Entenda as contribuições do Ethos para um país com mais justiça social

O Brasil já foi identificado como um exemplo de democracia racial. Durante muito tempo, em especial no século XX, acreditava-se que o país vivia em paz com o seu passado e que os desafios étnico-raciais não existiam ou haviam sido superados. Não é à toa, coincidência ou uma fatalidade a realidade em que vivemos. A história explica e nos ensina como chegamos até aqui, além de oferecer exemplos de caminhos a serem tomados. A realidade desigual em que vivemos foi uma escolha que, como país, tomamos ao não reparar a população negra após séculos de exploração. Analisando a história com alguns números temos:

Após a abolição da escravatura, o país iniciou um processo de embranquecimento com o incentivo à emigração europeia, por se acreditar que a raça branca era superior, baseado na teoria do determinismo biológico. Observando os números atuais, é possível perceber que as políticas recentes de ações afirmativas e reparação, que incluem a criação de cotas em universidades e concursos públicos e a obrigatoriedade do ensino da história da África nas escolas, ainda não são suficientes, em especial quando a continuidade dos esforços está sendo flexibilizada e até descontinuada.

A desigualdade definida pela cor da pele está em diferentes lugares: na renda, no poder de compra, na distribuição territorial, no acesso à saúde, escolarização e também no mercado de trabalho. Acompanhe alguns dados:

A população negra no mercado de trabalho
Com os resultados da pesquisa Perfil Social Racial e De Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas foi possível identificar cenários desafiadores sobre a distribuição racial nas empresas, entre eles:

Com estes resultados em mãos, o Ethos questionou-se sobre a contradição entre o país ter mais de 50% da população negra e ter uma única CEO negra no país. Com isso, viu-se na responsabilidade de mobilizar organizações e empresas para que este cenário não demorasse 150 anos para mudar, como demonstrava a perspectiva da pesquisa citada. Com isso, lançou, em parceria com o CEERT, a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero.

O Ethos e a luta pela equidade
O objetivo básico é simples e desafiador: acelerar a inclusão de qualidade de negros e negras nas empresas e estimular o setor corporativo a oferecer um ambiente de qualidade para que consigam se desenvolver e crescer. Incluir não basta, é preciso participar e integrar. Em um futuro, o Ethos espera que as práticas de estímulo à inclusão não sejam mais necessárias e sim, que isto vire um hábito e uma prática enraizada nas empresas.

Além disso, o Ethos tem provocado discussões acerca desta temática em diversos espaços, em especial, na Conferência Ethos, que nas edições de São Paulo e do Rio contou com mesas específicas sobre equidade racial e suas facetas. As discussões acerca da inclusão são necessárias e as ações, mais ainda. Diversas iniciativas e caminhos possíveis podem ser tomados para apoiar este processo, entre elas, a técnica dos currículos cegos, a sensibilização dos altos níveis organizacionais para estas questões, o uso de plataforma que conecta profissionais negros com vagas, incluindo as de alta gerência.

Indicadores Ethos
Com o objetivo de apoiar as empresas a diagnosticarem seu próprio cenário quando o assunto é equidade, o Instituto Ethos elaborou guias temáticos específicos para as questões de gênero e de raça. O material serve como ferramenta para as empresas elaborarem seu autodiagnostico, comparem seu desempenho com outras companhias e traçaram caminhos específicos para ampliar a inclusão e desenvolvimento da diversidade.

A ferramenta, que faz parte dos Indicadores Ethos, está disponível para todos associados e o questionário pode ser baixado gratuitamente no site do Ethos. Ele é utilizado em algumas iniciativas do Ethos como o GT Empresas e Direitos Humanos e deve ser usado para medir o avanço das políticas das empresas que aderiram à Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero.

Além da necessidade de as empresas refletirem a diversidade da sociedade brasileira, é preciso um compromisso firme e de longo prazo, incidindo também em políticas públicas para que os programas ganhem escala e provoquem uma mudança estrutural e efetiva na sociedade brasileira. Esta deve ser uma causa de todos nós: uma sociedade em que a desigualdade e a violência não são marcadas pela cor é mais que necessária, é urgente.

 

Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos

Foto: Pixabay