Iniciativa internacional de criar os Princípios para Sustentabilidade em Seguros visa posicionar o setor como impulsionador do desenvolvimento sustentável.
Por Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos
A Rio+20 não se resumiu às discussões de diplomatas e chefes de Estado e de governo sobre um documento de compromissos entre países. A conferência também foi palco de várias iniciativas que já estão em andamento e devem contribuir decisivamente para fazer avançar a economia no rumo do desenvolvimento sustentável.
Uma dessas ações foi o lançamento, no último dia 19 de junho, dos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI – Principles for Sustainable Insurance), um compromisso entre as 30 maiores seguradoras mundiais e a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep-FI, na sigla em inglês) com o objetivo de fornecer ferramentas de seguro para a gestão de riscos em apoio à sustentabilidade ambiental, social e econômica. Tais princípios destinam-se também a posicionar o setor de seguros como um impulsionador do desenvolvimento sustentável.
Essas 30 seguradoras representam US$ 3,5 trilhões em ativos e perto de 10% do volume mundial bruto de prêmios. Todo o setor de seguros tem mais de US$ 24 trilhões em ativos sob sua administração e um volume mundial bruto de prêmios de US$ 4 trilhões. Por isso, tem condições de ser uma das molas propulsoras do desenvolvimento sustentável.
Adesão voluntária
Os PSI são resultado de um processo global de seis anos de elaboração, conduzido pelo Unep-FI, contando com a participação de representantes das principais seguradoras. A adesão a eles é voluntária, mas, uma vez comprometida, a seguradora precisa apresentar relatórios anuais com ações adotadas para o cumprimento de cada princípio. A expectativa é de que as seguradoras apresentem novos produtos, como o seguro residencial que terá, entre suas cláusulas, a obrigatoriedade de o segurado frequentar cursos de reciclagem, de educação ambiental e de reutilização da água, principalmente nos grandes empreendimentos. Esses cursos devem ser oferecidos pelas próprias seguradoras.
São quatro os Princípios para Sustentabilidade em Seguros:
1. Incluir no processo de tomada de decisões as questões ambientais, sociais e de governança;
2. Atuar em conjunto com os segurados para aumentar a conscientização sobre as questões ambientais, sociais e de governança;
3. Trabalhar junto com o governo e órgãos reguladores para promover ações coletivas no gerenciamento de questões ambientais, sociais e de governança;
4. Demonstrar responsabilidade e transparência na implementação desses princípios.
Eles surgiram de um processo global pioneiro, inclusivo e consultivo, envolvendo mais de 500 altos representantes do setor de seguros, governos, órgãos reguladores, organizações intergovernamentais e não governamentais, associações do setor, universidades e a comunidade científica. Baseiam-se nos Princípios para o Investimento Responsável (PRI), lançados em 2006 pela Unep-FI e pelo Pacto Global da ONU para o setor de investimentos. Hoje, mais de 1.000 investidores de 50 países, representando mais de US$ 30 trilhões em ativos administrados, adotaram os PRI em todas as regiões e classes de ativos e estão construindo mercados de capitais sustentáveis.
Os PSI no Brasil
O mercado segurador brasileiro aderiu aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros por meio da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), que se tornou signatária dos PSI e, assim, assumiu um compromisso público do setor com o desenvolvimento social e econômico sustentável do planeta.
Uma pesquisa realizada pela CNseg, com o apoio da BSD Consulting, durante o último mês de maio, avaliou o alinhamento das práticas atuais do mercado brasileiro aos valores que orientaram a formulação dos PSI.
As 28 empresas que responderam à pesquisa representam 87% do volume de arrecadação do mercado. Entre elas, 71% afirmaram conhecer os PSI e 54% já contam com uma gerência e um comitê de sustentabilidade. Quase metade (43%) consideram os aspectos ambientais, sociais e de governança (ASG) como parte do processo de desenvolvimento de produtos.
A pesquisa constatou que 32% das empresas buscam compreender com os especialistas os novos modelos de análise que levam em conta aspectos ASG na avaliação de riscos e na aplicação em seus produtos; 71% atuam continuamente na redução do processo burocrático para análise de sinistro; e 54% elaboraram algumas mensagens-chave e campanhas para o marketing relativo a temas ASG.
De acordo com os dados da pesquisa, 29% elaboram diretrizes corporativas envolvendo a alta administração. A maioria (71%) atua continuamente na redução do processo burocrático para análise de sinistros. A inclusão de critérios sociais, ambientais e éticos na política de investimentos é estudada por 43%.
Quase metade (46%) criou formas de comunicação com o cliente para divulgar suas ações sociais ou ambientais por meio dos produtos; 36% possuem políticas de seleção e avaliação de fornecedores conhecidas pelas partes e baseadas somente em fatores como preço, qualidade e prazo; e 32% incluem aspectos ASG em contratos ou na seleção e avaliação de fornecedores.
Do total de empresas avaliadas na pesquisa, 43% verificam e incluem em contratos com prestadores de serviços critérios e exigências relativas aos cumprimentos da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal. E 32% informam publicamente sua postura relacionada aos aspectos ASG, por meio de relatórios anuais ou de sustentabilidade. Com relação à comunicação, 36% disponibilizam informações específicas sobre aspectos ASG para sensibilizar corretores via seus canais de comunicação ou cartilhas. E 32% dialogam no âmbito das entidades de classe sobre temas ligados à sustentabilidade e à responsabilidade social.
29/6/2012