Punição branda para denúncias de assédio sexual estimula má conduta
Motivados por nosso papel na promoção de um ambiente esportivo mais ético, transparente e com sistemas de integridade mais sólidos, nós, do Instituto Ethos, manifestamos nosso repúdio à decisão da Comissão de Ética da CBF que definiu o afastamento pelo período de 15 meses do presidente da instituição, Rogerio Caboclo, como penalidade por seu envolvimento com denúncias por assédio sexual e moral contra funcionárias da Confederação Brasileira de Futebol.
Segundo noticiado pela imprensa, a punição branda, por ‘conduta inapropriada’, – que possibilita o retorno de Caboclo à presidência antes do encerramento de seu mandato e que deve ser ratificada pela Assembleia Geral na próxima semana – pode se tornar uma absolvição, uma vez que, na impossibilidade de convocação de novas eleições para a posição, parece haver uma preferência pela manutenção de Caboclo.
A maior organização de administração esportiva não deveria ser tolerante com casos de assédio, muito menos com meios escusos para o silenciamento de mulheres que os denunciam, como no caso em questão, o oferecimento de R$ 12 milhões para que uma das denúncias fosse retirada. A decisão da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro desencoraja que novas denúncias sejam feitas, estimula más condutas e induz omissões.
Esperávamos mais rigor da CBF, principalmente pelo movimento que a organização fez no sentido de estabelecer políticas e mecanismos de integridade e transparência na entidade. Ao que parece, as motivações políticas ainda precedem o compromisso com a justiça, a ética, com o que é certo a se fazer.
Nossa solidariedade às mulheres denunciantes.
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