Carlo Pereira destaca parceria entre Ethos e Pacto Global

O secretário Executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Carlo Pereira, aborda projetos a serem administrados à frente da secretaria assumida recentemente. Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estão no foco de suas ações, bem como potencializar a parceria com o Instituto Ethos e o atendimento às demandas do setor privado.

Ethos: Quais são suas perspectivas à frente da Rede Brasil do Pacto Global?
Carlo Pereira: As perspectivas em assumir a Secretaria Executiva de uma iniciativa como a Rede Brasil do Pacto Global são muito boas. Com uma experiência de vários anos com o Pacto Global da ONU do lado das empresas, posso dizer que o seu papel é muito importante no apoio ao setor privado brasileiro rumo à sustentabilidade, especialmente após o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em 2015. Tem ficado cada vez mais claro que empresas que trazem uma agenda global como os ODS à sua estratégia de negócios identificam novas e promissoras oportunidades de negócios, aumentam o valor da sustentabilidade corporativa, fortalecem a relação com seus stakeholders e aumentam a chance de influenciar positivamente as políticas públicas. Nesse sentido, ao assumir a Secretaria Executiva de uma iniciativa vinculada às Nações Unidas e, consequentemente, guardiã dos ODS, seguirei com o propósito de engajar empresas comprometidas com valores universais. Não posso deixar de falar da contribuição que as instituições participantes do Pacto Global vêm deixando para a sociedade. A iniciativa foi idealizada pelo ex-secretário das Nações Unidas, Kofi Annan, e lançada em 2000. Em 17 anos, quase 10 mil empresas de mais de 160 países se mobilizam para criar negócios com foco na sustentabilidade do planeta e em prol da qualidade de vida das pessoas. Nossos Dez Princípios, derivados de declarações e convenções da ONU, abrangem as áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e anticorrupção. No Brasil, nossa rede ultrapassa os 700 signatários e somos a quarta maior do mundo.

Ethos: Quais os principais desafios e oportunidades?
Carlo Pereira: A implementação dos ODS é o grande desafio até 2030. A ONU advoga que a Agenda 2030 é de todos e que ninguém pode ficar para trás. Ao dizer isso, ela reforça que nenhum ator é capaz de alcançar isoladamente o conjunto dos 17 ODS e suas 169 metas. Sendo assim, o setor privado representa uma peça essencial nesta engrenagem, e, para tanto, as empresas deveriam buscar trazer os ODS para suas estratégias. É importante salientar que a organização pode começar trabalhando com um único – ou alguns – ODS, talvez aquele(s) que tenha(m) uma relação mais direta com seu core business. Mas é essencial identificar como o(s) ODS escolhido(s) pode(m) afetar os outros, ou seja, não se deve perder a visão sistêmica de que todos estão interligados. Para instrumentalizar as empresas e organizações signatárias, a Rede Brasil do Pacto Global criou o GT ODS para elaborar metodologias de aplicação no cotidiano das organizações e o tema perpassa todas as outras nossas atividades. Por meio da disseminação e da capacitação em torno desta nova agenda, o grupo busca estimular a ação transformadora e necessária por parte do setor privado para a Agenda 2030. O GT ODS atua em parceria com outras organizações e coalizações, com as quais compartilha o desafio de engajar o setor privado brasileiro. O primeiro grande resultado do GT foi o estudo Integração dos ODS na Estratégia Empresarial – Uma Contribuição do Comitê Brasileiro do Pacto Global para a Agenda 2030. Com o propósito de conhecer os esforços e os desafios das empresas do CBPG frente à implementação do 17 Objetivos, nossa ambição foi identificar a maturidade da amostragem dentro dos cinco passos recomendados pelo SDG Compass – o Guia dos ODS para as Empresas, lançado em 2015 pelo UN Global Compact, World Business Council for Sustainable Development  (WBCSD) e Global Reporting Initiative (GRI) no âmbito global e traduzido para o português pela Rede Brasil em parceria com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Ethos: O Instituto Ethos e Pacto Global tem um longo histórico de parceria. De que forma você entende que podemos fortalecer ainda mais essa ação conjunta?
Carlo Pereira: A relação entre a Rede Brasil do Pacto Global e o Instituto Ethos é longeva, uma vez que a iniciativa foi criada em 2003 no âmbito do Ethos. Portanto, acreditamos que ambas as instituições compartilham dos mesmos princípios e valores. Pelo fato de termos uma agenda comum, a ideia é que possamos potencializar esta parceria. O Ethos é integrante do Comitê Brasileiro do Pacto Global (CBPG), instância responsável pela gestão da Rede Brasil composta por empresas de referência em sustentabilidade e líderes em setores estratégicos da economia brasileira, cujos representantes se reúnem bimestralmente para a tomada coletiva de decisões. Trata-se de um grupo dedicado à promoção tanto dos Dez Princípios quanto dos ODS. Já temos alguns projetos conjuntos. Na área de conformidade e anticorrupção, o Ethos participa do nosso GT Anticorrupção e integra o conselho consultivo do projeto de Ações Coletivas de Combate à Corrupção. No nosso caso, somos integrantes do comitê gestor do Ethos para o Plano de Integridade, que propõe uma agenda pública para o tema. Na temática de direitos humanos, participamos da Coalizão de Direitos Humanos e Empresas, com reuniões organizadas pelo Ethos desde o final de 2016. Além disso, o Ethos é integrante do nosso GT ODS e estamos juntos na Iniciativa Empresarial em Clima (IEC), que congrega outras organizações. E não posso deixar de mencionar a eleição do Ethos como um dos representantes da sociedade civil da Comissão Nacional dos ODS, instituída pelo Governo Federal com finalidade acompanhar, internalizar, interiorizar e difundir o processo de execução da Agenda 2030.  Isso reforça a importância de as duas organizações atuarem em sintonia para acompanhar a contribuição que cabe ao setor privado para o alcance dos Objetivos Globais.

Ethos: Devido à atual conjuntura, que temas são prioritários para o setor privado brasileiro na agenda da sustentabilidade?
Carlo Pereira: Nos últimos anos, a Rede Brasil do Pacto Global tem se debruçado em atender as principais demandas do setor privado, tendo em vista as especificidades e os desafios da cidadania corporativa no Brasil. Sendo assim, os Grupos Temáticos vêm trabalhando os temas mais prementes para as empresas signatárias, com a implantação de projetos que trabalhem temas transversais, criando maior sinergia entre as iniciativas. Além do GT ODS que, como disse, foi criado para dar suporte às organizações na implementação dos ODS em suas estratégias, temos GTs nas seguintes temáticas: Água, que foca suas atividades na sensibilização e capacitação das empresas sobre a gestão corporativa de recursos hídricos; Alimentos & Agricultura, idealizado para promover os seis Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA), voltados à segurança alimentar; Anticorrupção, com ênfase na dimensão ética e de boa governança da sustentabilidade; Direitos Humanos & Trabalho, que se dedica a discutir o papel das corporações na garantia dos direitos humanos, e Energia & Clima, com uma agenda voltada para a sensibilização sobre questões de eficiência energética e precificação de carbono. E ainda temos a Comissão de Engajamento e Comunicação (CEC), que busca a participação ativa dos setores de comunicação dos signatários. Convido as empresas e demais organizações associadas ao Ethos a se juntarem a nós. O principal compromisso é com a publicação de um relatório, que mostra como a organização está envolvida com a aplicação dos Dez Princípios. Confira as instruções para adesão e acesse o nosso Relatório Anual para saber o que fizemos em 2016.

 

Por Rejane Romano, do Instituto Ethos

Foto: Pacto Global