Na HSM Expomanagement 2012, o Ethos fez a curadoria da Estação Sustentabilidade em Foco e organizou o painel de CEOs que fechou o evento.
Por Jorge Abrahão*
Terminou no último dia 7 de novembro, em São Paulo, a HSM Expomanagement 2012, um dos maiores eventos de negócios da América Latina. Este ano, o Instituto Ethos fez a curadoria da Estação do Conhecimento Sustentabilidade em Foco e realizou um encontro com CEOs no fechamento do evento.
Com o auditório sempre lotado, a Estação Sustentabilidade fez um balanço a respeito da internalização dos critérios do desenvolvimento sustentável na estratégia das empresas.Vamos comentar alguns dos aspectos desse evento.
A HSM Expomanagement é um evento anual do mundo corporativo que coloca em contato dezenas de milhares de executivos brasileiros com as últimas tendências mundiais em gestão, contribuindo para o desenvolvimento de pessoas, empresas e do próprio país.
Este ano, o Instituto Ethos foi convidado pelos organizadores para fazer a curadoria da Estação do Conhecimento Sustentabilidade em Foco, que integra a Mostra de Conteúdos e Soluções, um espaço exclusivo para convidados, com programação especial sobre diversos temas e tendências de gestão. A participação do Ethos, que elaborou e levou à frente a programação da Estação Sustentabilidade, demonstra que os executivos de empresas dos mais diversos setores já percebem a necessidade de mudar a maneira de fazer negócio, no sentido do desenvolvimento sustentável.
Mas o que fazer, para onde ir? As soluções que interessam aos conselhos e acionistas são as mesmas que atendem as demandas dos públicos interessados no negócio? Estas e outras questões foram abordadas em três dias de palestras, que contaram com a presença de alguns dos nomes mais importantes do mundo empresarial brasileiro. Nos dias 5, 6 e 7 de novembro, o auditório da Estação recebeu um público expressivo e interessado.
O Instituto Ethos convidou Aron Belinky, da ONG Vitae Civilis, Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia da USP, Stuart Hart, professor de Empresas Globais Sustentáveis e de administração na Johnson School of Management, da Cornell University, e Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itaú-Unibanco, só para citar alguns nomes.
Entre os temas debatidos no primeiro dia estava a Rio+20 e as oportunidades que ela abriu para as empresas. Os palestrantes foram Aron Belinky, da ONG Vitae Civilis, e Luiz Eduardo Rielli, gerente de Sustentabilidade da CPFL Energia, Marcus Nakagawa, presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps), foi moderador. Eles concluíram que o período que se pode chamar de “pós-Rio + 20” gerou conhecimento sobre desenvolvimento sustentável que ainda está desarticulado, pulverizado, e talvez por isso cause essa sensação de fracasso. É preciso ligar os pontos e isso vai ser feito ao longo do tempo.
Na palestra seguinte, Oded Grajew ressaltou que as cidades do futuro precisam ser mais acolhedoras e essa premissa abre uma série de oportunidades para as empresas.
Em seguida, Ricardo Abramovay, professor do Departamento de Economia da FEA-USP, falou sobre as contas com as quais as empresas não estão acostumadas a lidar – os custos socioambientais ligados à sua existência e atividade – e sobre outros desafios que as empresas do século XXI terão de enfrentar para se adequar às necessidades de um desenvolvimento sustentável. Dimensão material e energética inédita das desigualdades do mundo contemporâneo, problemas do sistema econômico atual em relação às fronteiras e limites ecossistêmicos e necessidades básicas que devem ser preenchidas pela produção material e pela oferta de bens de serviço foram alguns dos tópicos abordados por Abramovay. O economista destacou que uma resposta para esses problemas é a inovação tecnológica.
Valor compartilhado
O segundo dia de debates na Estação Sustentabilidade começou com uma palestra do professor Stuart Hart, que surpreendeu a plateia ao discorrer sobre o que ele acredita ser o novo perfil de negócios do século XXI: em vez de colocar a atenção em melhorias do mercado atual e seus processos, a empresa deve focar na criação do mercado “de amanhã” (que ainda está por vir) e como conseguir tecnologias verdes para viabilizá-lo. Deve considerar que no mercado “de amanhã” deverão ser incluídos aqueles consumidores que até então estavam do lado de fora. Portanto, o negócio deverá ser estruturado de modo a ter um fator de “distribuidor de igualdade”.
