É necessário repensar a arquitetura econômica brasileira com o objetivo de combater as desigualdades sociais, rumo a uma inclusão produtiva sustentável

São esses os caminhos apresentados pelo estudo “Inclusão Produtiva e Transição para a Sustentabilidade: Oportunidades para O Brasil”, feito pelo Instituto Veredas, em parceria com Fundação ArymaxInstituto Itaúsa, Instituto Golden Tree e B3 Social. Conduzido entre julho e dezembro de 2023, o trabalho, lançado em 30 de abril, está disponível gratuitamente

“Avançar numa economia mais sustentável é por uma parte criar os meios para lidar com os eventos extremos, assim como com desafios históricos como a fome, o acesso limitado à educação e saúde de qualidade”, explica Vahíd Vahdat, diretor adjunto do Instituto Veredas. “Há novas oportunidades que podem ser exploradas, como o uso sustentável da sociobiodiversidade e energias renováveis, que podem se tornar meios importantes para a inclusão de pessoas no mundo do trabalho”, completa.

A publicação defende que o Brasil necessita de um novo modelo econômico que esteja alinhado às demandas ambientais, mas também alerta que não é possível pavimentar esses caminhos sem levar em consideração a dimensão social. “O estudo apresenta um bom panorama de uma visão estratégica para a mudança de uma economia atual para uma visão econômica produtiva e positiva para o clima, natureza e pessoas”, comenta Marcelo Furtado, diretor do Instituto Itaúsa.

A pesquisa apresenta quatro setores que são estratégicos para o processo de implementação de uma inclusão produtiva aliada à transição para a sustentabilidade. São eles: sistemas alimentares e uso da terra; indústria; energia; e cidades e infraestrutura.  “No setor industrial, enquanto grandes empresas podem encarar a transição para a sustentabilidade como uma vantagem competitiva, o estudo destaca que micro e pequenas empresas (MPEs), que representam a maioria no país, frequentemente ficam excluídas desse processo”, expõe Natália Di Ciero Leme, gerente da Fundação Arymax. Ela avalia que para solucionar o cenário é preciso a promoção de “arranjos produtivos inclusivos e democratizar o acesso a práticas sustentáveis, ao mesmo tempo em que se aumenta a produtividade de MPEs”.

Para cada um dos setores apresentados foram indicados desafios ambientais e sociais, e a partir dessa análise também foram elencadas recomendações e estratégias para uma inclusão produtiva. Sobre o tema referente aos sistemas alimentares e o uso da terra, por exemplo, o estudo chama atenção para quatro situações críticas: o avanço do desmatamento e quais resoluções são necessárias para enfrentar o problema; redução dos impactos ocasionados pela produção em grande escala, especialmente a pecuária; acesso de agricultores familiares a políticas públicas que contribuam com o aprimoramento sustentável de suas produções; e a ampliação de acesso a alimentos saudáveis.

“É urgente que nossa sociedade seja capaz de encontrar os caminhos para que os benefícios econômicos da transição para a sustentabilidade sejam socializados, gerando oportunidades de trabalho e renda para todos. Nesse sentido, a inclusão produtiva deve estar no centro da transição para a sustentabilidade, caso contrário ela não ocorrerá – ou ocorrerá de maneira frágil”, alerta Natália Di Ciero.

Papel estratégico
Entusiasta de uma ação conjunta entre governos, empresas e terceiro setor, o estudo apresenta o trabalho conjunto como perspectiva viável para o alcance da inclusão produtiva rumo a uma nova economia. Nesse sentido, o investimento social privado (ISP) surge como alicerce fundamental, mas, de acordo com Vahíd Vahdat, esse processo não deve ocorrer apartado da premissa de que “a sustentabilidade possui dimensões ambientais e sociais”.

“O avanço da sustentabilidade não é apenas ambiental. Precisamos tornar cada vez mais explícito que só é possível avançar na sustentabilidade se a regeneração da natureza for acompanhada pela redução da pobreza e das desigualdades.”

Perspectiva urgente que, na compreensão de Marcelo Furtado, precisa ser abraçada efetivamente pelo setor filantrópico. “Não adianta a filantropia ficar cobrando dos outros que façam arranjos estratégicos, se ela mesma não fizer esse arranjo estratégico de mobilização desse capital tão importante”, conclui.

 

Por: Gife

Foto: Leonardo.ai