Ethos se manifesta sobre o assassinato da vereadora e a agenda de Direitos Humanos no Brasil
“As rosas da resistência nascem no asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando de nossa existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas.” (Marielle Franco em fala sobre o 8 de março)
Março é o mês que marca a luta internacional pelos direitos das mulheres. A data surgiu a partir de um incêndio ocorrido em 8 de março numa fábrica têxtil onde estavam 130 mulheres operárias que reivindicavam melhoria das condições de trabalho. O dia 21 de março também representa a luta internacional pela erradicação da discriminação racial, e foi consagrado pela ONU como marco dessa luta em decorrência do Massacre de Sharpeville, ocorrido na África do Sul, no qual negros e negras de diversas idades foram assassinados durante o regime do Apartheid.
Infelizmente, março também é o mês que marca a morte de Marielle Franco. No dia 14 de março de 2018, a defensora dos direitos humanos e vereadora do Rio de Janeiro, que somava em sua atuação a defesa dessas duas bandeiras, foi assassinada. No atentado que lhe tirou a vida, também foi vitimado o trabalhador Anderson Gomes. Um ano depois, esses crimes permanecem sem respostas.
Esse assassinato também simboliza como o Estado brasileiro lida com as mortes de defensores de direitos humanos. O Brasil é hoje o país com o maior número de assassinatos de defensores de direitos humanos no mundo. De acordo com os dados da organização Global Witness, somente em 2017, 57 defensores de direitos humanos foram assassinados no país. A maioria desses crimes, assim como o assassinato de Marielle, permanece sem respostas definitivas.
Marielle Franco era uma ruptura com o que, tradicionalmente, acontece na política. Mulher negra, nascida e criada nas periferias cariocas, de orientação sexual contra majoritária, rompia com a lógica e estética dominantes nas casas legislativas que, supostamente, representam o povo, mas muito distantes da diversidade que representam na prática. A existência de Marielle permitia que outras jovens como ela, que constantemente escutam que esses cargos não foram feitos para elas, pudessem sonhar em pleitear esses espaços.
Mulheres negras são o grupo mais demográfico da sociedade brasileira – ao todo representam 27% dos brasileiros. No entanto, a representatividade das mulheres negras nos espaços de poder ainda é ínfima. As mulheres negras correspondem a somente 0,5% do Congresso Nacional e 0,2% dos cargos de direção das maiores empresas do Brasil, como aponta o Perfil Social, Racial e de Gênero do Ethos.
O Instituto Ethos reitera o seu compromisso na defesa e garantia dos direitos humanos em prol da construção de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável. É fundamental que surjam respostas para o que aconteceu a Marielle Franco e que se amplie o debate sobre políticas afirmativas e inclusivas que invistam na promoção da igualdade de oportunidades para que mais Marielles ocupem esses espaços. Hoje, 14 de março, devemos celebrar a vida de Marielle Franco, suas lutas, sua história, seu legado. Inúmeros eventos acontecerão no Brasil e no mundo para garantir que a sua memória seja preservada e nunca esquecida.
Por: Sheila Santana de Carvalho, coordenadora de Projetos de Direitos Humanos do Ethos