O relatório integrado almeja ser entendido por todos os stakeholders e, com isso, tornar-se o principal meio de comunicação da empresa.
Por Sérgio Mindlin *
Os relatórios são publicações que apresentam resultados e metas das empresas e são também importantes referências para a tomada de decisão de investidores.
O movimento mundial é de inclusão, nesses relatos, de aspectos socioambientais, além dos econômico-financeiros, demonstrando o entendimento de que governança corporativa e o tripé da sustentabilidade também são elementos-chave para a decisão de investimentos e a precificação dos ativos financeiros.
No entanto, ainda não se chegou a uma definição de como deve ser a integração dessas informações.
O relatório de sustentabilidade sozinho costuma ser criticado por suspeita de apenas criar uma imagem “verde” da companhia, sem que tenha havido de fato melhoria no desempenho social e ambiental dela. O tradicional demonstrativo econômico – financeiro também vem sendo alvo de desconfianças desde 2008 quando várias companhias apresentaram relatos de gordos lucros e dias depois faliram.
A nova alternativa que está se desenvolvendo passo a passo é o relatório integrado que, aos unir finanças e sustentabilidade, pretende corrigir as falhas que os dois modelos apresentam, quando construídos individualmente, e retratar a empresa a empresa de maneira mais completa, sistêmica.
Diferente do relatório de finanças, que não é compreensível para leigos, o relatório integrado almeja ser compreendido por todos os steakholders e, com isso, tornar-se o principal meio de comunicação da empresa com: investidores, governos e sociedade.
Integrar finanças e informações socioambientais e éticas traz desafios para a contabilidade das empresas no Brasil. Ela está preparada para enfrentá-los? Aliás, as empresas estão levando a sério a sustentabilidade?
Essas e outras questões foram discutidas durante a Conferência Ethos 2013, particularmente na atividade “Contabilidade imperfeita: custos e perdas de oportunidades resultantes da não integração das dimensões social, ambiental e ética nos negócios”.
O foco dessa atividade foi discutir em que medida a não inclusão dos custos socioambientais e éticos no balanço destroi valor da empresa; e a inclusão dessa dimensão pode gerar oportunidades lucrativas, e capitalizar negócios mais competitivos.
Estiveram presentes Vânia Borgerth, assessora especial da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM, e Márcio Pochman, professor da Unicamp.
Entre as conclusões mais importantes do debate estão:
– o mercado quer saber mais do que o lucro e o prejuízo das empresas. Por isso, é preciso adicionar as informações sobre governança e responsabilidade socioambiental para dar transparência à maneira como uma determinada empresa é gerida.
– a ética precisa ser expressa não só nas boas práticas de governança relatadas no relatório de sustentabilidade, como também nos padrões de contabilidade utilizados nos relatórios financeiros. Por isso, é interessante fazer uso do padrão IFRS, sigla em inglês para International Financial Reporting Standards são normas adotadas em 2003 pelas empresas europeias e acolhidas internacionalmente em 2008 pela comunidade financeira (inclusive o Brasil) com o objetivo de harmonizar demonstrações financeiras consolidadas.
– integrar as dimensões socioambiental e ética à econômico-financeira permite obter conhecimento sobre o negócio e, com isso, enxergar novas oportunidades para a empresa, novos processos, novas tecnologias, novas parcerias, mecanismos públicos e multilaterais. Por exemplo, ao levantar o impacto no meio ambiente, a empresa pode verificar que pode gastar menos matéria-prima, recuperar a água dos processos industriais e transformar resíduos em insumos.
Há uma iniciativa internacional para relatórios integrados, organizada pela International Integrated Reporting Council (IIRC), entidade que promove a integração entre as informações financeiras, de sustentabilidade e de governança em relatórios corporativos.
Segundo a proposta apresentada pelo IIRC, os princípios fundamentais para a elaboração do relatório integrado devem ser: foco na estratégia e orientação para o futuro; conectividade das informações; capacidade de resposta aos stakeholders; materialidade e concisão; coerência e comparabilidade.
A proposta prevê que as empresas incluam em seus relatos, além do capital financeiro, informações sobre os capitais intelectual, manufaturado, humano, social e de relacionamento, e natural. O Brasil é o terceiro maior país participando com nove empresas participantes. A ideia é lançar em dezembro deste ano o resultado dessa experiência.
Indicadores Ethos
Como fazer para integrar as informações financeiras com aquelas socioambientais e éticas. Uma boa maneira é respondendo a nova geração dos Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis.
Eles ajudam a empresa a dar um passo adiante no processo de transformação na maneira de fazer negócio: integrar os princípios da RSE com aqueles da sustentabilidade nas várias estratégias do negócio: Marketing, Finanças, Gestão de Pessoas, Planejamento, etc.
A nova geração de Indicadores Ethos reforça o papel da empresa como agente de transformação social, combinando desempenho com as mudanças a fazer.
Os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis e Responsáveis – Nova Geração vão permitir que a empresa faça seu planejamento buscando tanto o resultado para si quanto para os públicos interessados. É uma ferramenta que dá a chance de colocar o negócio contribuindo para cidades mais sustentáveis e para o progresso do país.
* Sérgio Mindlin é presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos