Dante Gallian, fundador do “Laboratório de Leitura” e facilitador do curso oferecido pelo Uniethos, fala sobre os resultados da metodologia que criou.

O Uniethos, em parceria com a Responsabilidade Humanística, começa, a partir de abril de 2014, a oferecer o curso “Desenvolvimento Humano de Lideranças: Laboratório de Leitura”, em formato aberto e in company.

Formulado a partir da metodologia de “Laboratório de Leitura” e fundamentado na reflexão e discussão sobre clássicos da literatura universal, esse curso se apresenta como um meio privilegiado de promover a formação humanística no contexto pessoal e profissional.

No dia 18 de fevereiro será realizada no Uniethos uma palestra gratuita para apresentação do curso.  No encontro, o historiador Dante Gallian, fundador e coordenador do “Laboratório de Leitura”, apresentará detalhadamente a metodologia a ser desenvolvida nesse novo curso.

Gallian é doutor em história social pela USP, com pós-doutorado pelo Centre de Recherches Historiques (CRH) da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, França. Docente associado e diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, é também pesquisador do CNPq e da Fapesp, professor visitante do CRH e pesquisador visitante do Center of Humanities and Health do King’s College de Londres. Atua ainda como professor da Casa do Saber.

Nesta entrevista ao Notícias da Semana, o historiador conta como será o curso e fala dos resultados que tem alcançado com a aplicação dessa metodologia.

Notícias da Semana: O que é o curso “Desenvolvimento Humano de Lideranças: Laboratório de Leitura” e como surgiu a ideia?
Dante Gallian: O “Laboratório de Leitura” é fruto de uma experiência acadêmica que visava a formação humanística e a humanização de profissionais da saúde. Começou a ser aplicado com sucesso em vários outros cenários, dentre eles o coorporativo, mostrando que a demanda pela humanização é algo global. Depois de uma experiência piloto no Hospital do Coração e na Natura, resolvemos buscar parcerias para disseminar essa ideia no mundo corporativo, e a parceria com o Uniethos nos pareceu algo muito pertinente e adequado, por causa da harmonia de propósitos.

NS: Fale sobre a metodologia do “Laboratório de Leitura”. Como a leitura e reflexão dos grandes clássicos da literatura pode se apresentar como um instrumento ao mesmo tempo prazeroso e eficaz para a formação de lideranças empresariais?
DG: Partindo da constatação de que o processo de humanização – e,portanto, de desenvolvimento de líderes mais humanos, criativos e inteligentes – não pode partir de uma abordagem meramente técnica, resultado de “treinamento”, mas sim de uma vivência que abarque o humano em suas dimensões afetiva, intelectual e volitiva (ou atitudinal), percebemos que a experiência estética, provocada, por exemplo, pela leitura das obras clássicas da literatura, é algo que mobiliza essas três dimensões, desencadeando um processo que chamamos de “ampliação da esfera do ser”. A metodologia do “Laboratório de Leitura” foi desenvolvida para que esse processo ocorra de forma que, numa perspectiva de formação, consigamos contribuir para o desenvolvimento de líderes diferenciados do ponto de vista humanístico.

NS: Essa metodologia já tem sido utilizada pela Responsabilidade Humanística em grupos domiciliares e em cursos in company. Que resultados você tem observado durante e após a realização dos encontros?
DG: Depois de termos avançado na compreensão do “fenômeno humanizador” provocado pela experiência do “Laboratório de Leitura” no âmbito acadêmico, começamos a aplicá-lo em outros cenários, obtendo sempre resultados surpreendentes. Essa metodologia vem contribuindo não apenas para a formação de leitores como também para o desencadeamento de um rico processo reflexivo que acaba repercutindo na visão de mundo e nas próprias atitudes das pessoas. Isso, obviamente, se aplica não só às dimensões da vida profissional e familiar, mas até mesmo numa perspectiva existencial. Assim, temos testemunhos de participantes que atestam o efeito transformador da experiência do “Laboratório de Leitura”, tanto no aspecto do desenvolvimento da criatividade, quando aplicado na dimensão da inovação, quanto no encontro consigo mesmo, numa dimensão efetivamente terapêutica.

NS: Os profissionais de empresas, principalmente executivos, têm demonstrado interesse em incorporar a dimensão humana em seu desenvolvimento e cotidiano profissional?
DG: O interesse em nossa proposta e em outras semelhantes é crescente. Creio que isso se deve, basicamente, a dois aspectos. O primeiro é a percepção de que o processo de formação não pode mais se restringir a fórmulas, técnicas e receitas, frutos de uma perspectiva desumanizadora que vigora em nossa cultura corporativa e que, portanto, deve buscar no resgate das humanidades, das artes e da experiência estética e reflexiva suas novas fontes de desenvolvimento e crescimento. O segundo aspecto é o impacto fundamentalmente patológico que toda essa cultura desumanizadora tem demonstrado nas últimas décadas, fazendo da questão da cultura corporativa quase um tema de saúde pública. A humanização, baseada na experiência estética e na reflexão, tem mostrado ser não apenas um meio eficaz de desenvolvimento de novos líderes como também um meio promotor de saúde no sentido mais amplo e pleno do termo. Vivemos numa sociedade doente e as pessoas, que estão doentes, procuram novos remédios para essas novas doenças. Creio que o “Laboratório de Leitura” é essencialmente isso: uma possibilidade de remédio humanizador diante das patologias da modernidade.

Por Margarida Curti, do Uniethos