Segundo dia de evento em São Paulo foi pautado pela importância do envolvimento das empresas em defesa da sustentabilidade
A divulgação do conceito de criação de valor compartilhado por Mark Kramer, diretor-executivo da consultoria FSG, e o lançamento da “Carta Empresarial pelos Direitos Humanos e pela Promoção do Trabalho” foram os pontos altos do segundo dia Conferência Ethos Internacional 2012, que acontece de 11 a 13 de junho, em São Paulo.
Kramer disse que as empresas e a sociedade não são opostas, mas entremeadas. “As empresas têm um papel na resolução dos problemas sociais, o que representa uma oportunidade para elas. É só por meio das empresas que se cria riqueza. Elas dão suporte às ONGs e às ações sociais governamentais. As empresas trazem recursos para a mesa de negociação, que muitas ONGs não têm.”
Criar valor compartilhado, de acordo ele, consiste num conjunto de políticas e práticas que elevam a competitividade das empresas, enquanto elas avançam simultaneamente em questões econômicas e sociais nas comunidades em que operam.
A palestra de Jose Luis Samaniego, diretor de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe, da ONU) também se destacou. Ele deu uma aula sobre a relação entre utilização consciente de recursos naturais e crescimento econômico. “A inovação não deve estar pautada apenas em renovação tecnológica, mas também direcionada a ampliar competitividade, atendendo necessidades locais, internacionais e globais de modelos de negócio”, explicou.
O palestrante falou sobre a necessidade de padronizar critérios para acesso a financiamentos globais e reestruturar a arquitetura financeira mundial. Na América Latina, o cenário é favorável ao estabelecimento de políticas internacionais, graças ao crescimento percebido em 2010 e ao estabelecimento de termos macroeconômicos cada vez mais prudentes e direcionados ao desenvolvimento social.
O evento “Gestão Sustentável de Recursos Hídricos”, contou com a participação de Solange Rubio, gerente de Gestão Sustentável do Instituto Ethos, Marcos Nero, representante da ANA (Agência Nacional de Águas) e João Serffoso, coordenador do Uniethos.
Solange alertou para a necessidade de gerir os recursos hídricos e para a promoção de diálogos e troca de experiências entre as empresas para promover avanços nessa área. Nero interveio alertando que é difícil colocar o tema água em pauta. “Infelizmente, a água não tem apelo político. Se pudesse ser convertida em ações, os papéis seriam os de maior valor em alguns anos.”
O Uniethos, juntamente com a consultoria Rever e a iniciativa francesa Utopies, pioneira em estratégias de sustentabilidade, lançou, durante a conferência, a iniciativa global “As Empresas e Suas Relações com Stakeholders. Engajamento: uma Estratégia de Inovação”. O lançamento foi formalizado com debate e apresentação da ferramenta CriticalFriends (www.criticalfriendsinternational.com), que servirá de plataforma global para trocas de ações empresariais sobre sustentabilidade.
Na abertura desse debate, Paulo Itacarambi, vice-presidente-executivo do Instituto Ethos, disse que o caminho para conseguir um trabalho de responsabilidade social empresarial (SRE) organizado é longo, mas já está sendo traçado. “Ainda estamos distantes de um trabalho de sustentabilidade ordenado entre as empresas e seus stakeholders, mas atingir esse nível é o nosso objetivo. Já há algumas ações de empresas brasileiras direcionadas a isso.”
A necessidade de garantia de fornecimento limpo de matéria-prima para a indústria siderúrgica foi o principal recado do lançamento do livro “Combate à Devastação Ambiental e Trabalho Escravo na Produção do Ferro e do Aço”. A obra é resultado de uma extensa pesquisa realizada pela ONG Repórter Brasil. Foi organizada numa parceria entre Instituto Ethos, WWF-Brasil e Fundación Avina e mostra um cenário crítico de desrespeito aos direitos humanos e à legislação ambiental brasileira. “As empresas produtoras de carvão mineral e ferro-gusa deveriam se prevenir em relação a atividades ilícitas que deponham contra sua imagem e a de sua cadeia produtiva. O correto não é correr atrás do prejuízo, mas sim se antecipar a ele”, alertou Leonardo Sakamoto, coordenador-geral da ONG Repórter Brasil.
Durante o segundo dia da Conferência Ethos Internacional 2012 foi lançada, também, a “Carta Empresarial pelos Direitos Humanos e pela Promoção do Trabalho”, uma iniciativa do Grupo de Trabalho Empresas e Direitos Humanos, do Instituto Ethos. Jorge Abrahão, presidente da entidade, destacou a importância da iniciativa por meio de números: “O Brasil tem o 84º. IDH mundial e quer ser a quinta economia do mundo, o que nos chama a atenção e ressalta a necessidade de fazer algo a respeito. Temos a oportunidade de avançar muito nessa agenda”, disse.