Daniela Aiach, da Amcham, fala sobre a premiação, que desde 1982 vem acompanhando a evolução da sustentabilidade empresarial no país.
O Prêmio Eco, pioneiro em reconhecer a sustentabilidade empresarial no Brasil, chega aos 31 anos com uma bagagem de dupla função: servir para análise do tema no país e apontar novos caminhos. Desde 1982, a premiação recebeu 2.630 projetos de 2.117 companhias nacionais e multinacionais.
Os registros permitem verificar como o setor produtivo brasileiro entrou – e evoluiu – na era sustentável. “As empresas foram incorporando o conceito e passaram a desenvolver seu próprio conhecimento no assunto”, comenta Daniela Aiach, diretora de Eventos Corporativos da Amcham e responsável pelo Prêmio Eco.
De práticas específicas, a sustentabilidade passou a influenciar a gestão toda das organizações. “Ao mesmo tempo que estamos identificando projetos eficientes, incentivamos a inovação das gestões em sustentabilidade”, diz a diretora.
Um dos pilares de sustentação dessa linha histórica é o modelo de julgamento por que passam os inscritos, pontua Daniela. Um corpo de 53 jurados especializados analisa os projetos e confere notas, que depois são enviadas às empresas, funcionando como um balizador.
Na entrevista a seguir, Daniela Aiach comenta como o prêmio também foi se transformando, ao longo das últimas três décadas, para acompanhar e incentivar a evolução da sustentabilidade empresarial no país.
A 31ª edição do Prêmio Eco está com inscrições abertas até 19 de julho de 2013. Há categorias que reconhecem tanto os projetos que relatam práticas quanto os que detalham gestões sustentáveis. Todas as informações estão no site www.premioeco.com.br. A entrega dos troféus será em 6 de dezembro.
Simei Morais: Como surgiu a iniciativa do Prêmio Eco, no começo dos anos 1980?
Daniela Aiach: A Amcham sempre atuou discutindo tudo o que é pertinente ao mundo corporativo, com reuniões constantes entre os associados, líderes e especialistas, abordando o que é tendência. Em 1982, a entidade entendeu que a sustentabilidade, na época conhecida como cidadania empresarial, faria parte significativa da vida das empresas no futuro. Entre os próprios associados ela já começava a despontar. Na época, o foco do prêmio era reconhecer as empresas que contribuíam para melhorar o bem-estar dos trabalhadores e da comunidade. Por isso o nome “ECO”, que deriva das palavras “empresa” e “comunidade”.
SM: Esse foco se alterou de alguma forma, ao longo do tempo?
DA: As empresas mudaram e o país também. A realidade se transformou na política, na sociedade e na economia. Então as relações acompanharam essa evolução. As empresas entenderam que tinham mais públicos. Logo em 1987, cinco anos depois da primeira edição do prêmio, o objetivo era chamar a atenção para os exemplos de empresas que tinham efetiva atuação social. Assim, não apenas iríamos premiar, mas também disseminar para outras empresas o conceito, dando exemplos de práticas. Nos anos seguintes, as empresas foram incorporando o conceito e desenvolvendo seu próprio conhecimento no assunto, e o termo “cidadania empresarial” passou a ser mais amplo: “responsabilidade social corporativa”. De poucos anos para cá, as empresas começaram a ir além de práticas e projetos para incorporar os conceitos de sustentabilidade na gestão. O Prêmio Eco passou então a reconhecer as duas frentes de atuação, as práticas e a gestão da empresa.
SM: O que você pode citar como exemplos práticos dessa evolução?
DA: Muitas áreas que eram contempladas com práticas de responsabilidade social empresarial na década de 1980, como educação, cultura e saúde pública, ainda o são hoje. Mas o foco das ações muda, à medida que a população avança nessas questões. Na década de 1980 e começo dos anos 1990, quando a aids era um total mistério e os índices de infectados cresciam em escala bem maior do que a de hoje, grandes empresas faziam programas de educação sobre doenças sexualmente transmissíveis e até apoiavam ambulatórios com atendimento a doentes. Hoje, o que vemos, por exemplo, são organizações que procuram funcionar sob a lógica da sustentabilidade em toda a sua cadeia, desde as compras que faz, minimizando impactos no meio ambiente, até a política de relacionamento com fornecedores, clientes e todos os outros públicos, de acordo com a realidade de cada um. Há empresas que compram materiais e serviços apenas de quem se encaixa em aspectos sustentáveis.
SM: Você diz que as empresas evoluíram e expandiram o conceito de sustentabilidade empresarial. E a percepção da sociedade, como ficou?
DA: A sociedade, em geral, já sabe cobrar seus direitos nas relações com as empresas. A própria democracia do país, que se fortaleceu, contribui para isso. E há informação em todo lugar, de diversas formas. Temos filmes famosos mostrando a ética entre as pessoas e o mundo corporativo, desde Cidadão Kane, da década de 1940, até a série Wall Street, que é bem mais recente. Estamos numa era em que a informação acontece de forma horizontal, e não mais vertical, saindo da cabeça apenas das corporações. Com tanta informação, a sociedade aprendeu a identificar os perfis das companhias e a se relacionar com elas de modo coerente com suas ações, inclusive cobrando.
SM: No início, o Prêmio Eco era reconhecimento e também um disseminador do conceito. E hoje, que relevância tem um processo como esse?
DA: O nível de relações se ampliou, tanto no business to business quanto com os demais públicos, sejam eles o interno, a comunidade ou os governos. O nível de cobrança também se ampliou em todas essas relações e, mais do que em qualquer outra época, se pede auditoria. Tudo tem de ser certificado e exposto às claras, para que se conheça o modo como o negócio é conduzido. É uma premissa muito evidente, por exemplo, quando se abre o capital: ninguém consegue captar recursos se não comprovar a sustentabilidade do negócio em toda a cadeia. Esse caráter de comprovação da saúde de uma organização permeou as relações com os stakeholders, a ponto de se criarem índices de sustentabilidade nas bolsas de valores como a de São Paulo e a de Nova York. Por isso, fomos a fundo no quesito avaliação. A Amcham faz questão de ter um extenso corpo de jurados que tenha independência em relação às empresas. Contamos com 53 especialistas, de universidades, institutos, escritórios. Nenhum se comunica com o outro sobre os projetos que avaliam. E as avaliações, em forma de gráfico aranha, são enviadas aos candidatos, após a entrega do prêmio, para que saibam como foi o desempenho de seus projetos, as médias de suas categorias e as notas dos vencedores. É um jeito, inclusive, de contribuir para a melhoria e a continuidade desses mesmos projetos inscritos. Há empresas que usam esse relatório como peça-chave no planejamento estratégico do ano seguinte.
SM: E para onde a sustentabilidade empresarial caminha, no Brasil?
DA: Esse novo modelo de gestão está se espalhando pelo país e em empresas de todo porte. Nas últimas edições, tivemos cases altamente inovadores, exemplos inspiradores para outras empresas. As organizações já se preocupam não apenas em realizar práticas pontuais, mas em viver a sustentabilidade no dia a dia. As novas lideranças já vêm com essa visão, um raciocínio contemporâneo, de que esse é o caminho para um desenvolvimento contínuo e mais justo. Percebemos que as empresas que caminham para a sustentabilidade estão mais abertas ao novo, buscam melhorias contínuas, atraem talentos, são vivas e estão em constante evolução.
Por Simei Morais, da Amcham-SP