Moradores e entidades assumem o papel de garantia da subsistência dos mais vulneráveis

A nova rodada da pesquisa de coleta de dados do “Painel de monitoramento com lideranças comunitárias sobre os impactos do avanço da pandemia do Covid-19”, realizada pela Rede de Pesquisa Solidária, ouviu, identificou e sistematizou problemas críticos relatados por lideranças de mais de 70 comunidades, bairros, territórios e localidades de alta vulnerabilidade social em diferentes regiões metropolitanas do país.

Para este, que é o 12º Boletim da iniciativa “Covid-19: Políticas Públicas e as Respostas da Sociedade”, foram contatadas as mesmas lideranças da primeira onda de monitoramento consolidada no Boletim 7, assim como novos representantes de outras regiões metropolitanas, o que aumentou o escopo territorial da pesquisa. Desta vez, além de seis regiões metropolitanas de Manaus, Recife, DF, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, foram incluídos relatos de lideranças das regiões de Campinas, Salvador, Joinville e Maringá.

As entrevistas foram realizadas entre os dias 25 de maio e 05 de junho de 2020. Como na primeira onda, os resultados foram colhidos do depoimento direto de 79 lideranças (de um total de 108 contatadas), que responderam perguntas rápidas e padronizadas por meio de aplicativos de celular.

Dentre as questões observadas, destaca-se que o poder público, em seus diferentes níveis, é tratado com desconfiança e descrédito. A ineficiência ou ausência do poder público estimula a formação de redes de moradores e entidades voltadas para garantir a sobrevivência nas comunidades.

Além disso, o aumento das mortes pela Covid-19 tornou-se flagrante para as comunidades: os relatos foram de 0% na primeira para 16,5% nesta segunda rodada de entrevistas. A expansão do contágio, que havia marcado 5,6% dos informes, saltou para 30,4% nesta segunda onda de monitoramento.

Resultados

A nova coleta de dados do Painel aponta que os problemas materiais causados pela pandemia – como fome e dificuldade de acesso à renda e emprego – figuram novamente como os mais citados entre as lideranças comunitárias de dez regiões metropolitanas do país. Cerca de 67% das lideranças trouxeram relatos sobre fome e privação de alimentação. O acesso a trabalho e renda segue como o segundo problema mais citado, situação que se agrava por conta das dificuldades de acesso ao Auxílio Emergencial do governo federal, apontado por cerca de 30% dos informantes.

Mas, um tema que emergiu espontaneamente nessa nova coleta foi o aumento da insatisfação com a atuação do governo no enfrentamento da crise sanitária, também reiterando relatos recorrentes de falhas e lacunas no acesso a políticas públicas diversas. “As duas ondas de monitoramento registraram ausências e falhas significativas na oferta de serviços de saúde, nos benefícios emergenciais que não chegam e na descontinuidade e imprecisão de ações de informação e de prevenção contra o vírus. Apesar dos esforços das inúmeras redes de solidariedade e de ajuda ocasional do próprio poder público, 40% das lideranças relataram que a doação de alimentos não é suficiente e apresenta problemas de coordenação e logística de difícil solução”, destaca o documento.

Frente a isso, 88% das lideranças e dirigentes de associações de bairro e de coletivos populares relataram a disseminação de iniciativas desenvolvidas pelas próprias comunidades para aplacar as necessidades materiais ou para educar e informar a população sobre as medidas mais adequadas de cuidado e prevenção contra a Covid-19.

O décimo segundo boletim traz ainda: novos problemas identificados na pesquisa com as comunidades, iniciativas que vêm sendo adotadas pelas lideranças comunitárias e recomendações.

Confira o documento na íntegra em: redepesquisasolidaria.org

Por: Rejane Romano, do Instituto Ethos

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