Ethos e TFD abrem um diálogo internacional para debater saídas para as crescentes demandas da sociedade por alimentos, biocombustíveis e fibras.

Na tentativa de criar um ambiente favorável e soluções para as disputas relativas ao uso da terra, o Instituto Ethos e o The Forests Dialogue (TFD), iniciativa internacional que se propõe a buscar soluções para as demandas dos chamados 4Fs (food, fuel, fiber e forests – alimentos, biocombustíveis, fibras e gestão de florestas), abrem o Diálogo 4Fs Brasil, que envolve diferentes atores. O objetivo é criar condições de debater saídas para as crescentes demandas da sociedade por alimentos, biocombustíveis e fibras, mantendo a floresta em pé e promovendo a inclusão social.

Por essa razão, organizações como Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Syngenta, Fibria e Marfrig, entre outras empresas, estão dispostas a participar de uma série de encontros que devem resultar em propostas para os dilemas dos negócios florestais. “A briga que surgiu em torno do Código Florestal é fruto de uma sociedade complexa e de setores com visões diferentes sobre o tema, mas que nunca haviam dialogado sobre as formas de usar seus recursos “, afirma Carlos Roxo, gerente de sustentabilidade da Fibria.

No primeiro encontro, no fim de 2012, cerca de 40 pessoas entre membros de ONGs ambientalistas, como WWF-International e a IIED, pesquisadores de ciências ambientais, representantes de empresas e entidades dos setores de alimentos, papel e celulose e biocombustíveis, estiveram na cidade de Capão Bonito, no interior de São Paulo. Com produção agrícola diversificada, presença de pecuária, indústria de papel e celulose, madeireiras e mineração, o local é conhecido pela forte degradação de sua Mata Atlântica e por constantes conflitos sociais. Representantes da agricultura familiar, quilombolas e MST também foram convidados para o diálogo.

“Longe de ser uma rodada de negociação com pauta definida em busca de consensos, a ideia é discutir livremente os principais desafios e levantar questões, sem a preocupação de terminar o encontro com uma pauta definida”, diz Gary W. Dunning, diretor executivo do The Forests Dialogue.

“Esta é a primeira vez que os diferentes setores sentam juntos à mesa para olhar num nível macro a melhor forma de gerir a terra para suas atividades”, afirma Caio Magri, gerente de Políticas Públicas do Instituto Ethos. “É preciso pensar num sistema rural integrado, no qual os setores envolvidos consigam desenvolver uma estratégia de produção sustentável e que supere seus próprios desafios.”

Uma das principais conclusões até o momento é a possibilidade real de aumentar a produção usando apenas as terras de baixa produtividade, estimadas em 90 milhões de hectares. Tudo depende de uma gestão territorial inteligente e eficiente.

A cana-de-açúcar, por exemplo, pode dar grande contribuição às discussões. Em 2003, a cana ocupava 7 milhões de hectares e avançou para 9 milhões de hectares em 2012. Se a demanda por etanol, açúcar e energia atender à expectativa de crescimento esperado, até 2020 será preciso dobrar a produção anual de cana para 1,2 bilhão de toneladas. Para isso, o governo federal elaborou o Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, com o apoio da Embrapa, para orientar a expansão do setor em áreas que não atinjam vegetação nativa da Amazônia e do Pantanal e que sejam viáveis para a cana. De acordo com o zoneamento, o Brasil teria 65 milhões de hectares de terras com essas características para serem aproveitados.

“Isso mostra que há possibilidades de sobra para expandir os negócios sem novos desmatamentos”, diz Luiz Fernando do Amaral, gerente de sustentabilidade da Unica. “Essa não é a saída apenas para a cana, mas para os outros setores também.” Amaral lembra que o plano ABC do governo federal para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na agricultura prevê a liberação de 15 milhões de hectares de terras abandonadas de pastagens para uso em outras atividades. Essa área equivale a um quarto do território ocupado pela agricultura brasileira, estimado em 60 milhões de hectares.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento criou o Núcleo de Gestão Territorial da Agricultura com o objetivo de mapear o estoque de terra, traçar o cenário para o agronegócio e montar um plano de uso do solo sem mexer em novas áreas.

Por Gisele Paulino, para o jornal  Valor Econômico

Legenda da foto: Plenária do Diálogo 4Fs Brasil em Capão Bonito (SP), em novembro de 2012.
Crédito: Cristiano Oliveira