Esse é o aviso que será apresentado aos principais líderes econômicos, cientistas e políticos do planeta pelo Fórum Econômico Mundial, que se reúne este mês em Davos.
Por Paulo Itacarambi*
O relatório Global Risks 2013, que acaba de ser lançado pelo Fórum Econômico Mundial, analisou o cenário de 50 riscos globais e soltou o alerta: economia e meio ambiente estão em rota de colisão.
O documento, que está em sua oitava edição, baseia-se numa pesquisa de mais de 1.000 especialistas da indústria, governos e academia e apontou ainda o endividamento estatal e os prejuízos causados pelas mudanças climáticas como indícios de que o mundo enfrenta riscos cada vez mais crescentes. Dos 50 riscos analisados, destacamos três neste nosso comentário: diferença entre ricos e pobres; saúde e arrogância; e economia e ambiente sob estresse.
A diferença de renda entre ricos e pobres é apontada como um dos riscos por acentuar cada vez mais a desigualdade social. Vimos que o Brasil diminuiu essa diferença de renda no último ano e isso, além de aumentar o bem-estar dos brasileiros, cria condições favoráveis para o desenvolvimento da economia.
No setor da saúde, o estudo aponta para a falsa segurança que os avanços da medicina trouxeram e alerta que essa arrogância pode trazer problemas no futuro, pois remédios que hoje são eficazes perderão seu diferencial se não houver cuidados de prevenção. A questão aqui seria inverter a abordagem que se dá para a saúde, que atualmente é focada na ampliação dos serviços de tratamento de doenças. O foco deveria ser a qualidade de vida, diminuindo a poluição, melhorando as condições da água, a qualidade e o acesso aos alimentos e valorizando as atividades físicas.
No âmbito da economia e do meio ambiente, os riscos socioeconômicos tidos como urgentes fizeram com que os esforços de prevenção e combate às mudanças climáticas se reduzissem. O relatório destaca que estão acontecendo mudanças estruturais na economia e no meio ambiente as quais requerem novas abordagens para solucionar todos os gargalos que as acompanham.
De acordo com o relatório, o mundo está enfrentando dois grandes problemas: um na esfera ambiental (os eventos climáticos estão cada vez mais extremos) e outro no âmbito econômico (a crise que está atingindo sobretudo a Europa). Mas, mesmo com os eventos climáticos se mostrando cada vez mais perversos (como o furacão Sandy, as grandes cheias na China e as queimadas da Austrália, por exemplo), as questões ambientais quase não são discutidas, Estaríamos nós encontrando motivos econômicos para não tratar dos temas ambientais?
A crise que mais vem chamando a atenção de líderes em geral é a econômica, e mais uma vez as discussões sobre mudanças climáticas são ofuscadas e deixadas para segundo plano. A verdade, porém, é que estamos vivendo o limite tanto de uma crise quanto de outra e, se não pararmos para entender essa questão e buscar solucioná-la, estaremos arriscando o bem-estar das futuras gerações.
O que acontece é que os impasses econômicos, aliados aos cada vez mais comuns eventos climáticos, resultam num problema crescente para a economia mundial, enquanto enfraquecem a capacidade de se enfrentarem os desafios ambientais.
O relatório acerta o ponto ao mostrar o equívoco das lideranças em abordar a questão econômica separadamente da questão mais ampla do desenvolvimento. O relatório fala do não tratamento da questão climática em razão das atenções voltadas para a crise econômica. Faltou demonstrar que tanto a crise econômica quanto a ambiental são, de fato, uma crise de sustentabilidade e o tratamento do seu conjunto gera oportunidade para maior dinamização da economia.
Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, observamos que as discussões sobre sustentabilidade e economia ocorrem em paralelo, quando, na verdade, deveriam ser tratadas conjuntamente. Pois, quando se busca resolver uma frente sem atentar para a outra, os problemas continuam crescendo e, em algum momento, essas frentes colidirão, uma influenciando a outra, como está ocorrendo agora.
Nas crises econômicas que o mundo tem vivido nos últimos anos, a solução sempre foi procurada em algum aspecto econômico e, em muitos casos, foi encontrada, embora passageira, enquanto os problemas ambientais se tornavam cada vez mais expressivos. Na crise que hoje atinge a Europa, novamente se busca uma solução tratando as questões separadamente.
O que deve ser feito é uma análise que considere todos os aspectos da crise – sociais, ambientais, econômicos e éticos – para então se avaliarem os reais riscos para a sustentabilidade e para a economia global e se procurar uma solução conjunta.
As frentes econômica e ambiental estão intimamente relacionadas. Um colapso grande e repentino em uma certamente prejudicará a chance da outra de desenvolver uma solução efetiva e em longo prazo. É preciso que líderes políticos, empresariais e cientistas se unam para administrar os riscos de eventos climáticos e alocar os recursos necessários para isso, a fim de que a prosperidade global das futuras gerações não seja ameaçada.
É preciso o comprometimento com o desenvolvimento sustentável por parte dos governos, da sociedade civil e das empresas. Os riscos ambientais e o aumento da desigualdade social estão cada vez mais evidentes e é urgente a necessidade de combater esse conjunto de problemas de forma integrada. Não podemos continuar cometendo o erro de focar nos problemas econômicos reduzindo a importância das outras dimensões do desenvolvimento. Isso agravará os problemas que já estamos enfrentando e repercutirá, sem dúvida, na economia global.
Em duas semanas, o relatório Global Risks 2013 será discutido no Fórum Econômico Mundial, que se reúne de 23 a 27 de janeiro, em Davos, na Suíça. Estarão presentes 50 chefes de Estado e de governo. Os políticos tomaram o lugar dos banqueiros. Conseguirá a política enquadrar a economia? E vai enquadrá-la em que direção? Esperamos que seja no rumo do desenvolvimento sustentável, e não para socializar prejuízos e manter o modelo tradicional. O que queremos aqui é chamar a atenção para que as lideranças lá reunidas coloquem o foco das discussões no desenvolvimento sustentável.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente-executivo do Instituto Ethos.