No final de abril, o jornal Folha de São Paulo publicou no espaço “Tendências e Debates” um posicionamento do Instituto Ethos diante da atual conjuntura do Brasil, assinado por Jorge Abrahão, Celina Carpi e Franklin Feder. Nele, propõe-se o ‘pluriálogo’ como caminho para a superação de um dos momentos mais desafiadores da história do país: a crise econômica e política.

A recessão econômica aumenta o desemprego e o custo de vida, além de expor as fragilidades do sistema político brasileiro. Tendo isso em vista, chegou a hora de iniciar a construção de um espaço de troca de ideias e criar uma agenda comum, que conte com a mobilização e as propostas de todos os cidadãos, de modo que se apresentem melhorias ao país.

O Brasil precisa do ‘pluriálogo’
Há uma necessidade muito grande de recuperar o diálogo dos segmentos da nossa sociedade. Ao construir pontes, respeitar a diversidade de opiniões e evitar a polarização política, bem como seus embates desprovidos de conteúdo consistente, deixamos de cair em armadilhas e abrimos um novo caminho para a consolidação de uma agenda comum.

O grande desafio, portanto, é unir todos os setores a fim de estabelecer um conjunto de interesses coletivos, e não individuais, que funcionarão como uma espécie de “fio condutor” das transformações que queremos fazer.

Toda a população deveria se engajar por um Brasil melhor e mais próspero. A retomada econômica e a resolução dos problemas no campo político dependerão dos compromissos a serem assumidos pelas parcelas da sociedade. Para isso, deve-se evitar o imediatismo e pensar no longo prazo. É uma oportunidade, também, de mudarmos a maneira com que olhamos os nossos erros e aproveitarmos o aprendizado que adquirimos, elevando as nossas relações a outro patamar e quebrando, assim, padrões preestabelecidos.

Um pacto apoiado nos três pilares da sustentabilidade
Para chegarmos a um caminho comum, é preciso ter em mente que serão os esforços coletivos que vão impulsionar avanços e amenizar os efeitos das crises. Há tempos, a sociedade civil vem lapidando relações, por intermédio da articulação e do engajamento. O Instituto Ethos, por exemplo, trabalha ao lado de empresas para que a força econômica do setor privado influencie positivamente a agenda do desenvolvimento sustentável, com pactos e compromissos assumidos.

Empresas, sociedade civil, academia e trabalhadores devem sintetizar os interesses de todo o país, assim como o Pacto de Moncloa, que reuniu partidos políticos, sindicatos e empresários, em 1977, pela redemocratização de uma Espanha duramente afetada pelo governo fascista de Francisco Franco. A articulação política de Moncloa envolveu o alto escalão do Estado espanhol, como monarcas e primeiro-ministro, e tinha três objetivos principais: político, econômico e social. O próprio Brasil, em sua abertura para a democracia, viu um movimento parecido, com as devidas ressalvas, para a confecção da Constituição de 1988.

Com vistas a cumprir esses objetivos, deve-se pensar bem além das disputas de poder. Afinal, a crise afeta todos, já que somos nós que arcamos com a maior parte dos prejuízos decorrentes de ações generalizadas.

A soma de todos os setores deve resultar em um bem comum
Identificar temas estruturantes e pensar em soluções são apenas o início do caminho a percorrer para reestabelecer o diálogo na sociedade. Propomos três alternativas para a superação de parte dos problemas das crises atuais. A primeira é o aprimoramento do sistema político e eleitoral, já que há um amplo questionamento sobre as representações institucionais. Fortalecer a democracia exige uma reforma política que nos dê um sistema eleitoral mais justo. Também sugerimos a criação de um Plano Nacional de Integridade, que traga mais confiabilidade à relação público-privada. Por último, pensamos que o ‘pluriálogo’ pode ser a chave retomar o desenvolvimento econômico com os princípios da sustentabilidade, voltados para a geração de empregos, a inclusão social e a transição para uma economia de baixo carbono.

Em tempos de instabilidade política cabe à sociedade — atenta e propositiva — o papel de desenhar propostas e encaminhá-las. Dialogar é a arma de que o Brasil precisa para haver grandes e necessárias transformações.

Toda sexta-feira, às 15:00, Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, fala sobre os principais temas da sustentabilidade na Rádio CBN. Confira aqui os últimos podcasts.

 

Foto: PDArt1/Flickr