são os solventes à base de químicos, então o solvente à base de água é uma melhoria”, comentou o diretor.

Outro exemplo de preocupação ambiental surge na empresa Natura. Nela, a preocupação com a sustentabilidade nasce junto com os produtos. “Todos são desenvolvidos com mensuração de impactos e com o objetivo de reduzir os negativos e ampliar os positivos”, relatou Luciana Villa Nova, responsável pela área de Gestão e Planejamento Estratégico de Sustentabilidade.

A executiva da Natura conta que a empresa lançou recentemente uma nova visão, segundo a qual pretende gerar, até 2050, impactos positivos em todas as suas etapas. “Temos 35 anos para pensar em como fazer isso, mas queremos, até 2020, já ter todos os nossos impactos mensurados e monetarizados. Pretendemos, ao colocar um produto no mercado, saber tudo que ele gera de bom e de ruim”, disse.

Tom Beagent, diretor da consultoria PwC no Reino Unido, trabalha há 15 anos ajudando empresas a levar sustentabilidade aos seus negócios e disse que, infelizmente, exemplos como o da Basf e da Natura são exceções. “As empresas ainda não estão fazendo bem a sua parte”, ponderou.

O cenário mundial evoluiu de tal forma que  as empresas não precisavam se preocupar, já que a economia cabia em nosso ecossistema. “Agora ela não está cabendo mais na biosfera e na sociedade humana. Chegou ao limite do ecossistema planetário”, alertou.

A guinada de comportamento envolve a valoração dos impactos. Para ilustrar isso, Beagent contou a história de uma mineradora que encontrou uma mina num país do sul da Ásia e precisava definir se utilizaria a estrada já existente, que circundava as comunidades que lá havia, para escoar o minério. A outra opção seria a construção de uma nova estrada em linha reta, passando longe das comunidades.

“Nesse caso, a conta da valoração envolve aspectos negativos e positivos. Na estrada já existente haveria, por exemplo, o aumento de acidentes e da poluição para a população local, ambos os aspectos negativos. Mas resultaria também na criação de empregos e na geração de renda como  aspectos positivos. A construção da nova estrada criaria ainda mais empregos, mas desmataria. Se fossem usados os indicadores tradicionais, a análise seria outra”, explicou.

Beagent lembrou ainda dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), como uma ferramenta importante para a mudança de paradigma no desenvolvimento. “Para crescer, os negócios precisam de pessoas e de recursos naturais. Não dá para dissociar. É um desafio conjunto, que inclui os governos e sua função regulamentadora”, concluiu.

Por Alice Marcondes (Envolverde), para o Instituto Ethos.

Foto: Thiago Lopes