Por: Reinaldo Bulgarelli, secretário-executivo do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+

Quando uma pessoa que se apresenta como não binarie chega na empresa para competir por uma vaga, ela leva consigo toda uma geração que está dizendo que a forma como entendemos a diversidade sexual e de gênero mudou, está mudando e vai mudar ainda mais. Nem precisa perguntar se estamos preparados para esse tema porque ninguém está, nem mesmo as pessoas não binaries. A inclusão da diversidade sexual e de gênero na empresa não deixa ninguém de fora dos seus questionamentos às estruturas atuais e dos desafios específicos que exigem repensar e transformar políticas, processos, posturas, procedimentos, paredes, palavras, práticas internas e externas. Vem junto com essa pessoa candidata à vaga um convite para esse repensar e para a empresa assumir uma efetiva postura inclusiva, o que pode implicar celebrar o Dia do Orgulho LGBTI+ e receber críticas dos que elegeram pessoas LGBTI+ como inimigas da pátria.

Esta edição do Perfil mostra que o quesito LGBTI+ ainda não está presente na maioria das empresa porque não é assumido pelo Estado brasileiro. Quantas são as pessoas LGBTI+ no país para podermos comparar com a realidade da empresa e estabelecer, quem sabe, metas para ampliar o número de colaboradores e o número delas em cargos de liderança? Como conhecê-las se ainda não há normas para se fazer um questionário em que as pessoas LGBTI+ se autodeclarem, informando sua orientação afetivo-sexual, sua identidade de gênero, sua característica sexual ou até sua expressão de gênero?

Esses temas atravessam diariamente, desde 2013, o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, do qual sou secretário-executivo. Essa iniciativa tem como missão colocar em prática para as pessoas LGBTI+ o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. O Fórum estabeleceu, em 2023, que irá contribuir sobretudo para que o Brasil inclua o quesito LGBTI+ no cadastro de trabalhadores, considerando que as empresas participantes e engajadas já fazem isso voluntariamente e com bons aprendizados para compartilharem. Nesse sentido, precisamos agir para tornar o ambiente de trabalho e de relações com diferentes stakeholders mais inclusivo, respeitoso, seguro e saudável. Podemos rever essas estruturas de muitas maneiras para acolhermos novos tempos.

A inovação, tão necessária e desejada pelas empresas, pode estar exatamente na sua capacidade de lidar com demandas sobre como pensar o banheiro e o vestiário, a licença-maternidade e a licença-paternidade, o crachá do colaborador ou da visita, o dress code e tantas outras demandas que parecem inimigas da empresa e podem ser um dos meios mais rápidos para conectá-la com o presente e com o futuro.