Pesquisa identificou que apesar de as empresas terem canais de denúncias, as tratativas para solucionar as queixas são realizadas de forma segmentada, em especial quando se trata de temas que envolvam a agenda socioambiental

O Instituto Ethos, o Instituto Centro de Vida (ICV) e a Agência Francesa pelo Desenvolvimento (AFD) lançam, nesta quarta-feira (29), a pesquisa “Canais de denúncias empresariais para proteção de defensores(as) de direitos humanos e ambientais: mapeamento e qualificação 2024”, um estudo inédito que mapeia e analisa os canais de denúncia empresariais e sua relação com as agendas sociais, ambientais e de proteção a defensores.

O levantamento contou com a adesão voluntária de 40 companhias, com cerca de 1/3 das empresas com atuação na região Amazônica, e identificou que apesar de as empresas terem canais de denúncias, as tratativas para solucionar as queixas recebidas são realizadas de forma apartada, em especial quando se trata de temas que envolvam a agenda socioambiental. Nestes casos, as tratativas são realizadas levando em conta a questão social ou a questão ambiental, segmentado assim a solução aplicada.

De acordo com Marina Esteves, coordenadora de práticas empresariais e políticas públicas em clima e meio ambiente do Instituto Ethos, essa abordagem segmentada fica evidente quando se avaliam casos específicos. “A governança dos canais de denúncia, no nosso entendimento, deveria contemplar diferentes marcadores temáticos, além de contar com o envolvimento de diferentes áreas da empresa para tratar sobre o recebimento de denúncias. Queixas sobre assédio, por exemplo, são comumente categorizadas em infrações de direitos humanos, mas se o assédio for resultante de uma infração ambiental, a denúncia não é tratada em ambas as esferas temáticas. Ou seja, é mais difícil identificar canais de denúncia que procuram tratar denúncias em sua integralidade, explorando uma possível intersecção ‘socioambiental’”, destaca.

O resultado da pesquisa subsidiará o planejamento de ações para buscar soluções para esse cenário. A partir de agora, o Instituto Ethos irá mapear e propor ações para que as empresas possam investir na forma como as tratativas referentes às denúncias são realizadas, atuando assim de maneira integrada do ponto de vista socioambiental.

Essas ações, que buscam o aprimoramento do recebimento e tratamento das denúncias, irão considerar desde o relacionamento com órgãos públicos, por meio de iniciativas de conscientização e interlocução, para uma atuação de maneira conjunta e considerando a regulação por meio de políticas públicas, até a relação com as empresas, oferecendo projetos-piloto com o intuito de promover a devida diligência socioambiental no ambiente corporativo.

“Quando estabelecidos e operados corretamente, os canais de denúncia são um mecanismo eficaz para a identificação e correção de práticas inadequadas, violações dos direitos humanos e danos ambientais. Essa ferramenta é fundamental para o exercício da cidadania. Por isso é tão importante que os canais de denúncia funcionem corretamente e de forma integrada a todas as áreas das empresas”, finaliza Marina.

Para o analista socioambiental do Instituto Centro de Vida, Marcondes Coelho, “embora seja legítima a autonomia de cada empresa para operacionalização desse mecanismo, os resultados chamam atenção sobre o quanto ainda os processos para registrar denúncias precisam priorizar uma comunicação acessível, que seja inclusiva, que seja bem compartilhada, que se amplie para além do público interno e que, ainda assim, mantenha a qualidade e os aspectos de proteção que é exigido”.

A pesquisa faz parte do Projeto Defensores(as) Ambientais, uma realização coletiva entre Transparência Internacional Brasil, do Instituto Centro de Vida (ICV), da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.

Confira a pesquisa na íntegra.

Por: Analítica Comunicação – Assessoria de imprensa do Instituto Ethos

Foto: Leonardo.ai