Para o chefe da ONU, o recurso está se esgotando em função do “consumo excessivo vampírico e uso insustentável”

No Dia Mundial da Água, 22 de março, durante a abertura da Conferência da ONU sobre a Água, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou que o fornecimento de água, que é vital para a humanidade, está ameaçado.

Para o chefe da ONU, o recurso está se esgotando em função do “consumo excessivo vampírico e uso insustentável”, além dos riscos que sofre pelo aquecimento global.

Ao ressaltar que o ciclo da água foi quebrado, ecossistemas destruídos e lençóis freáticos contaminados, ele alertou que quase três em cada quatro desastres naturais estão relacionados à água.

Gerenciamento de água

Na avaliação do secretário-geral, quatro áreas que devem ser priorizadas para acelerar os resultados e mudar o cenário atual. Ele explica que existe uma lacuna na gestão da água, e os governos devem desenvolver e implementar planos para garantir o acesso equitativo ao recurso.

O chefe da ONU também pediu investimento massivo em sistemas de água e saneamento com base no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de número 6 (água potável e saneamento), que prevê estímulos, reformas e financiamento.

Além disso, ele afirmou que a ação climática e a sustentabilidade da água no futuro são “dois lados da mesma moeda”.

Citando o Pacto de Solidariedade pelo Clima, sugerido na reunião do G20, Guterres lembrou que os países com maiores emissões de gases de efeito estufa devem agir, bem como as nações mais ricas devem mobilizar recursos para apoiar os países emergentes na transição para uma economia de baixo carbono.

Políticas integradas para evitar crise

Já para o presidente da Assembleia Geral, Csaba Korosi, a água é um bem comum global que precisa de políticas públicas e legislação, bem como financiamento para tratar a questão.

Para ele, é preciso haver um acordo sobre o gerenciamento da água e formulação de políticas integradas de uso da terra, água e clima que ajudem no progresso de ações de mitigação e adaptação climática.

Korosi disse que as autoridades devem se comprometer em garantir o acesso à água potável e saneamento a todos, como um direito humano e uma questão de dignidade.

46% da população global vive sem acesso a saneamento básico

Em um planeta com 8 bilhões de habitantes, 26% da população global não tem acesso à água potável, ou 2 bilhões de pessoas. Cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem serviços de saneamento seguros, o equivalente a 3,6 bilhões.

Os números são do novo relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que foram apresentados na abertura da Conferência da ONU sobre a Água.

Oportunidade para garantir água, saneamento e higiene

Em paralelo ao evento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) reagiram aos dados divulgados na terça-feira (21) sobre acesso à água potável e serviços de saneamento.

As entidades alertam que anualmente, pelo menos 1,4 milhão de pessoas, muitas delas crianças, morrem de doenças preveníveis causadas pela baixa qualidade da água e higiene.

OMS e UNICEF explicam que as consequências sociais e econômicas de serviços inadequados de água e saneamento também são preocupantes: pessoas adoecem, crianças ficam fora da escola, especialmente as meninas, e comunidades inteiras podem ser deslocadas pela escassez de água.

As agências da ONU querem mais ação das autoridades para fortalecer os sistemas de saneamento e desenvolver formas de financiar políticas públicas nesta área.

Água: bem comum e não uma commodity

Em nota, relatores de direitos humanos* da ONU destacam que a água é “um bem comum e não uma commodity”. A mensagem lembra que o recurso é um direito e deve ser gerenciado desta forma, sem que um viés mercadológico dificulte ou impeça o acesso equitativo.

Eles adicionam que a Conferência da Água da ONU é uma oportunidade para ouvir e se envolver com os defensores dos direitos humanos, especialmente os especialistas desta questão.

Os relatores defendem que em vez de restringir a liberdade de expressão e associação dos defensores, e até mesmo criminalizá-los, é hora de garantir mais participação, especialmente para mulheres e jovens, em todas as discussões, bem como a governança da água mecanismos nos níveis internacional, nacional e local.

 

Por: ONU Brasil

Foto: Pexels