Apresentado por Michael Porter durante a Conferência Ethos, o Índice de Progresso Social tenta ir além do IDH e do Índice de Qualidade de Vida da OCDE.
Por Sérgio Mindlin*
A Conferência Ethos 2013, que se realizou entre 3 e 5 de setembro, teve, entre outros destaques, a apresentação, na América Latina, do Índice de Progresso Social (IPS). Concebido pelo professor de Harvard e “guru” da competitividade Michael Porter, esse índice apresenta um ranking de 50 países que foram classificados de acordo com dados obtidos de 52 fontes, agrupadas em três categorias principais: Necessidades Humanas Básicas; Fundamentos de Bem-Estar; e Oportunidades. A pontuação varia de 0 a 100, sendo 100 o melhor resultado.
Em Necessidades Humanas Básicas, foram avaliados indicadores de nutrição e cuidados médicos básicos; moradia; ar, água e saneamento; e segurança pessoal; em Fundamentos de Bem Estar, entraram: Sustentabilidade dos Ecossistemas; Acesso ao Conhecimento Básico; Acesso à Informação e Comunicação; e Saúde e Bem-Estar. Os indicadores de Oportunidades foram: Tolerância e Respeito; Liberdades Individuais; Direitos Individuais; e Acesso a Educação Superior.
Cada um desses indicadores ainda possui subindicadores, totalizando os 52 temas avaliados pelo Índice de Progresso Social.
A segmentação foi feita com o objetivo de transformar o Índice numa ferramenta prática de políticas públicas e inovação social, de forma a dar a dimensão necessária para análise, e não apenas um ranking de classificação.
Para cada um dos componentes do IPS, a equipe que o elaborou e desenvolveu buscou inúmeras fontes adequadas, e o indicador só foi escolhido se atendesse a dois critérios: a validade interna (o indicador captura a dimensão que se propõe medir); e a disponibilidade geográfica (o indicador está disponível e está relativamente atualizado em todos ou ao menos em boa parte dos países avaliados).
Para Porter, o Índice de Progresso Social veio suprir a necessidade de os países verificarem em que estágio se encontram em relação aos temas abordados por ele. O professor de Harvard sustenta que o crescimento econômico não é suficiente para medir o progresso dos países e tampouco dados ambientais e sociais isolados.
O Indice de Progresso Social tenta ir além do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e do Índice de Qualidade de Vida da OCDE. Estes últimos agregam dados sociais e educacionais ao PIB, não permitindo verificar qual é a causa e qual é a consequência de uma alteração social importante num país.
A única maneira de entender a associação entre desenvolvimento econômico e progresso social é excluir os indicadores econômicos da medição do progresso social. Partindo dessa premissa, o IPS constatou que o crescimento econômico nem sempre traz progresso social e mesmo países ricos estão mal avaliados no quesito necessidades básicas.
Então, vamos analisar alguns resultados, começando pelo Brasil.
O Brasil ficou em décimo oitavo lugar entre as cinquenta nações avaliadas, com 52,3. Foi o melhor entre os BRICs, sigla que representa os cinco países emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa, em inglês). Foi também o colocado na América Latina. Na região, estão à nossa frente a Costa Rica, o Chile e a Argentina, nessa ordem.
O primeiro lugar no IPS foi da Suécia, que obteve 64,8 pontos dos 100 possíveis. Convenhamos, um desempenho apenas regular. Esse país não teve desempenho superior a 73 pontos em nenhum indicador.
O Brasil superou a Suécia em Sustentabilidade dos Ecossistemas – 54,59 contra 45,61; e em igualdade e inclusão – 69,23 contra 66,04. Mas, de modo geral, vai precisar avançar muito para tirar a diferença e chegar ao mesmo desempenho nos outros indicadores.
A grande diferença entre Brasil e Suécia é a segurança pessoal. Nesse item, a Suécia é líder mundial e o Brasil é o 46º do mundo. Em termos de necessidades básicas, esse é o grande desafio que o Brasil precisará superar nas próximas décadas. Outras demandas importantes para o país mostradas pelo índice são: acesso e cuidados médicos de qualidade, respeito às mulheres e acesso à educação superior, entre outros.
O Brasil também precisa preservar seu bom desempenho em sustentabilidade dos ecossistemas.
O papel da empresas
Segundo Porter, o Índice de Progresso Social permite que as empresas monitorem os avanços e as demandas das regiões onde elas atuam, permitindo, com isso, que sejam internalizadas no planejamento estratégico as questões relativas à sustentabilidade.
O progresso social é a capacidade de os países construírem políticas públicas que vão ao encontro das necessidades humanas básicas de todos os cidadãos. Essa foi a definição dada por Porter, que complementou que as empresas são detentoras de conhecimento, tecnologia e visão e não podem se omitir em participar das comunidades e países em que estão inseridas. São indutoras de progresso social e precisam participar, criar e compartilhar valores, inovações sociais e soluções.
Por isso, os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis, a nova geração dos Indicadores Ethos também lançada durante a conferência, vai buscar alinhamento e interação com o IPS para verificar o seu impacto em relação aos indicadores que esse índice avalia.
* Sérgio Mindlin é presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos.
Foto de Clóvis Fabiano