Lançado no país nesta quinta (24/10), o Sistema B apoia e certifica empresas que estejam focadas em resolver problemas sociais e ambientais.
No último dia 24 de outubro, em evento realizado em São Paulo, foi lançado no Brasil o movimento global Empresas B (ou Sistema B), que reúne companhias dispostas a usar a força de seus negócios para resolver problemas sociais e ambientais da atualidade.
Criado em 2006, nos Estados Unidos, pela organização sem fins lucrativos B-Lab, o movimento Empresas B já reúne 850 companhias em 28 países, sete delas brasileiras: Ouro Verde Amazônia, CDI, Abramar, Maria Farinha Filmes, Aoka e Kapa+EcoSocial.
O evento de lançamento realizou-se na sede do Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, em São Paulo, e contou com a participação de Jay Coen, cofundador da B-Lab, que deu as boas-vindas aos participantes. Nela, Coen ressaltou a filosofia das Empresas B: gerar prosperidade durável e compartilhada, porque as futuras gerações serão diretamente afetadas pelas ações dessas empresas e porque o propósito maior delas não é serem as melhores do mundo, mas serem melhores para o mundo.
Em seguida às boas-vindas de Jay Coen, houve o debate “Ecossistema B”, com a presença do economista Ricardo Abramovay, professor da FEA-USP, de Daniel Izzo, sócio-fundador da Vox Capital, de Paulo Bellotti, sócio da MOV Investimentos, de Guilherme Leal, cofundador da Natura, e de Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos. O moderador foi Caco de Paula, diretor da multiplataforma Planeta Sustentável, da Editora Abril.
A pergunta que acendeu o debate – e não encontrou resposta definitiva – foi: qual é o cenário capaz de criar oportunidades e desafios que façam as empresas se interessarem por essa nova maneira de fazer negócio?
Ricardo Abramovay pontuou que, enquanto as empresas não forem guiadas pela ética, será impossível mudar a maneira de fazer negócio e construir uma economia a favor do social. Para Daniel Izzo, o principal desafio é introduzir a visão de longo prazo na estratégia das companhias, pois os benefícios sociais têm maturação longa e seus resultados não são imediatos.
Guilherme Leal lembrou que a essência das empresas não vai mudar se o comportamento do consumidor não se transformar. “A sociedade civil precisa ser mais participava para que as verdadeiras transformações ocorram”, enfatizou ele.
Para Jorge Abrahão, presidente do Ethos, as empresas precisam desejar estar no Sistema B pelas oportunidades que ele traz e também pelas transformações sociais, que são necessárias: “Um jeito diferente de fazer negócio é também uma maneira de atender a voz das ruas; oferecer produtos e serviços que se preocupem em causar bons impactos sociais e ambientais tem tudo a ver com a sociedade melhor que todos nós queremos construir”, finalizou Abrahão.
Certificação
Quem traz a iniciativa do Sistema B ao Brasil é o Comitê para Democratização da Informática (CDI), que tem por objetivo usar a tecnologia para capacitar jovens de baixa renda. Com a parceria da Fundação BMW, do Instituto Cidadania Empresarial e do Instituto Arapyaú, o CDI vai fazer a ponte com a B-Lab para certificar empresas brasileiras dentro do Sistema B. Para isso, elas precisam demonstrar o impacto positivo na economia, no meio ambiente, na comunidade e na maneira de tratar os funcionários.
Numa escala de 0 a 200 pontos, obtém a certificação da B-Lab quem somar no mínimo 80 pontos. Qualquer empresa pode participar. O custo da certificação varia de acordo com o faturamento. Das empresas certificadas em todo o mundo, 80% são negócios de pequeno e médio porte.
O questionário está disponível no site www.sistemab.org.
O processo de certificação é realizado nos Estados Unidos e auditado pela Deloitte. A empresa que obtiver a pontuação ganha um selo que vale por dois anos. Depois de receber o selo, a empresa assina um termo de compromisso e altera seu estatuto para reforçar o compromisso em considerar os impactos socioambientais de suas operações antes de tomar decisões estratégicas. Quem descumpre esse termo perde a certificação e não pode renová-la ao final dos dois anos de validade.
Afinal, o que é uma empresa B?
É uma empresa que opera somente pelos mais altos padrões socioambientais e de transparência. Por estatuto, as decisões adotadas precisam atender todas as partes interessadas, inclusive acionistas, mas não primordialmente. Assim sendo, a empresa B redefine o sentido de sucesso no negócio e muda o paradigma do mercado. Ela busca ser a melhor empresa para o mundo e não a melhor empresa do mundo.
A empresa B é diferente de uma empresa socialmente responsável, porque, nesse último caso, houve mudança na maneira de gerir os negócios, com a adoção do diálogo com as partes interessadas e o gerenciamento dos impactos socioambientais. Mas não houve mudança na “natureza” da empresa, que continua preocupada sobretudo com o mercado e com o lucro dos acionistas.
Ela pode se transformar numa empresa B?
Uma empresa socialmente responsável pode, sim, tornar-se uma empresa B, desde que atenda aos seguintes requisitos:
- mudar os estatutos da empresa, permitindo que os executivos busquem atingir as demandas de todos os públicos de interesse, e não apenas dos acionistas;
- obter a certificação de empresa B que inclui:
– resposta ao questionário de indicadores; e
– avaliação das respostas, com verificação de dados, inclusive com visitas de campo aleatórias (mínimo de 80 pontos).
Por Cristina Spera, do Instituto Ethos