Estudo será publicado em 2014 e vai avaliar o perfil social, racial e de gênero das fornecedoras da prefeitura paulistana e das maiores empresas que atuam no país
O Instituto Ethos vai lançar, em 2014, uma nova versão do seu estudo Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas. A pesquisa começou em 2001 apenas com o quadro executivo das empresas e, a partir de 2003, passou a pesquisar também os níveis de gerência, supervisão e quadro funcional. O último estudo saiu em 2010.
Agora, com o patrocínio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), será possível aprimorar esse projeto, melhorando a metodologia para dar maior acuracidade às respostas das empresas.
A primeira versão desta nova fase terá uma novidade: graças a um convênio firmado entre o Instituto Ethos, o BID e a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo (SMPIR), haverá um destaque para as empresas que têm sede na cidade de São Paulo e também daquelas que são fornecedoras na prefeitura paulistana. Haverá também a criação de um fórum permanente de empresas, sociedade civil e governo para promoção da igualdade racial na cidade.
Na solenidade de assinatura do convênio, realizada nesta terça-feira (17/12), na sede do Instituto Ethos, o secretário da Promoção da Igualdade Racial da cidade de São Paulo, Netinho de Paula, destacou, que esse acordo surge num momento oportuno, em que são estabelecidas cotas para negros no serviço público. “Por meio desse perfil”, diz o secretário, “a prefeitura poderá saber quais políticas afirmativas as empresas fornecedoras possuem, contribuindo para melhorá-las ou mesmo para induzir políticas de promoção racial no setor privado, mais amplamente.”
Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial e secretária-adjunta da SMPIR, ressaltou a importância dessa pesquisa para os trabalhos do Fórum Empresarial para a Igualdade da Promoção Racial que será criado: “Esse fórum quer reunir empresas, governos e a sociedade civil para juntos enfrentarem preconceitos e desafios e discutirem ações que façam avançar oportunidades para todos, principalmente para os negros”.
“Os resultados do perfil dos fornecedores podem orientar as ações nas três áreas de atuação do fórum: empreendorismo, economia criativa e setor público”, salienta a secretária-adjunta.
O perfil também vai ajudar as empresas e a própria prefeitura a estabelecer a agenda do trabalho decente na perspectiva da valorização de gênero e raça como prioridade para contribuir com a difusão para a sociedade do valor da diversidade.
A riqueza do Brasil
“Sempre que falamos das nossas riquezas, mencionamos a diversidade. De fato, essa é uma das nossas grandes vantagens competitivas, se for praticada”, lembrou o presidente do Ethos, Jorge Abrahão, durante o evento que celebrou o convênio da entidade com a SMPIR. “Não a vemos refletida nas empresas nem em todos os níveis de governo, tanto no que diz respeito a idade e gênero quanto a origem social e raça”, acentuou ele, destacando que o Instituto Ethos vem incentivando a discussão dos temas da diversidade nas empresas desde a sua fundação, por meio de manuais para integração de pessoas com deficiência, de egressos do sistema penitenciário, de aprendizes, de mulheres e de negros. Na semana passada, a entidade lançou uma publicação que enfoca a valorização dos direitos do público LGBT. Todas estão disponíveis gratuitamente no site www.ethos.org.br
Evolução do perfil de raça nas empresas
Especificamente sobre o recorte de raça nas empresas, os estudos do Perfil, que o Ibope e o Instituto Ethos realizaram entre 2003 e 2010, mostraram que houve integração de negros em todos os níveis hierárquicos. Mas isso ocorreu em uma velocidade aquém da igualdade que é preciso alcançar. Os negros representam 51% da população brasileira, mas as empresas têm, no máximo, 5% de executivos negros e 0,6% de mulheres negras executivas. Nesse ritmo, levaremos 150 anos para atingir a mesma representação nas empresas que os negros têm na sociedade. Por isso, ainda é importante bater na tecla na promoção e valorização racial nas empresas.
Custo do racismo
Em 2006, o Ethos lançou o manual O Compromisso das Empresas com a Promoção da Igualdade Racial. Nele, o economista Mário Theodoro fez um cálculo de quanto custaria “zerar” as diferenças entre brancos e negros no nosso país em três eixos básicos: educação, saneamento e habitação. Em moeda da época, a soma dava algo em torno de R$ 68 bilhões, um montante inferior ao patrimônio do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) de 2005, que ultrapassava R$ 100 bilhões. Portanto, algo perfeitamente executável.
Por Cristina Spera, do Instituto Ethos
Foto: Caio Magri, Netinho de Paula, Matilde Ribeiro e Jorge Abrahão
Crédito: Letícia Paiva