Estamos vivendo a era da influência. O efeito dominó que movimenta grandes transformações na sociedade. Mas, será que podemos usar a influência em prol da diversidade, equidade e inclusão? É com essa pergunta que te convidamos a refletir sobre o poder do engajamento das grandes empresas.
Para começar esse assunto, precisamos entrar numa máquina do tempo. Afinal, sem compreendermos os passos que demos para chegar até aqui, como vamos definir novas trajetórias? Se não sabemos as causas das desigualdades, como trabalharemos para combatê-las?
Nessa viagem, vamos conhecer as violências históricas que estruturam as diferenças raciais e de gênero na nossa sociedade para, então, compreendermos como está o cenário atualmente e principalmente, como agir – enquanto sociedade civil, empresas e governos – para restabelecer um ambiente de equidade. Vamos nessa?
Relação educação x trabalho: um panorama da pessoa negra no Brasil
Lá em 1837, a Lei n.º 1, de 14 de janeiro, dizia que: “São proibidos de frequentar as escolas públicas: Primeiro: pessoas que padecem de moléstias contagiosas. Segundo: os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam livres ou libertos”, aqui, já vemos que a educação tinha cor e classe social. Essa lei durou por anos, afetando o desenvolvimento de inúmeras gerações de pessoas negras e o que reflete, até os dias de hoje, a presença minorizada em alguns espaços educacionais.
Vale ressaltar que a luta negra pela educação sempre esteve presente, dando origem ao movimento que impulsionou a existência das ações afirmativas na sociedade.
Após a abolição, a população negra continuou enfrentando desafios: sem moradia, trabalho, estudos, literalmente jogados nas ruas, enfatizando as desigualdades sociais e demonstrando que a “liberdade” não vinha com garantias de direitos, pelo contrário. Vinha com ainda mais exclusão, violência, retirada e ausência de acesso a direitos.
Em resumo: a população negra foi impedida de acessar os espaços educacionais , não eram reconhecidos como pessoas detentoras de direitos e por isso, não acessavam o mercado de trabalho formal e decente, o que gerou elevados quadros de fome, pobreza, desemprego, ausência de moradia digna, entre outras violações de direitos. Identificamos, assim, uma lacuna racial e social arrastada por décadas e que ainda nos assola e que levaremos mais 116 anos para mudar, se não começarmos a agir imediatamente
A partir da luta e da resistência do movimento que perdura até os dias de hoje, é que possibilitou vislumbrar e vivenciar avanços nas leis e nas políticas públicas, dando origem ao que entendemos hoje por ações afirmativas, que buscam incluir grupos, que foram marcados de forma histórica pela violência, em espaços estratégicos para reduzir as desigualdades históricas.
A percepção da mulher no mercado
A revolução industrial é um dos principais marcos da entrada da mulher no mercado de trabalho, e no Brasil não foi diferente.
Com o avanço dos processos de industrialização, principalmente a partir de 1930, a necessidade de mão de obra abriu espaço para que algumas mulheres saíssem da atenção total aos trabalhos domésticos para adentrarem nas fábricas.
Porém, elas já iniciaram essa caminhada com salários menores que os dos homens, mesmo exercendo a mesma função – realidade que se configura até os dias de hoje, tendo em vista o aumento da desigualdade salarial entre homens e mulheres para 22% em 2022, segundo o IBGE. Infelizmente, essa situação continuou por anos, com o reforço do estereótipo de que a figura masculina é vista como ideal para o exercício das responsabilidades e liderança, com direito a receber os melhores salários e ser prioridade nas oportunidades de liderança e gestão Esse aspecto só aumenta as desigualdades de gênero, tanto que somente daqui a 132 anos é que iremos alcançar a igualdade de gênero na sociedade e 151 anos para fechar a lacuna de participação econômica e de oportunidades – Fórum Econômico Mundial, 2022.
Apenas nos anos 1970, com o movimento feminista ganhando força no Brasil e nos Estados Unidos, é que a luta das mulheres por liberdade, igualdade de gênero e direitos ecoaram, dando início a um processo de lutas e algumas conquistas, mas que ainda se restringem apenas a uma parcela da população de mulheres
A luta de todos
Vale destacar que sempre que falamos em lutas sociais, políticas, territoriais e até institucionais e as interseccionalidades precisam ser consideradas. Esse assunto pode e deve se estender abarcando também as questões das mulheres negras (que são minorizadas nos espaços de liderança), da identidade de gênero e sexualidade que refletem na inserção do mercado de trabalho.
Engajamento: quando as coisas começam a mudar
Quando passamos a reconhecer, como sociedade, as discrepâncias do mercado e suas causas, isso refletiu positivamente nas empresas. Contando com a força da iniciativa privada, algumas medidas vêm sendo tomadas para reduzir as desigualdades, principalmente com políticas afirmativas.
As grandes empresas começaram a identificar a importância das diversidades e da inclusão, compreendendo não somente a necessidade de envolvimento, mas os benefícios causados pela prática. Equipes plurais trazem resultados inovadores, criativos e sensíveis, e contribuem para a redução das violências e é preciso legitimar isso.
Com as ações, já conseguimos identificar mudanças significativas. Sabemos que estamos longe do ideal, mas com o engajamento, principalmente das grandes empresas, formaremos uma onda positiva de práticas. São essas instituições que possuem recursos, influência e estrutura para impulsionar essas mudanças.
Por isso, convidamos as 1100 maiores empresas do Brasil – estabelecidas na lista do Valor Econômico – para responderem à pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 1100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas, realizada pelo Instituto Ethos com o apoio do Ipec. A participação é anônima e os dados serão usados apenas para traçar um panorama dos perfis profissionais das grandes empresas em diferentes níveis hierárquicos.
A pesquisa ajudará todo o cenário corporativo a analisar os resultados das ações e definir quais os próximos passos a serem dados. Esse é um movimento importante para evoluirmos, como sociedade civil e iniciativa privada, para alcançarmos os objetivos estratégicos de inclusão.
Para saber se a sua empresa está na lista das maiores do Brasil e quais os passos para participar da pesquisa, basta acessar: https://ethos.powerappsportals.com/perfil1100/
A pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, conduzida pelo Instituto Ethos, têm o patrocínio do Movimento Mulher 360, da Mover, da PwC Brasil, Anbima, Nubank e da Accenture.
São parceiros estratégicos o CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ e a Rede Empresarial de Inclusão Social, no apoio institucional, contamos com o suporte do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, ABRH Brasil e o Fórum Gerações e Futuro do Trabalho.