A aprovação coincide com campanha da empresa que ressalta sua preocupação em aliar produção em larga escala com proteção da biodiversidade.
A Native Produtos Orgânicos acaba de ser admitida como membro da União para o BioComércio Ético (UEBT – Union for Ethical Biotrade). Para ingressar na organização, a empresa teve de demonstrar compromisso com práticas de abastecimento que promovem a conservação da biodiversidade, respeitam o conhecimento tradicional e garantem a partilha dos benefícios na cadeia produtiva. A Native é a primeira empresa do mundo no ramo do açúcar e do álcool a fazer parte do seleto grupo da UEBT. No Brasil, somente treze empresas são membros da entidade, entre elas a Natura, empresa líder no setor de cosméticos.
O ingresso da Native na UEBT coincide com o lançamento da nova campanha de divulgação da empresa, que começou a ser veiculada no início de outubro e cujo conceito é “Gerando biodiversidade”.
Sediada no interior paulista, a Native é a maior fabricante mundial de açúcar e álcool orgânicos. O grupo empresarial do qual a empresa faz parte processa cerca de 6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano para produzir 300 mil toneladas de açúcar e 300 mil m3 de álcool, além de mais de 200 mil MWh de energia elétrica. Os canaviais orgânicos somam 21 mil hectares e são capazes de suprir a Native com matéria-prima suficiente para produzir 80 mil toneladas de açúcar e 60 mil m³ de álcool, ambos orgânicos.
Já os produtos alimentícios orgânicos da Native – cerca de 70 – chegam à mesa de consumidores de mais de 60 países. “A atitude da empresa em criar um negócio em larga escala, lucrativo e que incorpora aspectos do biocomércio ético no processo produtivo faz da Native uma empresa pioneira no mercado brasileiro e uma combinação perfeita com os princípios da UEBT”, ressalta Cristiane de Moraes, representante da organização no Brasil.
De acordo com a UEBT, a produção de alimentos orgânicos, açúcar e etanol orgânico para a indústria de cosméticos ajuda no atendimento aos critérios do biocomércio ético ao longo da cadeia produtiva, inclusive na relação com os fornecedores, fator decisivo para ser um membro comercial da organização.
Mercado ético
Ao ingressar na UEBT, a empresa se compromete a respeitar os princípios de BioComércio Ético. Isso significa usar práticas que promovam o uso sustentável dos ingredientes naturais, garantindo ao mesmo tempo que todos os que fazem parte da cadeia de abastecimento recebam uma remuneração justa e compartilhem os benefícios derivados do uso da biodiversidade. Ao adotar as práticas de biocomércio ético da UEBT, as empresas promovem relacionamentos de longo prazo com suas comunidades provedoras, criando empregos, contribuindo para o desenvolvimento local e ajudando a preservar a biodiversidade da região.
É o caso do sistema agroecológico implantado pela Native em suas fazendas, o qual chamou a atenção da UEBT. Desde 2002, um estudo científico coordenado pela Embrapa Monitoramento por Satélite tem confirmado as fazendas da empresa como ambientes altamente propícios a gerar biodiversidade – daí o mote da nova campanha publicitária. O estudo faz o inventário dos vertebrados superiores existentes nas áreas de cultivo orgânico da cana-de-açúcar. Em cerca de 2.800 levantamentos de campo, foram identificadas mais de 330 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios nas fazendas da empresa, das quais 49 estão reconhecidamente ameaçadas.
O investimento da Native em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias ajudou a estabelecer práticas inovadoras de cultivo e processamento da cana-de-açúcar que ajudam a conservar o meio ambiente com baixas emissões de gases de efeito estufa. “Somos uma nova geração de produtores de cana-de-açúcar que nos distanciamos das práticas degradadoras empregadas no passado pelo setor açucareiro no Brasil”, ressalta Leontino Balbo Júnior, vice-presidente da Native.
Balbo lembra que cerca de US$ 25 milhões foram empregados no projeto que revolucionou os métodos de produção açucareira na empresa, envolvendo desde o preparo da terra até o desenvolvimento de embalagens especiais para a comercialização dos produtos.
Desde 1981, a Native desenvolve técnicas agronômicas sustentáveis no âmbito do Projeto Cana Verde, que incluem o controle biológico de pragas, a recomposição da vegetação nativa em áreas prioritárias para conservação ambiental, adubações verdes em rotação de cultura e a eliminação das queimadas de palha antes da colheita. Tudo isso faz parte de um sistema mecanizado de produção e colheita de cana crua, no qual a própria colhedora deposita a palha verde da cana no solo, criando uma cobertura morta extremamente benéfica para sua regeneração.
A empresa não utiliza insumos químicos sintéticos ou organismos geneticamente modificados. Os nutrientes gerados no processo produtivo são todos reutilizados. O bagaço da cana gera não apenas toda a energia necessária para a produção industrial, mas também um considerável excedente de energia elétrica, que é comercializado por meio da rede de distribuição.
As ilhas de biodiversidade – mata nativa em meio à plantação de cana – enriquecem a biodiversidade das áreas de cultivo e contribuem para o equilíbrio ambiental. Com essas práticas, a Native criou condições de vida para muitas espécies de animais que não sobrevivem em plantios tradicionais.
Os canaviais orgânicos mantidos pela Native tornaram-se assim uma extensão dos habitats originais para a maioria das espécies. Embora não sejam suficientes para suprir totalmente abrigo e condições de reprodução a vertebrados superiores de topo de cadeia, esses habitats são decisivos na ampliação da dimensão do nicho alimentar de toda a cadeia, desde os micro-organismos até predadores superiores, como a onça-parda, o cachorro-do-mato e o lobo-guará.
Por Jaime Gesisky