No primeiro artigo dessa série, descrevi como o autor canadense Adam kahane constrói os argumentos para equilibrar empatia (amor) e determinação (poder), relevando a necessidade do equilíbrio entre estes dois eixos para trazer soluções para os problemas mais complexos e urgentes da humanidade.
Caminhando pela experiência de Kahane ele alerta que cada um destes impulsos têm dois lados: o generativo e o degenerativo e são estes dois lados que irei tratar neste artigo.
Poder generativo: é o impulso amplificador, no qual a competição produz melhor resultado. É por intermédio do poder generativo que se criam novas realidades sociais. Sem o poder generativo, nada de novo floresce. O poder como impulso para a autorrealização pode ser mais eficaz se todos trabalharem juntos nos objetivos e não uns contra os outros. É uma força capaz de remover obstáculos, aparar e ajustar os pontos que apareçam como frágeis.
Poder degenerativo: é repressor, despreza, nega e abandona a unidade. Expressa intencionalidade e autoridade e suprime a autorrealização do outro. O lado degenerativo é o lado sombrio do poder. É o que se designa como poder-sobre, aquele que se utiliza da força e da autoridade para sufocar, reprimir e anular o outro na sua capacidade de expressão e deslocamento, progressão, crescimento e atitude.
Na visão de Kahane, o poder torna-se degenerativo quando não levamos em conta o outro, quando não escutamos seus argumentos, desprezando suas crenças e princípios, indiferentes a tudo que possa atrapalhar nossas próprias ambições e desejos.
Amor generativo: é o impulso do conhecimento, do respeito e da ajuda ao outro, a união do que está separado. Como reforça Kahane, o que o fez envolver-se de maneira profunda, é a capacidade enorme de sermos prestativos e generosos, independente de laços afetivos. O lado positivo do amor é a predisposição permanente no sentido de ajudar àqueles com os quais interagiam a se tornarem cada vez mais plenos.
O amor é entendido como uma predisposição na direção de ajudar outra pessoa a tornar-se completa e a desenvolver seu potencial. Amor não é algo que, de repente, nos arrebata, é um ato de vontade. O amor é o impulso do conhecimento, do respeito e da ajuda ao outro, reunindo o que está separado.
Amor degenerativo: O lado degenerativo do amor manifesta-se com a imobilidade diante de problemas complexos. O amor degenerativo fixa os seus esforços apenas no diálogo, não levando em conta a necessidade de reconhecer a existência de um poder que, por vezes, se faz necessário. De acordo com o educador Paulo Freire “ignorar o poder é prova de ingenuidade ou má-fé”.
Muitas vezes, o fracasso do diálogo encontra-se na falta ou ausência de mecanismos que possam institucionalizá-los; e desta forma trazer legitimidade. O amor sem poder é muito arriscado, dado que o poder é uma realidade que pode estar oculto, jamais ausente. E, por isso, o amor se torna degenerativo, pois abafa, reprime e silencia as distintas opiniões e ideias dos indivíduos, impedindo a autorrealização.
No próximo e último artigo, trarei como Kahane sugere como alcançar o equilíbrio entre o amor e o poder na superação de problemas mais complexos.
Por: Fábio Risério, sócio diretor da Além das Palavras, consultoria que atua no engajamento estratégico dos temas de Integridade e Sustentabilidade nos negócios e professor das disciplinas de Ética Empresarial e Negócios e Organizações Sustentáveis na FDC, FIA e PUC-Campinas.
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