No primeiro artigo dessa séria, descrevi a importância, em meio às adversidades trazidas pela pandemia da Covid-19, das nossas organizações exercitarem hábitos de pensamento como uma lista mental para se guiar diante das tomadas de decisão a partir do ponto de vista da sustentabilidade, além de descrever o primeiro dos quatro hábitos elaborados pela ativista social Sara Parkin, a resiliência.

Avançando para o segundo hábito de pensamento abordarei os relacionamentos.

Relacionamentos

A sua organização está criando e protegendo as muitas e boas relações que sustentam a resiliência nas pessoas e em outras organizações durante a pandemia?

Resiliência implica nas relações que dispomos. Implica na força obtida por meio de muitas interdependências, como na superação de momentos difíceis e como, é claro, na felicidade. Há muitos estudos que mostram que relações íntimas bem-sucedidas e bons amigos são a mais importante fonte de felicidade e outras emoções positivas, como forte autoestima e satisfação.

Sabemos que a ausência de amizades satisfatórias nos tornam menos resilientes quando estamos diante de problemas complexos (pobreza, mudanças climáticas, saúde, segurança pública, pandemia). E sabemos que o abuso de poder pode ser muito prejudicial nos relacionamentos.

Já se falou bastante sobre a importância de boas relações familiares como base para a superação em períodos de crises; mas, se por algum motivo a unidade familiar não funciona, uma criança tem mais chances de crescer resiliente diante de adversidades caso à sua volta existam outros modelos de sucesso e oportunidades próximas de aprender sobre comportamentos e relações sociais, pessoais, afetivas e eficazes. E, embora as famílias possam dar uma grande contribuição a um futuro mais promissor, só as comunidades, trabalhando juntas, tornarão possível a necessária a superação de crises.

Recuperar as relações que governam o convívio das pessoas é difícil, mas ignorar esse desafio não é uma opção para superarmos períodos de adversidades e incertezas. O papel essencial da confiança em fazer com que a sociedade funcione é realçado pelo economista indiano-britânico Partha Dasgupta. Conquistar e manter a confiança é uma atividade que requer grande esforço e é de difícil recuperação, uma vez perdida. Diante de uma crise (no casamento, entre governados e governantes, numa empresa ou em uma pandemia global), a perda de confiança pode ter consequências que impeçam que os problemas sejam resolvidos de forma satisfatória.

Uma forma das nossas organizações tomarem decisões mais assertivas significa pensar e agir como uma conselheira de relacionamentos que procura reparar, fortalecer e aumentar, em número e qualidade, as relações intelectuais e práticas entre pessoas e outras organizações, e entre cada um. Quanto mais numerosos e de boa qualidade forem os relacionamentos de uma organização, mais resilientes ela será diante de situações complexas e incertas.

Por: Fábio Risério, sócio diretor da Além das Palavras, consultoria que atua no engajamento estratégico dos temas de Integridade e Sustentabilidade nos negócios e professor das disciplinas de Ética Empresarial e Negócios e Organizações Sustentáveis na FDC, FIA e PUC-Campinas.

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