Concluo com este artigo, a descrição dos quatro hábitos de pensamento descritos pela ativista social, Sara Parkin, no seu livro “O Divergente Positivo”. Já tratei, em artigos anteriores, dos três primeiros, que são: resiliência, relacionamentos e reflexão. Neste último, tratarei da reverência.
O objetivo com a elaboração destes artigos tem a pretensão de contribuir com as pessoas e suas organizações a “identificar” hábitos de pensamento que podem ajudar na hora de tomar decisões difíceis em períodos de adversidades e incertezas, como o que estamos passando com a pandemia da Covid-19. Sem listas de verificação e nem recomendações políticas, o enfoque é em ajudar na capacidade de identificar o pensamento certo na hora de colocar mãos à obra, não importa onde e em que circunstâncias estejam.
Todos nós podemos escolher, em cada encontro e a cada dia, que mundo queremos ajudar a trazer à realidade. Quando escolhemos os pensamentos da resiliência, relações, reflexão e da reverência, participamos da criação de outro mundo, muito melhor.
A seguir a descrição do último hábito de pensamento: reverência.
Reverência
A sua organização está demonstrando uma “reverência respeitosa” para o poder da complexidade diante da pandemia?
“Respeito” é uma boa palavra e, sobretudo no âmbito da diversidade racial e cultural, preferível a utilização de tolerância quando se leva em conta a discriminação. Mas, embora muito utilizada, ela não satisfaz quando procuramos descrever a correta relação entre as pessoas e o resto do ambiente. “Reverência”, não no sentido religioso, mas significando uma “reverência respeitosa” no sentido espiritual, parece-se mais apropriada.
O biólogo americano Edward Wilson nos lembra de que só conhecemos uma fração das espécies vivas hoje e quase nada sobre o modo complexo e interdependente como mesmo um pequeno sistêmico ecológico funciona. Mesmo que pudéssemos separá-las e preservá-las, uma vez rompido o sistema, não conseguiríamos reorganizar de novo essas comunidades.
As mesmas “regras de montagem” se aplicam a nós, humanos; e, embora muita coisa se saiba sobre os pedaços que nos constituem – de células e genes a fígados e cérebros -, o modo como tudo se junta e se mantém em intercâmbio contínuo com o resto do ambiente continua sendo, até o certo ponto, um mistério.
As tomadas de decisões diante da pandemia precisam, portanto, acomodar-se à ideia de que as componentes do problema talvez estejam além de nossa compreensão. Então, a única postura correta parece ser a reverência, uma reverência respeitosa diante de seu poder e complexidade, bem como a compreensão da total interdependência entre nós e o problema.
Em termos práticos, isso significa pensar continuamente na melhor maneira de reconhecer o poder das adversidades. Esta forma de pensamento protege contra a arrogância e as ideias de competência, ajudando-nos a proceder com confiança e precaução.
Manter hábitos de pensamentos adequados durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19 é fator crítico para o seu sucesso, principalmente em situações de alta complexidade. Ter resiliência, relacionamento, reflexão e reverência como pensamentos presentes durante as tomadas de decisão é, sim, uma vantagem competitiva que pode levar à melhor execução das soluções, elevar a inovação, aumentar a capacidade de comprometimento e também a motivação diante de situações de grande complexidade e incerteza.
Preparado para começar a aumentar, de fato, a capacidade da sua organização em lidar com as adversidades trazidas pela pandemia da Covid-19?
Por: Fábio Risério, sócio diretor da Além das Palavras, consultoria que atua no engajamento estratégico dos temas de Integridade e Sustentabilidade nos negócios e professor das disciplinas de Ética Empresarial e Negócios e Organizações Sustentáveis na FDC, FIA e PUC-Campinas.
Foto: Unsplash