Painel da Conferência Ethos em São Paulo discute como as empresas podem impulsionar o trabalho decente para jovens

Mário Volpi, coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF no Brasil; Neca Setubal, presidente do conselho da Fundação Tide Setubal e do GIFE; Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco e Sheila de Carvalho, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos foram os palestrantes do painel “Educação e aprendizagem, o que as empresas tem a ver com isso?”, que lançou luz sobre o papel das empresas quanto ao fomento à aprendizagem.

“Como os jovens chegam ao mundo do trabalho pós ensino básico e pós ensino médio?”, este foi um dos questionamentos que o superintendente do Instituto Unibanco ponderou. O entendimento do cenário da educação onde “apenas 65 jovens terminam o ensino médio, a cada 100. E, somente 7 seguem a graduação”, são questões importantes para entender o grau de instrução de grande parte da juventude na atualidade. “Há uma defasagem histórica muito grande. Em matemática 97% estão aquém do que gostaríamos e é recomendado. Classificados em nível baixo e muito baixo na associação cognitiva”, explicou Ricardo.

A observação de Ricardo é de que “há baixíssima comunicação entre o mundo do trabalho e o mundo da educação”. Como alternativa para esse abismo o executivo sugere a “construção de atores específicos dentro das empresas com objetivo em construir pontes, de forma a qualificar no mundo da educação as competências necessárias para o campo do trabalho”.

“Em educação ainda temos uma série de problemas, mas se olharmos os últimos 20 anos demos um salto muito grande”, avalia a presidente do conselho da Fundação Tide Setubal e do GIFE. “A agenda da educação possibilita visibilidade e um saldo positivo aos políticos, quando o foco é a construção de escolas, por exemplo. Mas, para além de estar na escola os alunos precisam aprender de fato e a aprendizagem não tem visibilidade política. Todos os políticos dizem que a educação é prioridade em suas agendas, mas o que vemos é essa não é a realidade”, analisa Neca que conclui: “Quanto as empresas, vivemos um momento no mundo no qual as companhias têm um papel fundamental, para além dos lucros. Um papel mais amplo nas relações de cultura e meio ambiente”.

Para Volpi, “o desafio para as empresas é bem objetivo: contratem aprendizes”. Em consonância com o que apontou Ricardo, o coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Fundo das Nações Unidas para a Infância acredita que “precisamos aproveitar essa oportunidade para unir o mundo do trabalho ao da educação”.

Volpi apresentou ainda o resultado de uma série de pesquisas realizadas pela Unicef, que identificou uma norma social quanto a forma como o trabalho infantil é tratado no país. Onde existe “um valor gerado a partir de uma expectativa social”, segundo Volpi.

“As normas sociais guiam mais comportamentos que a cultura. Um adolescente entre 15 e 17 anos que não quer estudar é porque ele não tem tendência para isso, então ele deve ir trabalhar” destaca Volpi ao explicar uma das causas da evasão escolar: “Mais de 90% das famílias acreditam na educação como uma forma de mobilidade social, mas só para ‘os que estão na idade certa’. Os outros não devem perder tempo”, avalia.

Após estes apontamentos, a coordenadora do Ethos reforçou o objetivo da Rede de Empresas pela Aprendizagem e Erradicação do Trabalho Infantil que se propõe “a ressignificar essa norma social e estabelecer através da aprendizagem que os jovens possam estudar e trabalhar ao mesmo tempo”.

 

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Clóvis Fabiano e Kleber Marques