Denise Delboni, professora da FGV, estará no painel “Como os valores femininos podem impulsionar negócios sustentáveis no Brasil”.         

 

O mundo está mergulhado numa mudança de era, na qual se desenvolvem atuações mais responsáveis em relação aos recursos naturais e às demandas sociais existentes. Junto com a transformação de cadeias de produção e formas de operar em curso, despontou também uma maior liderança de mulheres, que saíram do papel de coadjuvantes para assumir postos de direção e a presidência em pequenas, médias e grandes empresas, assim como no cenário político de várias nações.

A atuação feminina pode não ser muito diferente da masculina quanto à preocupação com bons resultados. Contudo, pode trazer vantagens com uma escuta mais atenta e uma adaptação mais ágil aos feedbacks obtidos no que se refere à gestão. É o que defende Denise Delboni, professora da FGV, da PUC e da ESPM e coordenadora do Programa 10 Mil Mulheres Empreendedoras, fruto de uma parceria entre a Fundação Goldman Sachs e a FGV-SP.

Denise será uma das palestrantes no painel “Como os valores femininos podem impulsionar negócios sustentáveis no Brasil”, que será realizado no segundo dia da Conferência Ethos 2013 (4/9). Ela atuou em empresas de grande porte, como a Companhia Suzano de Papel e Celulose e a Johnson & Johnson, e é autora de vários artigos publicados em congressos internacionais e de livros na área de relações trabalhistas.

Ao lado dela estarão Claudia Lorenzo, diretora de Negócios Sustentáveis da Coca Cola, Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade do Walmart Brasil, Alice Freitas, diretora executiva da Rede Asta, e Ana Carolina Mendes dos Santos, assessora técnica da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente.

Denise concedeu esta entrevista ao Ethos, na qual expõe sua visão sobre o momento que as empresas brasileiras atravessam e como organizações e a visão feminina influenciam esse cenário.

Instituto Ethos: Muitas empresas brasileiras vêm adotando melhores práticas em seu modo de produção. Como é possível ajudá-las a fazer frente à alta competição do mercado e, ao mesmo tempo, avançar na direção de ciclos sustentáveis?
Denise Delboni: Embora o conceito de sustentabilidade seja mais associado à preservação ambiental, não podemos esquecer que ações sociais, a preocupação com a economia local, o desenvolvimento de empregados e até mesmo as formas de contratação dos trabalhadores também são fatores ligados à sua prática. Ou seja, são questões com as quais a empresa deve preocupar-se para garantir sua sobrevivência num mercado que permaneça adquirindo seus produtos ou serviços.

Mesmo assim, é fato que as empresas, em sua maioria, veem nas práticas sustentáveis sinônimo de aumento de custos para suas operações, o que nem sempre combina, pelo menos num primeiro momento, com maior lucratividade. Portanto, pensar em produção limpa, projetos sociais, ações voltadas para um ambiente de trabalho saudável é, muitas vezes, algo que passa longe dos inúmeros problemas que devem ser digeridos diariamente pela grande maioria das empresas brasileiras, sobretudo as de micro, pequeno e médio portes. Elas estão mais preocupadas em otimizar a produção, atrair e manter sua clientela, sobreviver aos pesados impostos, resolver pendências trabalhistas, ou seja, várias situações que têm caráter emergencial para que não sucumbam. Deste modo, acabam deixando em segundo plano questões relacionadas à sustentabilidade.

Em relação a isso, o governo pode também ter um papel significativo, não por meio de penalidades (como as que ocorrem na esfera trabalhista, ambiental e tributária), mas por meio de incentivos para práticas desejadas e adequadas à nossa sociedade.

IE: O Brasil tem leis avançadas nas áreas social e ambiental, mas há ainda um longo caminho até que isso se reflita de fato nas práticas existentes. Como o processo de passar da visão para ação pode ser acelerado?
DD: A maioria das pessoas responderia que os consumidores têm um papel fundamental nesse efeito desejado, na medida em que agem de forma mais consciente, sobretudo nas sociedades mais desenvolvidas, podendo deixar de utilizar produtos ou serviços de empresas pouco preocupadas com seus empregados ou com o ambiente em que estão inseridas. Portanto, os consumidores podem chamar a atenção da empresa para o que consideram inapropriado.

Mas, a resposta das empresas pode não ser tão rápida nos casos de produtos ou serviços em que há monopólio no mercado ou cujos preços são muito baixos quando comparados aos praticados pela concorrência. Tais situações acabam levando a empresa a esquecer conceitos como sustentabilidade ou ética.

