Pesquisa revela que muita coisa está errada e que a cidade quer mudança, diz Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo, organização responsável pelo levantamento.
Divulgada pela Rede Nossa São Paulo nesta quinta-feira (17/1), a 4ª edição do Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município), pesquisa sobre o nível de satisfação dos paulistanos, revelou que os moradores da cidade atribuem nota 4,7 para a qualidade de vida na cidade, numa escala de 1 a 10 em que o ponto médio é 5,5. “É o menor indicador que tivemos desde o início da avaliação”, afirmou Márcia Cavallari, CEO do Ibope, organização que executou o levantamento do Irbem 2013.
Segundo Márcia Cavallari, a grande maioria dos indicadores piorou na comparação com os anos anteriores: “Dos 169 itens pesquisados, 82% são hoje avaliados com média inferior a 5,5. Acima disso, ficaram apenas 17% dos itens”. No levantamento do ano passado, os itens que receberam nota acima da média representavam 22%.
Sensação de insegurança
Nesta edição do Irbem, a área da segurança pública é a que apresenta itens com maiores variações negativas individuais. Aspectos como a segurança na cidade como um todo, nos bairros e a ronda policial obtêm as piores avaliações desde 2009, quando foi iniciada a série de levantamentos anuais. Além da avaliação negativa desses aspectos, é nítida a sensação de insegurança na cidade: nove em cada dez paulistanos afirmam que São Paulo é um lugar pouco ou nada seguro para viver. Violência em geral, assaltos/roubos, tráfico de drogas e sair à noite são as situações que geram mais medo no dia a dia da cidade. O índice de citação da alternativa “sair à noite” dobrou de um ano para o outro.
Quando perguntados sobre medidas importantes para diminuir a violência na cidade, os paulistanos afirmam que combater a corrupção na polícia e nos presídios seria a principal medida a ser tomada, seguida de ações voltadas para a criação de oportunidades de trabalho para jovens de baixa renda.
Como em anos anteriores, os aspectos subjetivos ou pessoais da vida dos paulistanos, tais como suas relações com parentes ou amigos, sua religiosidade ou sua carreira profissional estão entre os aspectos que se mantêm acima da média. Mesmo assim, a maioria das médias observadas nesses itens são menores do que as dos anos anteriores.
Os aspectos relacionados à transparência e participação política na cidade continuam sendo mal avaliados. Entretanto, a punição à corrupção obtém uma pequena variação positiva neste último ano.
A área da saúde também piora. As questões relacionadas ao tempo médio de marcação para quaisquer procedimentos médicos, sejam consultas, exames ou procedimentos mais complexos, atingem médias abaixo das dos anos anteriores. O tempo médio de espera para a marcação de uma internação ou cirurgia, por exemplo, chega a 178 dias. Há uma percepção de piora nesses aspectos também no sistema de saúde privado, porém em patamares bem inferiores aos observados nos serviços de saúde pública da cidade.
Na educação, a falta de vagas em creches/pré-escolas e a falta de respeito e valorização dos profissionais da educação se destacam entre os pontos mais críticos, na percepção dos paulistanos.
Em relação à mobilidade, a satisfação com o tempo gasto com deslocamentos pela cidade piora (a média de satisfação passa de 4,4 para 3,8).
Poucos aspectos da cidade apresentam pequenas melhoras de 2011 para 2012. São eles: punição à corrupção; aumento da quantidade de ciclovias na cidade; e respeito ao pedestre.
As médias de satisfação obtidas pelas subprefeituras são, em sua maioria, inferiores às do ano anterior, sendo que apenas a de Perus fica acima da média (5,5).
As avaliações feitas sobre as esferas do poder público municipal ainda são tidas como regulares pela maioria relativa; contudo, aumenta o percentual de paulistanos que as consideram negativas.
Das 26 instituições e órgãos públicos avaliados, a maioria absoluta dos paulistanos declara que confia em 15 delas. O Corpo de Bombeiros, os Correios, o Metrô, a Sabesp, o Procon e a Eletropaulo são as que apresentam índices de confiança superiores a 70%.
As instituições ou órgãos públicos que têm maior nível de desconfiança dos paulistanos são a Câmara Municipal, o Tribunal de Contas do Município, as polícias Civil e Militar e a Prefeitura de São Paulo.