Como fazer isso? Uma das possíveis respostas pode estar no conceito discutido na palestra seguinte: a geração de valor compartilhado, que significa envolver no processo todos os colaboradores, acionistas, clientes e outros stakeholders, mesmo aqueles de fora do processo, estimulando seu desenvolvimento econômico e profissional.
Camila Valverde, diretora de Sustentabilidade da Walmart, trouxe o case “Clube dos Produtores” para ilustrar o conceito de valor compartilhado. Há dez anos, o Clube dos Produtores dá a fornecedores, especialmente os pequenos e médios, acesso ao grande varejo; e, a clientes, acesso a produtos de qualidade superior e produção mais sustentável. Consolida-se como uma via para promover o incremento de renda no campo ao prover o acesso desses fornecedores à rede de lojas do Walmart para a comercialização de suas mercadorias, sem intermediários. A iniciativa alcança 12 Estados, 365 municípios e 9.185 famílias que vivem da agricultura familiar. Os itens provenientes do Clube dos Produtores já respondem por aproximadamente 17,7% das compras do setor de hortifrutigranjeiros da empresa.
Sustentabilidade para investidores
No último dia de atividades (7/10), as palestras da Estação Sustentabilidade foram dedicadas a avaliar o papel do investidor e dos conselhos de administração para fazer avançar a sustentabilidade nos negócios. Mas, o ponto alto do dia foi o encontro de CEOs no auditório principal, fechando a HSM Expomanagement.
O painel discutiu o papel social das empresas na nova economia e contou com a participação de Jorge Abrahão, José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria, Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina, e Oded Grajew, presidente emérito do Ethos e coordenador-geral do Programa Cidades Sustentáveis.
O debate foi importante porque reforçou a ideia de que as empresas podem contribuir muito para o desenvolvimento sustentável se estiverem alicerçadas em três pilares:
1. Gestão socialmente responsável, com indicadores, planejamento e relatórios, entre outras ferramentas que direcionem e atestem essa atuação;
2. Compromisso com práticas sustentáveis, relacionadas a diversos temas que são caros para toda a sociedade: clima, mobilidade, diversidade, entre outros; e
3. Sustentabilidade como parte da estratégia dos negócios, promovendo o desenvolvimento social, ambiental e econômico.
E podem ir além de seus limites, contribuindo para a formulação e aprovação de políticas públicas voltadas para o avanço do desenvolvimento sustentável na economia e na sociedade.
Franklin Feder mostrou como esses desafios foram incorporados pela Alcoa, em três dimensões da sustentabilidade:
1. Produto e produção: o alumínio é o material da nova economia, pois é altamente reciclável, leve e duro. Por outro lado, sua produção gera muitos resíduos, o que demanda altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias inovadoras;
2. Aumento da eficiência no uso dos insumos, sendo que o principal é a energia;
3. Atração e retenção de talentos profissionais: a nova geração busca empresas engajadas com o desenvolvimento sustentável.
Mas, para mudar o negócio e, a partir daí, ajudar a transformar a sociedade, a empresa precisa construir uma nova cultura organizacional, com foco na sustentabilidade, começando pela alta direção. José Luciano Penido, da Fibria, lembrou que essa nova cultura é tão urgente quanto os desafios que a empresa precisa enfrentar e que já estão batendo às portas: a escassez de recursos naturais, as mudanças climáticas, a queda na produtividade agrícola, o crescimento demográfico e outras transformações que exigem uma nova maneira de fazer negócio.
Oded Grajew lembrou que os empresários representam um dos mais fortes e organizados setores da sociedade, podendo ser protagonista na transição da economia atual para outra, mas que seja verde, inclusiva e responsável. “Temos a responsabilidade de cobrar políticas públicas que promovam a sustentabilidade”, afirma ele.
Quando se trata de desenvolvimento sustentável no Brasil, ainda existe uma grande distância entre os problemas e as soluções. Mas, o país tem grandes vantagens competitivas que podem ser transformadas em valores sustentáveis.
* Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.