Assim, entendo que passar da visão para a ação envolve obrigatoriamente o comportamento de presidentes e gestores de empresas, ao definirem suas diretrizes, missão e valores, além de criarem mecanismos de punição e recompensa para as pessoas envolvidas no processo produtivo, desde a escolha de fornecedores até a preocupação com pessoas, na organização.

Esta é a única forma de manter uma cultura sustentável, a partir da força que as corporações e o ambiente de trabalho exercem hoje sobre o cidadão, com reforço dos valores que se pretende ver alastrados internamente. Eu diria que a ação gerencial é o mais importante para a mudança de comportamento. E esses profissionais desejados podem, inclusive, ter seu perfil bem delimitado desde os processos seletivos nas empresas até o condicionamento a bônus ou prêmios a partir de suas ações.

IE: Qual é a importância para o Brasil de institutos e ONGs voltados para a promoção e o fortalecimento da responsabilidade social empresarial?
DD: As ONGs podem ajudar a partir de parcerias, sobretudo com micro e pequenas empresas, estimulando a consciência e práticas de sustentabilidade, muitas vezes tão distantes dos empresários que iniciam suas atividades quase que sem capital e sem informações sobre o setor e sobre práticas de mercado. Elas também têm um papel importante ao influenciar a mudança e a adequação de leis no país. Portanto, sua importância é inconteste em aspectos educacionais e legais.

Além disso, há espaço, também, ainda no quesito educação, para que pensem na criação de índices de sustentabilidade empresarial e monitoramento, a exemplo do que fez a BM&F Bovespa com o Indice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), nesse caso com foco apenas em questões de sustentabilidade socioambiental.

IE: Na sua opinião, quais são e onde estão as melhores oportunidades ligadas a negócios sustentáveis e responsáveis no país para mulheres empreendedoras?
Serviços para hotelaria, industrialização de cosméticos, moda (novos materiais, por exemplo), de preferência em regiões pouco desenvolvidas, o que uniria o necessário ao desejável. Elas também podem repensar processos considerados sujos em termos de resíduos ou uso excessivo de recursos escassos. Podem também oferecer trabalho e integração a determinado local, com o desenvolvimento econômico de regiões onde a oferta de mão de obra sem qualificação é um grande problema e onde, por consequência, não chegam as grandes organizações para a qualificação desses trabalhadores, resultando em ausência de desenvolvimento de grandes áreas no país, sem qualquer poder de compra de sua população.

IE: O que difere uma liderança feminina de uma masculina?
DD: Não vejo diferença de gênero, se pensarmos em bons líderes, preocupados com o reflexo de suas ações na sociedade e na perpetuação da própria empresa.

Mas é fato que as mulheres podem contribuir melhor com o conceito de sustentabilidade a partir de uma percepção mais aguçada sobre os resultados de sua atuação. Nesse quesito, acredito que elas sejam mais preocupadas com o feedback (positivo ou negativo) de sua gestão, o que pode desencadear ações mais imediatas, acelerando a retomada de projetos, por exemplo, ou descartando outros considerados inadequados para a manutenção sustentável dos negócios da empresa em que atuam.

Além disso, há vários estudos comprovando que a mulher beneficiada por um processo de educação ou aumento de renda provoca maior crescimento e desenvolvimento das pessoas ao seu redor, começando pela família até toda uma comunidade. Ou seja, é fato que a mulher multiplica mais rapidamente as coisas que aprende, o que poderia contribuir para a formação de pessoas mais preocupadas e comprometidas com a disseminação mais acelerada, no futuro, de práticas sustentáveis nas empresas.

Por Neuza Arbocz, para o Instituto Ethos

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CONFERÊNCIA ETHOS 2013
Realização:
 Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social;
Parceiros Institucionais: Alcoa, CPFL, Natura, Vale e Walmart;
Parceiro Estratégico: Roland Berger
Patrocinadores “Master Apresenta”: Bradesco, CPFL Energia, Itaú Unibanco, Petrobras, Santander e Sebrae;
Patrocinadores Ouro: Bradesco, Itaú Unibanco e Santander;
Patrocinador Prata: Caixa;
Patrocinadores Bronze: Queiroz Galvão e Shell;
Aliança Estratégica: Avina.

SERVIÇO
O quê: Conferência Ethos 2013, com o tema “Negócios Sustentáveis: Oportunidades para as Empresas e para o Brasil”;
Data: De 3 a 5 de setembro de 2013;
Local: Teatro GEO, no edifício do Instituto Tomie Ohtake;
Endereço: Rua dos Coropés, 88 (altura do nº 201 da Av. Brigadeiro Faria Lima) – Pinheiros, São Paulo (SP);
Inscrições: Pelo site www.ethos.org.br/ce2013.