Enquanto países pobres temem ficar sem o medicamento, Nações Unidas insiste na solidariedade global

“Ainda não me recuperei totalmente e meu corpo continua fraco. Tenho os pés inchados e se ando mais do que dez minutos, fico suando e com falta de ar. Apesar disso, eu voltei ao trabalho”.

As palavras são de Hasna Gul, trabalhadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Paquistão, que pegou uma forma severa da Covid-19 enquanto preparava uma campanha de vacinação contra a poliomielite, que tem por objetivo proteger 800 mil crianças vulneráveis.

A experiência com a pólio demonstra que ela não tem dúvidas de que as vacinações são um benefício para a humanidade. “Sei da importância da vacinação desde cedo. Lembro da minha mãe falando para mim e para meus irmãos que deveríamos completar nossas vacinações”, ela conta.

Vacina do povo

Sem cura e com poucos tratamentos disponíveis para pessoas como Hasna no início deste ano, não é à toa que a vacina contra a Covid-19 foi recebida com um grande alívio quando o medicamento foi aprovado para uso no Reino Unido e outros países no início de dezembro, com altos níveis de efetividade relatados.

No entanto, muito antes deste anúncio, o chefe da ONU, António Guterres, já insistia, em junho, que as vacinas contra a Covid-19 deveriam estar disponíveis para todos e não apenas para países mais ricos: “Achar que podemos preservar os ricos e deixar os pobres sofrerem é um erro estúpido”.

O otimismo cresceu em setembro, com o início da COVAX, um plano implementado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para dividir os riscos e custos do desenvolvimento da vacina e dar às populações dos países participantes – especialmente os de baixa renda –um acesso mais precoce: é esperado que a iniciativa distribua cerca de dois bilhões de doses de vacina até o fim de 2021.

Em novembro, o UNICEF divulgou uma operação gigantesca para entregar vacinas em 92 países, em colaboração com mais de 350 parceiros, incluindo as maiores companhias aéreas, linhas de navegação e associações logísticas de todo o mundo.

A OMS comemorou a velocidade sem precedentes com que as vacinas estão sendo produzidas: em dezembro, mais de 150 candidatas estavam em diversos estágios de desenvolvimento.

Olhando para 2021, está claro que mesmo com o extraordinário potencial da parceria COVAX, muitas pessoas, em especial no mundo em desenvolvimento, não serão vacinadas ao longo do ano e ainda terão risco de contrair a Covid-19. Apesar disso, a OMS declarou, em dezembro, que o fim da pandemia está a caminho.

Espera-se que até a metade do próximo ano a COVAX tenha distribuído doses suficientes para proteger os trabalhadores em saúde e assistência social em 190 países participantes que solicitaram o medicamento. Todos os outros participantes devem ter doses para cobertura suficiente de 20% de suas populações até o fim de 2021 e mais doses em 2022.

Desinformação

Espera-se que a desinformação sobre a pandemia continuará em 2021, com informações falsas sobre a vacina contra a Covid-19, um problema que já existe hoje.

Antes mesmo da pandemia ser declarada, a ONU tinha crescente preocupação com a desinformação, a partir de infundados rumores de que o vírus tinha se alastrado a partir de nuvem infecciosa e, em maio, reforçando os esforços de comunicação com o lançamento da iniciativa Verificado. A campanha tem por objetivo combater mentiras e mensagens distorcidas com informação confiável e acurada sobre a crise. Ela continuará em 2021 para lutar contra os contínuos rumores contra a vacinação.

Evitando a próxima pandemia

A Covid-19 desencadeou miséria e ruptura para milhões de pessoas, levando muitos a olhar para os livros de história e a Gripe Espanhola de 1918, para encontrar algum tipo de comparação, em termos de escala e gravidade.

Mas há alguns medos reais, no entanto, de que tais pandemias não são eventos que acontecerão a cada 100 anos. Em junho, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) alertou que o mundo poderia esperar mais doenças passando dos animais para os seres humanos, citando uma crescente demanda por carne, práticas agrícolas insustentáveis e a crise climática global.

A questão que a comunidade internacional precisa responder é como limitar o alastramento de tais doenças para que elas não mais atravessem o globo. Em outubro, a ONU propôs recomendações para governos nacionais, especialmente em cobertura universal de saúde, para construir sólidos sistemas públicos de saúde e medidas preparatórias de emergência.

A mensagem é que não há solução fácil: vacinas são incrivelmente importantes, mas elas não são uma bala de prata e não podem ser substitutas de boa governança e efetiva cooperação internacional.

Por: ONU Brasil

Foto: NIH