Por fim, assim como em 2011, cai o número de paulistanos que acreditam que a qualidade de vida na cidade melhorou (passa de 44% para 38%). Mesmo assim, a quantidade de paulistanos que declaram que sairiam de São Paulo para morar em outra cidade, caso tivessem oportunidade, permanece a mesma do ano passado (56%).
Confira aqui os dados completos da pesquisa Irbem 2013.
Cidade quer mudança
Para Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, os números indicam que há muita coisa errada na cidade. “Quando 170 mil crianças estão sem creche na cidade mais rica do país, a gente percebe que algo está errado. Quando a diferença dos indicadores entre as regiões mais ricas e mais pobres chega a dezenas, centenas ou milhares de vezes, a gente percebe que algo está errado. Quando apenas 1% do lixo da cidade é reciclado, desperdiçando-se oportunidades de trabalho para a população na reciclagem, a gente percebe que algo está errado. Quando temos dois grandes rios passando pela cidade de São Paulo que hoje são esgotos a céu aberto, algo está errado. Quando 91% da população se sente insegura, algo deve estar errado. Quando, nos postos de saúde, as pessoas esperam dois meses para serem atendidas por um médico, e tantos morrem no meio do caminho, algo está errado. A cidade quer mudança”, afirmou.
O prefeito Fernando Haddad, que compareceu ao evento, afirmou que, para fazer de São Paulo um lugar melhor para viver, é preciso primeiro ter consciência dos problemas que se enfrentam no município. Ele ressaltou a importância de a sociedade civil estar mobilizada em favor da cidade e a necessidade de buscar várias estratégias para conseguir recursos.
Haddad agradeceu à iniciativa da Rede Nossa São Paulo e se prontificou a participar sempre de eventos como o lançamento da pesquisa Irbem 2013. “Vamos fazer disto aqui um ambiente privilegiado, de debate de alto nível, para que as coisas possam acontecer”, declarou. Para ele, São Paulo tem “inteligência suficiente” para resolver os problemas que atualmente enfrenta.
Sugestões de metas
Durante o evento, o prefeito Fernando Haddad recebeu um conjunto de propostas para o Plano de Metas que seu governo terá de apresentar em até 90 dias após a posse. As sugestões foram preparadas pelos grupos de trabalho (GTs) de Orçamento, Educação, Meio Ambiente, Democracia Participativa, Juventude, Mobilidade Urbana, Regionalização e Saúde, os quais integram a Rede Nossa São Paulo.
“Nossa proposta é, antes de tudo, que inauguremos uma era de transparência, democracia participativa e desenvolvimento sustentável”, afirmou Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, ao apresentar o documento.
Manifesto contra a violência
Além das propostas para o Plano de Metas, Haddad recebeu o manifesto “Eliminando a Violência na Raiz de Suas Causas”, também lançado durante o encontro. O manifesto foi lido por Caci Amaral, integrante do Grupo de Trabalho Democracia Participativa.
A iniciativa do manifesto é da Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Instituto Ethos, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, o Instituto São Paulo contra a Violência, a Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo e a Sociedade Santos Mártires.
Posteriormente, o documento será entregue ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardoso.
Os Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem) revelam como anda o nível de satisfação dos paulistanos em relação à qualidade de vida e bem-estar em sua cidade. A pesquisa aborda 25 temas, alguns com aspectos subjetivos, como sexualidade, espiritualidade, aparência, consumo e lazer, e outros que tratam de condições mais objetivas de vida, como saúde, educação, meio ambiente, habitação e trabalho.
O levantamento apresenta também, pelo sexto ano consecutivo, o nível de confiança da população nas instituições (Prefeitura, Câmara Municipal, Polícia Militar, Poder Judiciário etc.) e a avaliação do poder público e dos serviços por ele oferecidos. Tempo de espera por uma consulta médica e tempo de espera nos pontos de ônibus são alguns dos itens que integram a pesquisa.
Para esta edição do Irbem, foram entrevistados 1.512 moradores da capital paulista com 16 anos ou mais, entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2012. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Fonte: Rede Nossa São Paulo